A perspectiva das vítimas

Isolamento social não é a melhor saída para quem sofre com o bullying 

"Para as vítimas de bullying, a escola passa a ser um tormento. Esses alunos vão à escola sabendo que serão agredidos física e moralmente pelos colegas. Por causa disso, a maior preocupação nesse momento é a de se defender, e não a de aprender", afirma o pediatra da ABRAPIA (Associação Brasileira de Proteção à Infância e à Adolescência) Aramis Lopes. Ele afirma que a queda do rendimento escolar das vítimas é um fator muitas vezes constatado em casos de bullying - já que, por causa da angústia da situação, o adolescente pode não conseguir aprender da maneira que deveria.

Além disso, o bullying é hoje investigado como uma das causas da evasão escolar no Ensino Médio. Tudo isso por que ele pode provocar nas problemas como ansiedade, tendência para o isolamento e inabilidade no convívio social. Essas características podem prejudicar também a vida universitária e profissional das vítimas das agressões, que não têm segurança para se posicionar perante novos círculos sociais. "Tem uma propaganda que mostra a seguinte situação: numa sala de reunião, todos são questionados sobre qual é a solução para atingir as metas das empresa. Enquanto um dos funcionários fica pensando 'é exportar, é exportar, será que eu falo, será que não falo', o outro diz 'exportar' e é logo parabenizado pelo chefe. O primeiro funcionário é o retrato do que pode acontecer com uma vítima de bullying no mercado de trabalho", explica Lopes.

Lopes acredita que é muito pouco provável uma vítima dessa prática reverter o quadro de agressão sem que haja a conscientização dos seus colegas, pais e professores. "Se um estudante fica na posição de vítima, é porque por algum motivo ele se sente incapaz de reagir a essa situação". Apesar disso, se você é ou já foi vítima de bullying, e hoje sente que a sua relação com os outros estudantes pode prejudicar o seu desempenho na escola - e também na vida acadêmica que vem por aí -, é possível adotar algumas estratégias para contornar esse problema: 

  • Para manter a auto-estima lá no alto, é interessante fazer amizade com um grupo receptivo e tolerante com as diferenças. Não é preciso se isolar no colégio para resolver o problema - encontrar amigos que não sejam agressivos e violentos é possível e essencial para as vítimas de bullying manterem um relacionamento interpessoal saudável na escola e na vida.

  • O apoio do grupo pode ser decisivo para as vítimas de bullying. Quando os colegas não tomam uma atitude de defesa da vítima, eles passam a ser incentivadores da agressão. Cobre da sua escola a existência de um programa de conscientização sobre esse tema.

  • Conversar sobre ocorrências do bullying com os professores e coordenadores da sua escola pode criar uma situação delicada. "A escola muitas vezes apenas repreende o agressor, identifica a vítima que o delatou e, pior ainda, promove a acareação entre os dois, o que pode colocar o adolescente-vítima numa situação ainda pior". Portanto, vale a pena procurar por um colega ou professor que seja mais receptivo aos problemas dos alunos. Serenidade e calma ajudam na hora de expor a situação para os pais - é melhor incentivar uma parceria entre eles e a escola do que promover um clima de guerra entre os dois.