Brasil entra no grupo de países com
alto desenvolvimento humano

 

Apesar disso, país caiu mais uma posição no ranking do IDH, para 70º lugar. Pesquisa foi divulgada nesta terça-feira pelo PNUD, órgão da ONU

 

O Brasil chegou pela primeira vez ao grupo de países com alto desenvolvimento humano, com um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,800, o mínimo necessário. O país está em último lugar entre as 70 nações que fazem parte do grupo este ano, como Islândia, Noruega, Japão, Canadá e Estados Unidos.

 

O resultado está no Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2007-2008, divulgado nesta terça-feira (27) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD). Os dados utilizados pela pesquisa são de 2005. 

O ranking deste ano tem 70 países no grupo com alto desenvolvimento, 85 no de médio e 22 no grupo de baixo desenvolvimento humano, de um total de 177 países e territórios. 

Quando o IDH de um país está entre 0 e 0,499, é considerado baixo; entre 0,500 e 0,799, é considerado médio. E entre 0,800 e 1 é considerado alto. 

Queda

Apesar de ter aumentado o valor do seu IDH, o Brasil caiu mais uma posição no ranking dos países. O Brasil, que ocupava o 69º lugar em 2006, agora é o 70º da lista. Em 2005, o Brasil ocupava a 68º posição do ranking. 

Mesmo mais bem posicionado no ranking em anos passados, o Brasil figurava no grupo de países com médio desenvolvimento humano. Isso devido ao valor de seu IDH: em 1990, o valor era de 0,723; em 1995, 0,753; em 2000, 0,789. Somente no relatório deste ano, com dados de 2005, chegou a 0,800, o valor mínimo para integrar o grupo dos países com alto desenvolvimento humano. 

Na lista deste ano, a Islândia é a primeira colocada, seguida pela Noruega e pela Austrália. Canadá, Irlanda, Suécia, Suíça, Japão, Holanda e França completam a lista dos 10 países com a melhor qualidade de vida do mundo. O país latino-americano mais bem colocado é a Argentina, em 38º lugar. Chile (40º) e Uruguai (46º) completam a lista de três melhores países latino-americanos no ranking do IDH. O último país do ranking é Serra Leoa. 

Tabela IDH

O Brasil chegou pela primeira vez ao grupo de países com alto desenvolvimento humano, com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,800 segundo o PNUD. 

O IDH é a síntese de quatro indicadores: Produto Interno Bruto (PIB) per capita, expectativa de vida, taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade, e taxa de matrícula bruta nos três níveis de ensino (relação entre a população em idade escolar e o número de pessoas matriculadas no ensino fundamental, médio e superior). 

Metodologia

O índice divulgado neste ano não pode ser comparado aos dos relatórios anteriores, porque o estudo usa indicadores e metodologias que foram revisados e aperfeiçoados. 

O relatório do ano passado, baseado em dados de 2004, colocava o Brasil com um IDH de 0,792, deixando o país em 69º lugar. 

Mas o PNUD explica que, com dados mais recentes divulgados após o relatório do ano passado, o Brasil deveria ter ficado com o valor de 0,798 e o 67º lugar, ou seja, subiria duas posições no ranking da qualidade de vida do relatório divulgado em 2006, com dados de 2004. 

Com esse reajuste, o Brasil teria caído três posições no ranking, entre a divulgação do relatório do ano passado e do divulgado nesta terça, e não apenas uma. 

Dados

As mudanças entre os dados iniciais brasileiros de 2004 e os que elevariam o ranking do país para o 67º lugar no relatório do ano passado são: maior expectativa de vida (passa de 70,8 para 71,5 anos), maior taxa de matrícula (passa de 85,7% para 87,5%) e aumento do PIB per capita (que passou de US$ 8,195 para US$ 8,325). O único dado utilizado para chegar ao IDH que não sofreu alteração é o da alfabetização de adultos (permaneceu em 88,6%). 

Os dados de 2005 mostram que, no Brasil, além de o IDH ter aumentado de 0,798 para 0,800 de 2004 para 2005, quando usamos os dados revisados pelo PNUD, também subiram as taxas de expectativa de vida (de 71,5 para 71,7 anos) e o PIB per capita (de US$ 8,325 para US$ 8,402). A alfabetização de adultos permaneceu inalterada em relação aos dois resultados de 2004 (o relatório inicial e o revisado): 88,6%. A taxa de matrícula também não sofreu alteração em relação ao relatório revisado com dados de 2004: 87,5% . 

A taxa de matrícula brasileira coloca o país em 36º lugar (87,5%) neste quesito, uma posição atrás de Cuba (87,6%). A expectativa de vida, no entanto, puxa o Brasil para baixo: os 71,7 anos em média que os brasileiros vivem colocam o país em 79º lugar entre os 177 países que participam da pesquisa. 

