Adeus, Paulo Renato!  

 

Diz o ditado, enquanto há vida há esperança. Dizem os físicos, há ordem no caos. Disse Dom Helder, é na queda que o rio cria energia. Podem os Professores da Universidade Federal dizer que, apesar de toda a crise que a atinge, continuaremos bravamente defendendo-a, desmascarando toda espécie de inimigos do ensino público superior e da pesquisa nacional.

A extinção das Instituições Federais de Ensino Superior foi deliberada e ardilosamente preparada pelo Governo que agoniza, exigência do Banco Mundial e do FMI. Por que ao invés de tentar privatizar, ou destruir a Universidade Pública Nacional, não se promoveu uma ampla discussão sobre a mesma? Não! Sórdida e covardemente, a sucatearam, a desmoralizaram. Mas nós, professores, servidores e alunos, com muita galhardia, não permitimos que ela fosse extinta. Saiba, sr. ministro, que a globalização, agenciada por agiotas internacionais e nacionais, quem de fato mandou no seu Governo, é apenas eufemismo ou versão moderna de colonização. Querem relegar ao Brasil um papel periférico, sem indústrias, sem pesquisa, sem tecnologia, servindo apenas como grande entreposto de serviços e de turismo, de preferência turismo sexual. Este último, imbricado ao tráfico de drogas, à violência, à prostituição. Saiba também que 90% da produção científica nacional está na Universidade Pública! Como pode qualquer país sobreviver sem pesquisa e tecnologia próprias? O que estiveram o sr. e o seu Governo angariando com esta política entreguista e suicida? O que me dizer destas frases, sr. ministro: 1-" É muito mais barato comprar tecnologia que produzí-la"; 2- "A ênfase no ensino universitário foi característica de um modelo de desenvolvimento auto-sustentado que demandava criar pesquisa e tecnologia próprias (...) hoje este modelo está em agonia terminal"; 3- "Ao contrário das estaduais paulistas, nas federais a titulação dos professores era uma porcaria. Não quero generalizar, mas quem está se aposentando são esses velhos que nãovaliam nada"; 4- "... A universalização do ensino básico e a freagem da universidade federal"; 5- "Se a pessoa não consegue produzir, coitado, vai ser professor". Elas poderiam muito bem ter sido pronunciadas por um inimigo nacional, um ditador, um terrorista. Em se tratando de um ex-reitor e ex-presidente de Associação Docente, também de um traidor. Por mais incrível que pareça, pertencem a: Malan (frase 1, no Centro Josué de Castro, Recife, 1998); Paulo Renato (frases 2 e 3, Revista Exame, em 10 de junho de 1996 e Revista Época, em 20 de julho de 1998); e FHC (frases 4 e 5, em "Gobernabilidad: um reportage de América Latina". México: PNUD/Fondo de Cultura Economica, 1997 e na entrega do Prêmio Nacional do FINEP, Brasília, 2001).

O senhor teve a audácia de dizer que em vez de aplicarmos recursos na pós-graduação brasileira, seria mais econômico remeter nossos jovens para os cursos oferecidos por Harvard, Cambridge e outros tantos. Que vilipêndio! Declarou também  que a Universidade Federal desapareceria nospróximos cinco anos. Que lesa-pátria! Não, sr. ministro, nos próximos cinco anos ela se consolidará, dando um salto de qualidade, renovando a esperança na construção de um novo Brasil, apesar do tudo de ruim que você fez a ela, o que ainda poderá repercutir por meses ou até anos.

Como bem escreveu Roberto Romano, a grande Imprensa foi conivente com este verdadeiro demolidor do ensino superior nacional. As investidas do ministro contra o Brasil recebeu largo espaço e complacência da mídia, mesmo quando ele se dedicou à pura e simples calúnia e difamação dos seus colegas acadêmicos que ainda desejam um futuro digno para a nossa pátria.

Por fim, sr. ministro, lembra do pedreiro Severino? Pois não é que o Severino, vítima infeliz do analfabetismo, passou no vestibular, e em nono lugar, com redação e tudo, na pseudo-universidade que o sr. idealiza e incentiva. Haverá um dia no Brasil, sr. ministro, em que os "severinos", retirantes ou não, entrarão, de fato, numa universidade pública, gratuita e de qualidade. Pesquisar, sim! E ensinar, sempre! Para que o povo, instruído e informado, não mais eleja elementos que, com cinismo escancarado, tentam impedir a soberania educacional e tecnológica do Brasil. Parodiando Brecht, há homens completamente prescindíveis. E governos também!

 

Fonte:  Diário de Pernambuco, 19/12/2002 - Recife PE - Luiz Gonzaga de Castro

 

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