Desperdício de informação
e verbas prejudica ensino
 
 

Investimento de R$ 30 milhões por ano não garante boa qualidade na educação  

O Brasil desperdiça, anualmente, cerca de R$ 30 milhões e um banco de dados com informações valiosas sobre os problemas e avanços da educação brasileira. Esse é o valor investido nos programas de avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação (Inep/MEC), como o Exame Nacional de Cursos (Provão), Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), cujos resultados, divulgados com alarde, deveriam gerar políticas públicas de melhoria da qualidade do ensino, o que não acontece.

Apesar de apontarem com certa precisão os problemas da educação no País, os sistemas perdem sua importância à medida em que seus resultados não alteram a realidade do ensino brasileiro. O caso mais claro é o do Provão, criado em 1996, para regular a qualidade do ensino superior brasileiro. Cursos avaliados por três vezes consecutivas com notas D e E deveriam ser fechados, mas, em todo País, dezenas deles já acumulam sete notas baixas, sem que nenhuma instituição tenha sido punida.

Para o presidente do Inep, Otaviano Helene, o Provão nem mesmo pode ser considerado um instrumento eficiente de avaliação, a começar pela forma como a pontuação é definida. Independentemente da nota que tenham recebido, numa escala de 0 a 100, os cursos serão divididos, de acordo com sua proximidade com a nota média da área, de A até E. Na carreira de matemática, vários cursos receberam conceito A, embora a média da área tenha sido apenas 18, em 100, no Provão 2002. Já em administração e direito, áreas com o maior número de cursos, a distância entre cursos com conceito A e E chegou a ser inferior a 20 pontos. Esse tipo de avaliação não define se os cursos são bons ou ruins. Diz apenas que alguns são melhores que os outros, mesmo que, em alguns casos, todos sejam igualmente ruins , pondera Helene. Outro problema é a falta de confiabilidade nos dados. Como os alunos não são punidos pelas notas baixas, há casos de boicote. A sociedade nunca é capaz de dizer se a nota E significa um curso mal avaliado ou se os estudantes é que entregaram as provas em branco ou se esforçaram pouco para respondê-las , completa. A distorção chegou a tal ponto que instituições privadas mal avaliadas, nos primeiros anos, passaram a oferecer prêmios, como carros, bolsas de estudo no exterior e viagens internacionais, para estimular seus alunos a tirar melhores notas. Também passaram a atrair, com pagamento de bolsa e até ajuda de custo, os melhores alunos de outras instituições, na esperança de melhorar, artificialmente, o desempenho.

Seminário

Representantes das secretarias estaduais e municipais de Educação, universidades, estudantes, professores e formuladores de políticas públicas reúnem-se hoje e amanhã, em Brasília, durante o seminário "Avaliar Para Quê? Avaliando as Políticas de Avaliação Educacional". O objetivo é discutir de que forma os sistemas brasileiros podem ser aperfeiçoados e como seus resultados devem ser utilizados na elaboração de políticas públicas que minimizem os problemas apontados nas análises.

 

Fonte: Estado de Minas - Tacyana Arce - Belo Horizonte MG


 

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