Reunião Anual SBPC
Desmatamento da Amazônia faz do Brasil o quarto ou quinto maior poluidor do mundo 

  

Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas propõe estabelecer
metas para conter avanço

 

O Brasil, em conseqüência do desmatamento na Amazônia, é o quarto ou o quinto maior poluidor do mundo, disse nesta terça-feira Gilberto Câmara Neto, do INPE, no simpósio "Mudanças climáticas globais e seus impactos regionais".

O físico José Pinguelli Rosa, da Coppe-UFRJ, no mesmo painel, informou que o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, do qual é presidente, propôs ao governo criar metas para redução do desmatamento.

Francisco Assis de Souza Filho, presidente da Funceme, abordou os impactos regionais das mudanças climáticas.

Gilberto Câmara Neto representa o Inpe no Projeto Rede Temática de Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amazônia (Geoma), uma pesquisa cooperativa e multidisciplinar que visa identificar no País os impactos de longo prazo causados pelas mudanças no bioma.

Apesar de o Brasil ser signatário do Protocolo de Kyoto, não tem obrigação de cumprir as metas de controle de emissão de gases, estabelecidas para os países desenvolvidos, informou.

O Inpe, que a cada ano publica o relatório do desmatamento na Amazônia – 26 mil hectares em 2004 – registra os locais onde ocorre forte mudança.

Segundo Câmara, sobre as imagens de satélite é projetado o que vai acontecer se vários projetos de ocupação da fronteira agrícola e estradas se implantarem na região, e os impactos que podem ter em longo prazo.

Estão sendo analisadas na Amazônia as regiões consideradas as mais singulares e de mais difícil restituição, o Sul do Amazonas, a BR-163, Terra do Meio e São Felix do Xingu. A área vai de Santarém até a várzea do Amazonas, de Santarém a Cuiabá, abrange a continuação da rodovia Transamazônica até Rondônia, todas de baixa ocupação humana.

Diante da previsão de que vão ocorrer desmatamentos nos próximos anos, Câmara conta que o Projeto Geoma busca desenvolver modelos computacionais para simular projeções e monitorar a situação. Há modelos específicos para mudanças do uso e cobertura da terra na Amazônia, modelo de distribuição da biodiversidade, outros voltados para hidroelétricas, bioma e relação clima-bioma.

Ao identificar as áreas, o objetivo é o de saber que cuidados serão necessários para "tentar proteger, antes que o homem acabe com elas e não consiga nem saber o que está lá".

"O problema não tem solução única nem abordagem única", disse Câmara.

A equipe envolve profissionais da matemática, engenharia, computação, hidrologia, antropologia, sociologia e outros. Segundo ele, este é um projeto temático do MCT, que sem o trabalho cooperativo não conseguiria avançar.

Câmara observa que nas regiões de Boca do Acre e no Sul do Pará houve uma "savanização da Amazônia", com o surgimento da mesma vegetação encontrada em Tocantins e Goiás.

Embora ainda não existam séries históricas para analisar a transição, a hipótese é de que ali já houve uma condição de sustentação natural, um estado de equilíbrio em que o clima se adaptou com uma nova cobertura vegetal.

Pinguelli Rosa informa que a queimadas na Amazônia contribui com 77% das emissões de gases do Brasil. Segundo ele, o Brasil se retirou do Protocolo de Kyoto, ora em vigor. "O fato de o País não ter obrigação de reduzir gases não deve nos deixar incomodados quando vemos um quadro como o da Amazônia", afirma.

Segundo o coordenador do Fórum, o segundo fator de emissão de gases é a criação de gado e a agricultura. Para Pinguelli, o desmatamento da Amazônia não beneficia a sociedade em geral, e pode levar a mudança drástica no sistema natural em grande parte do País, com prejuízo para todos. Manter intocada a Amazônia não é a questão, mas sim o que pode levar de prejuízo a sua destruição, explica.

O Fórum Brasileiro e Mudanças Climáticas, após a realização de seminários e de produzir relatórios encaminhados às autoridades, aguarda uma nova reunião ministerial – a primeira teve a presença do presidente Lula – para que as sugestões sejam assumidas e aplicáveis, disse Pinguelli. Segundo ele, uma das conseqüências das mudanças climáticas, no Nordeste brasileiro pode ser o problema da desertificação do semi-árido.

Para os 160 quilômetros quadrados de área desmatada na Amazônia, o Fórum propõe um programa de desenvolvimento sustentável para áreas já desmatadas e abandonadas na região, como forma de aliviar a pressão sobre a floresta. A proposta está para análise do presidente Lula.

Ontem, na Expolivros, Pinguelli lançou o livro "Tecnociências e Humanidades: novos paradigmas, velhas questões", da editora Paz e Terra. Trata-se de uma nova abordagem sobre os avanços do desenvolvimento científico com o foco central na inter-relação entre as culturas da natureza e as humanidades.

No seu relato, o autor parte da história da física nas suas relações com a filosofia da ciência, seguindo depois para relações com outras áreas do conhecimento, em especial com a biologia e com as ciências humanas relacionando-as com a tecnologia e a sociedade. 

 

Fonte: JC e-mail, Flamínio Araripe, 20/07/2005.


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