Média

O 70º lugar ocupado no ranking do IDH coloca o Brasil como o pior dos melhores países do índice. 

O relatório da ONU mostra que, apesar de o IDH do Brasil (0,800) estar acima da média dos 177 países que fazem parte da pesquisa (0,691), ainda está um pouco abaixo da média dos países da América Latina e do Caribe (0,803). 

O Brasil está bem abaixo, no entanto, quando tem sua média comparada à dos países com alto grau de desenvolvimento humano (0,897) - grupo do qual o Brasil, agora, faz parte.
 

Fonte: Rev. Época, ed. 497, 27/11/2007.


Para especialista, ranking da ONU adota 'rótulos artificiais'

 

A classificação sobre desenvolvimento humano feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é artificial e não leva em consideração aspectos importantes como o desenvolvimento sustentável, na opinião do especialista britânico Stephen Morse.
 

"O que a ONU faz nesse ranking é dividir artificialmente os países em três categorias: alto, médio e baixo desenvolvimento", afirma Morse, professor da Universidade de Reading e autor de livros sobre estatísticas em desenvolvimento humano. 

Para ele, essas classificações são arbitrárias. "Elas não significam nada, são meramente rótulos usados para agrupar os países de uma forma simplificada." 

A ONU divulgou nesta terça-feira em Brasília o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que classifica os países de acordo com avanços na saúde, educação e riqueza. Pela primeira vez desde que o ranking começou a ser divulgado, em 1990, o Brasil atingiu o patamar de "alto desenvolvimento humano", com IDH de 0,800. O país ficou em último lugar na lista de 70 países com alto desenvolvimento. 

’Imperfeito, mas útil’ 

O IDH – que varia de 0 a 1 – leva em consideração quatro variáveis: expectativa de vida, alfabetização adulta, quantidade de alunos matriculados em escolas e universidades e riqueza per capita. A Islândia lidera o ranking, com IDH de 0,968, e Serra Leoa está em último, com 0,336. 

Países com nota de 0,800 ou superior são considerados de "alto desenvolvimento humano" pelo PNUD. Os países com IDH inferior aos 0,500 são "baixo desenvolvimento humano". 

A ONU começou a trabalhar com indicadores de desenvolvimento humano nos anos 50. Nos anos 80, a metodologia do IDH foi aperfeiçoada, inspirado nos trabalhos do economista indiano e prêmio Nobel Amartya Sen. 

Segundo Morse, o principal objetivo da ONU era achar um índice que servisse de alternativa à visão puramente economicista do Banco Mundial, que classificava o desenvolvimento dos países apenas de acordo com a riqueza per capita. Para isso, o IDH incorporou indicadores de saúde e educação, além do PIB per capita. 

Apesar das críticas que faz ao trabalho, o professor diz que mesmo com suas imperfeições o IDH cumpre um papel importante de chamar a atenção de governos e da imprensa para sucessos e fracassos de políticas de desenvolvimento humano nos diferentes países avaliados. 

O problema para o especialista é que o desenvolvimento humano é um conceito muito mais complexo do que apenas as quatro variáveis usadas pelo programa da ONU e, por isso, o ranking da ONU acaba sendo pouco usado por acadêmicos de desenvolvimento humano como ele. 

"Nos países da África, por exemplo, existe um mercado informal, que sequer é refletido no (cálculo do) PIB. A economia africana acaba sendo subestimada no ranking do PNUD." O mesmo poderia ser dito sobre países como o Brasil, que também tem uma grande economia informal. 

Outro problema para o professor é o fato de o índice do PNUD não levar em consideração o crescimento sustentável. 

"Hipoteticamente, se o Brasil devastasse completamente a floresta amazônica e usasse a terra para plantar soja ou criar gado, o país subiria diversas posições e talvez até liderasse o ranking. Mas isso não pode ser chamado de alto desenvolvimento humano. O índice do PNUD só leva em consideração os benefícios de um país, mas não os seus custos."


Fonte: BBCBrasil, Daniel Gallas, de Londres, 27/11/2007.


Saneamento básico deve chegar a todos apenas em 2122

 

Se o ritmo lento dos investimentos continuar, os brasileiros terão que esperar mais de
um século para ter acesso a um serviço básico como a rede de esgoto
 

 

Dar descarga, ao contrário que muita gente pensa, não quer dizer que os dejetos serão jogados na rede de esgoto e tratados. Dos domicílios brasileiros, 51% não têm acesso a saneamento básico. Isso corresponde a 46% da população e quer dizer que o esgoto de mais de 90 milhões de pessoas não tem destino apropriado. Na maior parte das vezes ele é liberado na natureza sem qualquer tratamento. As conseqüências desse cenário estão

na Pesquisa Trata Brasil - Saneamento e Saúde, realizada pelo Instituto Trata Brasil e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada nesta terça-feira (27). 

