Como evitar que puxem seu tapete
Max Gehringer*

 

 

 

PALAVRA DA SEMANA: OBSOLETO – aquele que ficou habituado e não se reciclou. A palavra veio do latim solere, “acostumar”, mais o prefixo ob, “no sentido de”. De solere veio também o hoje pouco usado verbo “soer” – “ocorrer com freqüência”. O prefixo ob aparece em “óbvio”, de ob viam, “na direção a que o caminho conduz”, em contraposição à noção de criatividade em “encontrar o próprio caminho”.



Duas vezes fui admitido por boas empresas. Em ambas me destaquei rápida e facilmente. E em ambas fui demitido, por inveja de funcionários mais antigos que puxaram meu tapete. Como posso evitar que isso aconteça novamente?G.G.B.

Você provavelmente se destacou naquilo em que é bom – seu conhecimento técnico e sua ambição. E pisou na bola no quesito relacionamento. Uma empresa funciona como o corpo humano no caso de um transplante: um novo órgão que pareça representar uma ameaça ao funcionamento do sistema é rejeitado. Na próxima vez, não saia mostrando aos novos colegas que você sabe mais. Consiga, primeiro, a confiança deles. Essa profilática medida impedirá uma nova rejeição orgânica.

Estudo numa faculdade que obteve uma avaliação baixa no Enade do ano passado. Isso pode vir a prejudicar minhas possibilidades de conseguir emprego?C.R.R. 

Um emprego, talvez não. Mas um bom emprego, sim. Empresas com muitos pretendentes a uma vaga usam o Enade como referência. Mas essa deveria ser a sua segunda preocupação. Mais importante é você se preocupar com a qualidade do que lhe está sendo ensinado, porque isso será muito mais nocivo para seu futuro profissional. 

Um concurso público é uma boa opção? C.J.T. 

Sim. Porém, por precaução, sugiro que você trabalhe numa empresa privada enquanto tenta passar no concurso. Os índices de desemprego levam em consideração as pessoas que procuram trabalho – e, portanto, só contemplam o setor privado. Muito embora não seja fácil conseguir emprego, estatisticamente é mais difícil passar num concurso público, porque o número médio de candidatos por vaga é bem maior.
 


Na próxima vez, não saia mostrando a seus novos colegas que você sabe mais.
Consiga, primeiro, a confiança deles.



Estou no primeiro ano de Engenharia, mas gosto mais de Administração. Meus pais dizem que o mercado já está cheio de administradores e que o melhor seria eu me formar engenheira e depois fazer pós-graduação em Administração.M.A.N. 

Seus pais estão corretos no conselho dado, embora o argumento da saturação do mercado não seja válido. Uma profissão não é mensurada pelo número de formandos, e sim pela proporção entre formandos e vagas oferecidas pelo mercado. Tanto Engenharia quanto Administração formam muitos alunos, mas também oferecem muitas vagas. 

Tenho 41 anos. Ao avaliar minha carreira, concluo que não atingi uma posição de destaque porque não me deixei corromper. Tenho orgulho de meus princípios morais, mas infelizmente eles não são valorizados pelo mundo corporativo.S.G. 

Perdoe-me, S.G., mas, se sua conclusão fosse verdadeira, nenhuma empresa seria ética, e todos os gestores seriam corruptos. Talvez você tenha passado só por empresas ruins ou não tenha dado peso a fatores como marketing pessoal e habilidade política. Acredite, o mundo corporativo não é perfeito, mas também não é tão imperfeito. 

Meu Q.I. é 142. Se eu colocar essa informação no currículo, qual será o efeito?M.M. 

Boa pergunta. Falei com cinco responsáveis por RH em grandes empresas. Duas não usam mais testes de Q.I. Uma usa apenas em áreas que privilegiam o raciocínio lógico (para candidatos a Vendas e Marketing, o teste não é aplicado). As outras duas aplicam testes de Q.I. apenas a candidatos iniciantes, mas ambas fizeram a ressalva de que os resultados não são eliminatórios nem conclusivos, apenas indicativos. Nas duas, uma dinâmica de grupo tem mais peso que o Q.I.

 

* Max Gehringer é comentarista corporativo, autor de nove livros sobre o mundo empresarial – incluindo Pergunte ao Max (Editora Globo) – e escreve semanalmente em ÉPOCA. Para enviar uma pergunta, acesse a coluna do Max em <www.epoca.com.br/max>

 

Fonte: Época Online, 3/10/2008.

 


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