Com quantos paus se faz uma jangada?
Leonardo Chwif*

 

Todas as pessoas dentro de uma empresa (desde o presidente até o empregado menos graduado) tomam decisões a todo o momento, mesmo que não as tomem de forma consciente. Isto porque é difícil parar para pensar como tomamos as decisões - simplesmente as tomamos da maneira e forma que estamos acostumados a tomar. Para entendermos melhor as formas utilizadas e não utilizadas na tomada de decisões, vamos supor que tenhamos que responder a pergunta postada no título: Com quantos paus se faz uma jangada? Ora, você há de se perguntar: qual a relação deste questionamento com o ambiente empresarial? Na realidade esta questão pode ser transportada para várias outras questões em qualquer nível: estratégico, tático e mesmo operacional. Algumas questões que possivelmente poderíamos nos deparar: 

        ·     Aonde seria a melhor localização para a nova fábrica?
·     
Quais os melhores projetos de P&D para os próximos anos?
·     
Qual a melhor programação da produção?
·     
Quantos recursos devem ser adquiridos para atingir a produtividade
    necessária ou o nível de serviço desejado?

·     
Quantos funcionários devem ser contratados para esta operação?
·     
Quanto de estoque deve-se ter na fábrica?
·     
Quantos recursos alocar no plano de investimento de 2006?
·     
Quanto se deve investir na próxima campanha de publicidade?

A lista acima é infinita, portanto vamos voltar a nossa questão inicial. O ponto fundamental é que a questão postada poderia representar qualquer questão da lista acima.  

Uma primeira forma de se decidir esta questão é a utilização da "técnica" do "achismo". Suponhamos que você nunca construiu uma jangada, e você acha que ela deverá ser construída com 10 paus. Assim, no caso de uma decisão em grupo, devido a algumas discrepâncias (um acha que é necessário 12; outro 8, outro 6) você tira a média aritmética. Pronto 9 (10+12+8+6)/4 é o número de paus de nossa jangada! Isto pode parecer muito simplista, mas acreditem: uma boa parte das decisões em empresas é tomada utilizando este tipo de "técnica". Outra técnica bastante usada é a utilização da experiência passada. Ou seja: "Bem construí no ano passado uma jangada com 9 paus e ficou um pouco instável. Desta vez utilizarei 11". Além disto, outra forma também bastante comum: "Vamos continuar utilizando 9 paus nas novas jangadas, pois sempre fizemos com nove e continuaremos fazendo com nove!". A mesma técnica pode vir também com alguma sofisticação: "O número de paus em uma jangada é igual a 4 vezes o número de pessoas que subirão na jangada mais 2". De qualquer maneira todas estas decisões estão baseadas nos "alfarrábios" ou "experiência passadas".  

Além destas formas "convencionais" há algumas específicas como decisão por imposição ou decisão por abandono (decurso de prazo). No primeiro caso, geralmente quando a decisão envolve um grupo, a vontade do mais forte (geralmente o chefe) é imposta aos outros: "Vamos fazer com 11 paus e ponto final!!!". No segundo caso a decisão não é tomada por vários fatores: conflitos de interesse, falta de tempo, etc. Neste caso a jangada nunca seria construída!!! 

Existem também técnicas mais robustas e mais sistemáticas para se decidir com quantos paus se faz uma jangada. Uma maneira é construir um protótipo da jangada (que até pode ser em escala reduzida) e testar num tanque de provas. O problema neste caso é que o comportamento das ondas do mar não necessariamente seria próximo da realidade. Uma outra forma seria criar um modelo da jangada e das ondas (representação computadorizada desta realidade física) no computador e realizar simulações com diversos números de paus para ver qual a melhor configuração. Daí você pode levantar uma questão: "Nossa vou ter que realizar uma simulação para decidir com quantos paus se faz uma jangada? Isto é o cúmulo da sofisticação!". Na realidade no caso da jangada pode até ser, mas em inúmeros problemas de decisão da vida real não é, pois o custo de uma simulação pode ser infinitamente menor do que o custo gerado por uma má decisão. Como estas, há muitas outras técnicas de decisão sistemáticas e consagradas que podem ser aplicadas aos mais variados tipos de problemas.  

A mensagem principal que gostaríamos de passar é: sempre que for tomar uma decisão, pare um pouco e pense como você está decidindo. Quais seriam as vantagens e desvantagens da maneira pela qual você decide. Pergunte se o que está usando para decidir estaria levando a melhor decisão. Estas são perguntas essenciais: afinal todos queremos tomar boas decisões e não deixarmos a jangada afundar!

 


Para saber mais leia os seguintes livros:

a) "Tomada de Decisões em Pequenas Empresas", de Luiz Maurício de Andrade
     da Silva, Ed. Cobra, 2004.
b) "Decisão nas Organizações", de Tamio Shimizu, Ed. Atlas, 2001.



* Leonardo Chwif é diretor da Simulate Tecnologia de Simulação. Possui mais de 10 anos de experiência em Simulação, tendo realizado mais de 50 projetos. É também professor de simulação em várias universidades e autor de diversos artigos nacionais e internacionais sobre simulação

 

Fonte: Simulate - Tecnologia de Simulação, 05/04/2005.


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