"O Brasil não apresenta nenhum ponto positivo quando se trata de saneamento", diz o diretor-executivo do Trata Brasil, Raul Pinho. Os indicadores mostram que o saneamento é o serviço de infra-estrutura que menos cresceu no Brasil. Enquanto apenas 43% da população têm saneamento, os índices de acesso à eletricidade são de 93% e de água, 77%. Se continuar no mesmo passo, o saneamento só estará disponível para toda população brasileira em 2122. 

"Por ser algo invisível - já que os esgotos são enterrados - e cujos problemas atingem principalmente crianças, o tema saneamento não tem peso político", afirma Pinho. "É um equívoco, pois gasta-se muito mais para remediar do que prevenir". Segundo o especialista, para cada R$ 1 investido em saneamento, são economizados R$ 4 em despesas médicas. 

O problema começa pela falta de investimento público em infra-estrutura: o Brasil investe apenas um terço do que seria necessário para as obras de ampliação da rede de esgoto. Hoje, apenas 0,2% do PIB é aplicado em saneamento básico, quando o ideal seria 0,63%. Ainda assim, dos recursos disponibilizados ano passado, apenas 30% foram utilizados pelos governos estaduais e municipais. Apesar do cenário desanimador, Marcelo Néri, professor da GV e coordenador do estudo, anima-se com a promessa de liberação de 40 bilhões de reais pelo Programa de Aceleração da Economia nos próximos quatro anos. Além disso, como 2008 foi escolhido pela ONU como ano internacional do saneamento básico e, no Brasil, acontecerão eleições municipais, há alguma esperança de que o assunto entre em pauta. 

"É claro que não podemos esperar que o governo público faça tudo. Temos que mobilizar a sociedade civil para conhecer a situação e fazer pressão", diz Néri. "Sabemos que o melhor modo é informar a opinião pública. Um político guardaria o relatório na gaveta." 

Vítimas

Os dados apontam que as crianças são as que mais sofrem com o problema. O estudo mostrou que, nas regiões onde não há um mínimo de saneamento, a mortalidade infantil é 24% maior do que nas áreas atendidas pelo serviço. No esgoto sem tratamento é possível encontrar solventes, metais, pesticidas, coliformes fecais e outras substâncias perigosas para a saúde. 

O grupo mais vulnerável são os meninos de 1 a 6 anos. Pelas próprias características de brincar fora de casa e gostar de aventuras, eles têm maior contato com o esgoto e as valas negras. Como apenas 40% das crianças nessa faixa etária têm casas com esgoto tratado, uma média de sete crianças morre diariamente no país por doenças provocadas pelo contato com o esgoto. 

As grávidas são o outro grupo mais atingido. Uma gestante que entra em com contato com água imprópria tem 24% de chances de seu filho nascer morto. Quando isso não ocorre, são grandes os riscos de seqüelas como má formação, lesões neurológicas e falta de glóbulos brancos. 

Cidades

A maior parte da rede de esgoto está nas concentrações urbanas. O número de pessoas morando em cidades corresponde a 82,7% da população, aproximadamente 148 milhões de pessoas. Desse total, 82 milhões têm rede de esgoto (56%). O número de habitantes das cidades vivendo sem coleta de esgoto é de aproximadamente 65 milhões. Para onde vão os dejetos? 

Muitas construções modernas, de alto padrão inclusive, não dispõem de sistema adequado de coleta de esgoto. Os resíduos são despejados em fossas sanitárias – que exigem manutenção constante, sob o risco de transbordarem e contaminarem lençóis freáticos – ou em rios ou no mar. Um exemplo carioca pode ilustrar uma realidade que ocorre em todo o Brasil. No bairro da Barra da Tijuca, famoso por seus condomínios de luxo, apenas metade dos domicílios possui rede de esgoto. Boa parte dos dejetos é liberada no mar. 

"A população pobre é a que mais sofre, pois seus esgotos correm abertamente ao lado de suas casas. Mas vivemos em sociedade, e os ricos sofrem com a contaminação dos rios, mares, da água e até dos alimentos", afirma o professor Néri. 

As dez melhores redes de esgoto estão em cidades do estado de São Paulo. São Caetano do Sul é a primeira, com 98,6% da população com acesso ao serviço. A cidade é também a campeã de IDH no país. Na outra ponta, o pior município brasileiro no quesito saneamento básico é Boa Vista, capital de Roraima. Dois municípios paulistas, São Carlos e Praia Grande, figuram entre os dez piores.
 

Fonte: Rev. Época, Thiago Cid, ed. 497, 27/11/2007.

 


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