Cooptação: a marca do governo federal

 

 

 

O aliciamento de lideranças do movimento sindical para defender interesses do capital não é nenhuma novidade. A história da humanidade confirma que a cooptação arrasta intelectuais, líderes, dirigentes partidários e sindicalistas, artistas e militantes de esquerda ou do movimento sindical, sem discriminação.

Embora a cooptação tenha nascido com a espécie humana, a história do século passado e do anterior, quando a luta de classes ganhou maior clareza entre os trabalhadores, revela exemplos curiosos de militantes e lideranças de esquerda cujos nomes foram construídos na luta sindical que, ingeridos pela cooptação, passaram a defender, sem nenhum constrangimento ou modéstia, os interesses do capital.

Na Europa do fim do século XIX, dentre outros, destacam-se figuras como Eduard Bernstein (político, filósofo alemão e amigo de Karl Marx) e Karl Kautsky (político e teórico socialista, amigo de Friedrich Engels), que abandonaram os ideais marxistas e as organizações operárias para defender o socialismo reformista e a social-democracia.

Depois da Segunda Guerra Mundial, quando a acumulação capitalista ingressava na era fordista de organização do trabalho e da produção, a cooptação ganhou quase que status de política de Estado. Ela era uma espécie de ferramenta para construção de um suporte político e ideológico que o fordismo necessitava para se estruturar: a social-democracia.

Essa prática ganhou corpo na Alemanha, que inaugurou a social-democracia e adotou procedimentos, tais como co-gestão, parceria, co-responsabilidade, participação nos lucros e outros métodos, para desviar a luta dos trabalhadores do alvo anticapitalista.

Willy Brandt, por exemplo, que em 1930 ingressou no Partido Social Democrata da Alemanha (PSD) e aderiu, um ano mais tarde, a uma ala mais radical do partido, é um nome que não pode faltar nas listas dos militantes cooptados. Na década de 40 do século passado, ele ingressou na carreira política e se tornou um dos maiores colaboradores da consolidação da Alemanha como um dos mais importantes países imperialistas da Europa.

Mas o ícone mais recente desse tipo de ação foi o ex-sindicalista polonês Lech Walesa. Ativista dos direitos humanos, liderança sindical que dirigiu várias greves e manifestações, ele chegou à presidência do Solidariedade – um comitê organizado para coordenar o movimento sindical na Polônia –, contudo, tornou-se primeiro ministro polonês e, para surpresa dos trabalhadores, foi um dos governantes que mais reprimiu greves e manifestações.

No Brasil, em vez de aprender com a história e atuar de forma diferente, as ex-lideranças sindicais que hoje constituem o poder não quiseram deixar uma marca original na história do País. Pelo contrário, decidiram replicar e fortalecer esse tipo de ação e Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se o ícone brasileiro da cooptação. Logo nos primeiros meses do mandato, vários dirigentes sindicais se curvaram perante as benesses do poder e, como os demais cooptados do mundo, ou seja, sem nenhum pudor, posicionaram-se em defesa dos interesses do capital.

Nos últimos oito anos, lideranças sindicais e estudantis oriundas de entidades historicamente combativas deixaram-se seduzir pelas vantagens políticas e financeiras do poder. Nem o movimento estudantil ligado à UNE escapou do aliciamento. Uma prova disso foi o 51° Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), realizado na Universidade de Brasília, em meados de julho deste ano. Diferentemente do que sempre ocorreu em sua trajetória, este ano, o congresso da entidade estudantil teve como principal personagem o governo federal e as bandeiras de luta foram a defesa das políticas adotadas pelo governo Lula.

No movimento sindical, muitos dirigentes e entidades abandonaram a combatividade e hoje fazem parte do governo federal. Cargos foram distribuídos com o objetivo de arrefecer luta dos trabalhadores. Vários sindicalistas foram contemplados com cargos que variam de ministro do Trabalho a funcionários do alto escalão das grandes empresas nacionais. Nas categorias em que não conseguiram cooptar dirigentes sindicais e suas entidades, o governo tratou de estimular a criação de outros sindicatos, promovendo a fragmentação nas suas bases.

Confira aqui, matéria do Correio Braziliense na qual há uma ilustração sobre a cooptação de dirigentes sindicais no governo Lula.

 

Fonte: Andes-SN. Com informações de várias publicações na internet.

 


Coletânea de artigos


Home