Buraco na camada de ozônio é excluído da lista dos problemas 

  

Especialistas acreditam que outras questões atuais são mais urgentes

Uma lista das cem principais questões ambientais a serem enfrentadas pelo governo britânico, compilada por 650 especialistas, deixa de fora uma história de horror que dominou os anos 80 e 90: o buraco da camada de ozônio.

A ausência está ligada à contenção bem-sucedida do problema, que serve como estímulo para resolver questões ainda mais prementes da mudança climática.

No caso do esgotamento do ozônio, foi a primeira vez que a humanidade realmente tomou consciência dos seus efeitos negativos sobre o ambiente.

"É um ótimo exemplo de um problema científico que é atacado em conjunto pela comunidade global", diz Anna Jones, cientista do British Antarctic Survey, grupo financiado pela Grã-Bretanha. "Devemos nos sentir encorajados com isso."

A camada de ozônio na estratosfera fica entre 9,6 e 48,2 quilômetros acima da terra e filtra os raios ultravioleta nocivos do sol. Em agosto de 2003, os cientistas, pela primeira vez, produziram provas de que a expansão do buraco na camada perdia velocidade.

A Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica dos Estados Unidos anunciou recentemente que o buraco sobre a Antártida parou de se expandir.

"Estou muito otimista e acredito que, num determinado momento, a camada de ozônio se normalizará", disse um dos diretores. O Ártico deverá ter se recuperado por volta de 2030; a Antártida, em torno de 2065.

Convencer as pessoas a se livrarem adequadamente de seus refrigeradores, para evitar os gases danosos à camada, foi relativamente fácil. Fazer com que elas desistam dos aviões e carros, para evitar a emissão de gases que pioram o efeito estufa, está sendo muito mais difícil.

Histórico

Em maio de 1985, cientistas do British Antarctic Survey anunciaram pela primeira vez a descoberta de um buraco na camada de ozônio sobre a Antártida.

No ano seguinte, uma pesquisa americana confirmou as informações, apresentando aos leigos o difícil termo "clorofluorcarbonos", ou CFCs, encontrados em geladeiras, aparelhos de ar-condicionado e aerossóis, que decompõem a camada de ozônio.

Uma geração de adolescentes cresceu preocupada que seus desodorantes poderiam estar apressando o fim dos tempos.

A reação da comunidade internacional foi admiravelmente rápida. A produção de CFCs foi controlada pelo Protocolo de Montreal - um dos primeiros tratados internacionais na área ambiental - em 1987.

Mesmo assim, durante muitos anos, a situação continuou se deteriorando. "Os CFCs têm um período de vida muito longo", explica Joanna Haigh, professora de física atmosférica no Imperial College. O CFC-11 (agente de expansão) pode durar 11 anos; o CFC-12 (um refrigerante), cem anos.

Em sua fase mais crítica, o buraco sobre a Antártida era de quase 30 milhões de km2, tão grande quanto a América do Norte. Em 1999, pesquisadores afirmaram que até peixes corriam o risco de sofrer queimaduras por raios solares.

A incidência do melanoma maligno, a forma mais mortal de câncer de pele, aumentou três vezes nas últimas três décadas. "Os dermatologistas estão seguros de que os danos à camada de ozônio são também em parte responsáveis por isso", diz Nina Goad, da British Skin Foundation.

Segundo estimativas, uma perda global sustentada de 10% de ozônio pode provocar um aumento de 26% na incidência de cânceres de pele entre pessoas muito claras.

 

Fonte: O Estadão, 12/9/2006.


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