Avaliação em análise
 

Comissão irá estudar mudanças no sistema de avaliação das IES. Anúncio foi feito durante realização de seminário sobre o tema em Brasília


O secretário da SESu (Secretaria do Ensino Superior), Carlos Roberto Antunes dos Santos, anunciou dia 7, em Brasília, durante seminário sobre as políticas de avaliação educacional, que ainda neste mês o Governo vai criar uma comissão para estudar mudanças no sistema de avaliação das universidades. A falta de uma proposta para essa questão, segundo explicou o chefe de gabinete do ministro Cristovam Buarque, Osvaldo Russo de Azevedo, se deve ao fato do MEC não querer impor uma política para o setor. Ele explicou que a realização do seminário visava justamente ouvir as sugestões e a opinião das entidades civis sobre o tema.


O presidente do INEP (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais), Otaviano Helene, que comanda o órgão responsável pela realização do Provão, disse que o ministério vai manter a realização das provas neste ano. Segundo ele, o Governo Lula não quer revogar nem deixar de cumprir uma Lei aprovada no Congresso Nacional. Apesar disso, fez uma dura crítica ao exame. "O Provão não é nem uma avaliação, foi um instrumento de marketing que o Governo passado utilizou para tratar do ensino superior", afirmou.


Otaviano disse que o Governo pretende mudar a forma de divulgar as avaliações realizadas pelo MEC, priorizando os resultados obtidos por meio das avaliações das condições de ofertas e os dados do censo do ensino superior. "O Governo anterior inverteu a ordem de prioridade. Nós vamos dar maior transparência e mais informações para a sociedade no que diz respeito às avaliações", afirmou sem, contudo, explicar qual seria a mudança em relação às divulgações realizadas anteriormente. "Estamos estudando os aspectos legais para sabermos o que podemos ou não informar sobre os resultados dessas avaliações", disse.


O presidente do Inep disse ainda que, internamente, o MEC já estuda algumas alternativas, como o fim da obrigatoriedade do Provão. Ele não quis comentar quais seriam outras propostas, mas adiantou que essa e outras mudanças não deverão ser aplicadas neste ano. "O que percebemos neste seminário é que os professores e pesquisadores estão chateados com a realidade do sistema de ensino e com o fato de que as avaliações realizadas até agora não trouxeram resultados concretos para mudar essa realidade", afirmou.


Avaliar o Provão para quê?


As entidades ouvidas pelo MEC durante o seminário "Avaliar para quê? Avaliando as Políticas de Avaliação Educacional", pediram que o Governo suspenda o Provão ainda este ano. "Um governo que foi eleito para mudar o país não pode continuar com as políticas do Governo anterior. É preciso suspender, de imediato, o Provão", afirmou a diretora nacional do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Vera Jacob Chaves, interrompida por aplausos de representantes de centros acadêmicos, diretórios e entidades estudantis presentes no evento.

O presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Filipe Maia, também pediu o fim do exame, mas disse compreender caso o Governo Federal mantenha sua realização este ano. Ele espera apenas que o ministério não traga soluções parciais, como acabar apenas com a obrigatoriedade da realização das provas pelos estudantes universitários. "Isso não seria correto. É possível trazer uma proposta de avaliação mais completa que contemple as atividades de pesquisa e extensão. Para tanto basta fazer uma síntese das sugestões oferecidas pelos movimentos sociais", afirmou.


Nos debates realizados pela manhã e pela tarde, os componentes da mesa não pouparam críticas ao sistema de avaliação implementado nos últimos oito anos no país. O representante da Unesco, Júlio Jacobo, lembrou que as avaliações do MEC erraram ao não considerar as experiências realizadas pelos estados brasileiros e também porque excluíram os professores do processo.


Houve apenas uma voz dissonante nos ataques ao Provão. A professora Eunice Duran, ex-secretária de Política Educacional do MEC, lembrou que o exame foi fundamental para melhoria do ensino nas instituições privadas. "Reclama-se que as universidades promovem gincanas e cursinhos para os alunos fazerem o Provão. É melhor isso do que não fazer nada", afirmou, chamando a atenção dos debatedores para o fato de que, até mesmo na antiga União Soviética, a transformação do ensino superior passou pela disseminação de universidades que não faziam pesquisa e extensão.


O professor do Departamento de Metodologia de Ensino da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas),  José Dias Sobrinho, resumiu as críticas feitas durante o evento. Segundo ele, o Provão desqualifica o professor, não considera a transformação do nível do aluno entre a sua chegada e sua saída da faculdade e confunde aprendizagem com desempenho em uma única prova. Além disso, o exame desvaloriza a pesquisa, prioriza um modelo de ensino superior voltado para o mercado e faz uma falsa correspondência entre o desempenho do aluno na graduação e o seu futuro desempenho no mercado de trabalho.


O coordenador do CIPEDES (Centro Interdisciplinar de Pesquisa para o Desenvolvimento da Educação Superior) da UFRGS  (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), professor Hélgio Trindade, foi o primeiro a sugerir uma alternativa ao atual modelo de avaliação. De acordo com ele, o Governo Federal deveria resgatar o Paiub (Programa de Avaliação das Universidades Brasileiras), que começou a ser implementando há dez anos durante o Governo Itamar Franco. A sugestão foi elogiada e também defendida pelo deputado Ivan Valente (PT-SP). A proposta já havia sido elaborada no ano passado e constava até do plano de Governo do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva para o ensino superior.

 

 

Fonte: Portal Universia, 08/04/2003.


 

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