O cerco e a caça

 

Se Lula contasse com bons conselheiros, esses o fariam agir rapidamente, abrindo os segredos do governo anterior e os jogando à luz do dia. Não que uma gatunagem perdoe a outra, mas não é possível que a nação fique sem conhecer o que ocorreu no passado recente do Brasil.

Já não há o que esconder: o Sr. Fernando Henrique Cardoso deu o sinal para o golpe do impeachment contra Lula. O ex-presidente se vale da fragilidade do chefe de governo, que não tem conseguido dar resposta adequada à crise de credibilidade que atingiu a administração.

Os banqueiros e os outros especuladores - mesmo contentes com o que estão ganhando - convencem agora os empresários do setor produtivo de que chegou o momento de intensificar a mobilização da mídia e dos meios políticos, para a batalha de cerco e aniquilamento do governo.

Sabem que, se conseguir superar este momento difícil, o governo pode vir a ser dos trabalhadores, como deveria ter sido. Se Lula contasse com bons conselheiros, esses o fariam agir rapidamente, abrindo os segredos do governo anterior e os jogando à luz do dia.

Não que uma gatunagem perdoe a outra, mas não é possível que a nação fique sem conhecer o que ocorreu no passado recente. E obteria da opinião pública o aval para realizar um projeto nacional de desenvolvimento e de justiça. O presidente não pode continuar imobilizado pelas ameaças de seus inimigos.

A chamada corrente pragmática do PT levou o partido e o governo a empenhar as idéias em nome do poder. Talvez uns imaginassem que, uma vez consolidado o governo, seria possível realizar a revolução social que se pretendia. Mas se houve os que assim pensavam, o gosto do poder em muitos quadros superou o sonho e o compromisso ideológico.

Tentou-se, conseguiu-se, e seria mantido o hábil acordo com as elites econômicas, pelo qual o capital financeiro e a grande indústria exportadora seriam beneficiados, mediante a política de juros altos e salários contidos, e o governo exerceria, com relação aos desempregados e mais pobres, política compensatória, que reduzisse a fome endêmica no País. Seria mantido em relativa estabilidade, e a reeleição de Lula (tal como a de Fernando Henrique, que se aliou habilmente às elites) não seria ameaçada.

Mas os diletantes operadores do PT não conheciam os meandros do velho sistema de corrupção no país, e levaram o partido e o governo à execração pública. Podemos, sem nenhuma ofensa aos homens, nem aos cães, lembrar a advertência conhecida: ao caçar com a matilha alheia, o partido ficou no mato sem cachorro.

Os cães de caça, como quaisquer outros cães, são sempre fiéis a seus antigos donos. A menos que um gênio tucano tenha tido a idéia brilhante de infiltrar Valério no PT e no governo, com o objetivo malévolo de os contaminar e desmoralizar a esquerda.

Como um partido de trabalhadores, com a experiência de luta contra o capital, pôde confiar em homem com o passado de Valério? Esse é um mistério que deve ser aclarado.

Valério surge nos meios políticos mineiros durante o governo do Sr. Eduardo Azeredo, que se elegeu em 1994. Foi o momento chave para a consolidação do projeto neoliberal do Sr. Fernando Henrique Cardoso.

Fosse outro o governador de Minas, que soubesse defender os interesses históricos do Estado, e não teria sido tão fácil, como foi, ao presidente da República federalizar a dívida pública do Estado, privatizar seus grandes bancos estaduais, um deles – o de Crédito Real – fundado ainda no Império, e transferir o controle da Cemig a uma empresa multinacional, mediante acordo de acionistas que Itamar conseguiu anular na Justiça.

O pecado maior do governador foi o de ter sido mais fiel a Fernando Henrique do que os governadores nomeados do regime militar, que resistiram a certas injunções de Brasília, como foi o caso de Aureliano Chaves.

Tanto na privatização dos bancos, como na alienação de parcela da Cemig, estiveram envolvidas figuras controvertidas da vida nacional, como certos integrantes da equipe econômica da União, que viriam, mais tarde, a associar-se ao Sr. Daniel Dantas, no Opportunity, entre eles o Sr. Pérsio Arida e a Sra. Elena Landau.

É aqui que podemos vislumbrar conexão desastrada entre o governo Lula e o governo Fernando Henrique Cardoso.

 

Fonte: Ag. Carta Maior, Mauro Santayana, 8/8/2005.


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