Arapuca de Genro
Moacir Loth*

 

A pressa do governo é tanta que dá para desconfiar se gostaria
mesmo de ouvir a sociedade
 

As Universidades federais estão tensas. As comunitárias assustadas. E as particulares, quase apavoradas. Todos os segmentos, em suma, estão convencidos de que vão perder com a reforma universitária.

Quem vai ganhar? Pelo jeito, caso o projeto do ministro Tarso Genro não acatar as ‘emendas’ da sociedade, só o Governo. Engano: nem o governo; tiram proveito tão-somente o FMI, o BIRD, a OMC.

O projeto revela-se confuso, incoerente e contraditório. O diagnóstico é do Fórum Catarinense de Política da Educação Superior. Será que foi mal redigido? Talvez.

Suspeita-se que o texto está assim de propósito. Uma arapuca! É para não revelar suas reais intenções. A proposta parece não querer enxergar a idéia de nação, do papel estratégico a ser desenvolvido pela universidade para o tirar o país da dependência científica e tecnológica.

Prevalece, em seu objetivo, ‘um projeto posicionado’, isto é, que reflete o partido e não o pensamento da sociedade, como alertou o reitor da UFSC, Lúcio Botelho.

O anteprojeto de Lei da Educação Superior interfere nas instâncias de decisão dos municípios e Estados, ameaçando até mesmo a regionalização e a interiorização do ensino superior.

Enche de poder (e responsabilidade) os reitores, mas fragiliza, na outra ponta, as instituições, mantendo e até reforçando uma relação de ‘pai para filho’ com o Governo Central.

Propõe uma espécie de controle externo (um novo Conselho), abrindo espaço privilegiado, por exemplo, ao empresariado.

Mexe de tal forma na organização universitária que viola a Constituição, ferindo sobretudo a autonomia universitária (artigo 207).

Segundo Tarso Genro, o documento ‘restabelece o papel do Estado como mantenedor das instituições federais de ensino superior e regulador do Sistema Federal de Educação Superior’.

Solicita sugestões da sociedade para redação do anteprojeto definitivo que seguirá ao Congresso. No entanto, fixa um prazo exígüo (15 de fevereiro) à participação.

A pressa do governo é tanta que dá para desconfiar se gostaria mesmo de ouvir a sociedade.

Isso tem sentido quando ignora as oportunas contribuições que recebeu há seis meses do Fórum Catarinense de Política da Educação Superior, encaminhadas através do secretário Jacó Anderle, contendo sete estudos temáticos.

O Fórum, presidido pelo secretário interino da Educação e Inovação, Diomário de Queiroz, teme que a ‘pressa’ desperdice uma ótima oportunidade para melhorar a Universidade brasileira.

Daí a necessidade de mobilização - independentemente das férias e do carnaval - da UFSC, UDESC, Conselho Estadual de Educação, Acafe, Associação das privadas, Funcitec, Governo, Fórum Parlamentar e da sociedade.

E agora também da União Catarinense dos Estudantes (UCE), que acaba de ser incorporada ao Fórum e convocada à luta! 

* Moacir Loth - Jornalista Científico/Assessoria de Comunicação – FUNCITEC. 
 

Fonte: JC e-mail 2673, de 22/12/2004.


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