MEC alerta para "apagão" no Ensino Médio

 

A falta de professores na Educação Básica em todo o País acendeu o alerta vermelho no Ministério da Educação (MEC). Preocupado com o que definiu em relatório como ameaça de um "apagão do Ensino Médio", o ministério instituiu uma comissão especial para estudar medidas em caráter emergencial a fim de superar o déficit de 710 mil professores - 78 mil no Rio - para turmas de 5ª a 8ª série e do Ensino Médio, sobretudo nas disciplinas Física, Química, Matemática e Biologia. O risco do agravamento da falta de mestres é tão sério que o problema se tornou prioridade do governo federal neste semestre.

Segundo o Conselho Nacional de Educação, autor do documento elaborado em maio, há pouco interesse dos jovens pela profissão devido a baixos salários, violência nas escolas e superlotação nas salas. Assim como na crise aérea - agravada pela popularização das viagens de avião -, o ensino vive fase de grande expansão de matrículas: 5,6 milhões em 1998 para 8,9 milhões em 2004. Da mesma forma, os baixos salários e o estresse têm provocado o êxodo de profissionais da aviação e do magistério. Para completar o caos, as vagas abertas com a evasão de mestres e controladores não são preenchidas na quantidade ideal. O resultado são milhares de pessoas sem acesso ao serviço, o que, no caso de estudantes, pode condenar a educação brasileira.

Um retrato fluminense da crise nacional do magistério é a maior universidade do Rio. Ano passado, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) formou 69 professores para lecionar nas quatro disciplinas críticas: 40 em Química, 12 em Física, 11 em Matemática e apenas 6 em Biologia. Só nessas quatro matérias a carência no Brasil é de 272.237 mestres.

No relatório são apresentadas propostas para serem adotadas por escolas e universidades brasileiras. De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, o Brasil corre sério risco de ficar sem professores de Ensino Médio na rede pública na próxima década. "A escassez de profissionais já é assunto de decisão estratégica do governo. Não podemos mais continuar formando 5 ou 10 professores", diz Clélia Brandão Alvarenga, presidente da Câmara de Educação Básica.

Os números do relatório do MEC são alarmantes. Algumas disciplinas formaram, em 10 anos, metade do número necessário de professores para cobrir a demanda nacional. Matemática é um dos exemplos mais preocupantes e revela uma crise nacional que está prestes a estourar. De 1990 a 2001, em todo o País, foram licenciados apenas 55.334 professores de Matemática. A carência de docentes da matéria no Brasil chega a 106.634.

Além do número insuficiente de profissionais que se formam anualmente, há ainda os que concluem o curso mas desistem do magistério no início da carreira. Leonardo Moraes é um caso típico de que o sonho de ser professor e a paixão pela sala de aula não são mais suficientes, e um número cada vez maior de docentes abandonam o quadro negro para seguir carreiras mais promissoras. Aos 24 anos, ele está largando as turmas de Matemática do Ensino Médio. "Fiz faculdade por vocação. Queria ser professor e me sentia realizado dentro da sala de aula. Dei aula por dois anos. Mas essa bagunça na rede estadual, as condições precárias das escolas, a falta de estrutura mínima para darmos uma aula decente e o salário que não paga nem as contas, ninguém agüenta", desabafa.

Leonardo reduziu a carga horária e está dando aulas só à noite. Usa o resto do tempo para enviar currículos e estudar para concurso. Seu objetivo agora é mudar de área: "a urgência é ter um emprego que me dê retorno financeiro. Mas vou fazer vestibular para Engenharia. É uma carreira valorizada, com chances melhores".

O déficit de mestres na rede estadual, onde se concentram 85% das matrículas do Ensino Médio, coloca em desvantagem seus candidatos ao vestibular. Dos 13.500 postulantes oriundos da rede pública que se inscreveram no Vestibular 2007 da Universidade Federal Fluminense (UFF), apenas 4,5% conseguiram de fato ingressar na instituição. Mesmo assim, estudantes das públicas passaram para cursos menos concorridos, como as licenciaturas.

A crise no ensino brasileiro compromete a formação de novos mestres. José Carlos da Conceição, 35 anos, cursa o último ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Visconde de Itaboraí (Cevi), em Itaboraí, e até hoje não teve aula de Matemática. Por triste ironia, José Carlos quer ser professor da disciplina, mas está tendo que estudar por conta própria para prestar o vestibular e tentar uma bolsa do ProUni numa faculdade particular. "A turma estava disposta a pagar um professor. Há duas semanas a escola conseguiu um, mas ele ainda não começou", lamenta.
 

Fonte: O Dia, Carol Medeiros e Maria Luisa Barros, 12/8/2007.

 

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