Dispersão de saberes prejudica aprendizado

 

A fragmentação dos saberes é um grande problema no ambiente acadêmico. As disciplinas trabalhadas de forma dispersa, quando poderiam ser estudadas de maneira integrada, prejudicam o aprendizado, desmotivam estudantes e docentes, incentivam a decoreba e distorcem a realidade. Estas conclusões fazem parte do mestrado do psicólogo Reinaldo Koei Yonamine defendido no instituto de psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

Fazendo um recorte do tema, o especialista realizou um mapeamento

 

relacionando as disciplinas psicologia, antropologia e sociologia. Ele percebeu que, a medida em que ocorre a heterogeneidade de conceitos e de linguagem, barreiras institucionais, políticas e ideológicas são criadas, fazendo com que a fragmentação do conhecimento aconteça e o diálogo entre as áreas fique comprometido.

"O máximo que ocorre, em boa parte do ambiente acadêmico, é a consulta sobre assuntos de outras áreas, mas dificilmente o trabalho é inter ou transdisciplinar. Os indicadores apontam para uma produção individual, pesquisas que caminham sem nenhuma troca", revela. "A questão de salário e a pouca verba investida nesse campo ajudam a tornar o ambiente fechado. Percebemos isso na própria USP, onde as áreas vizinhas pouco conversam", conta.

Segundo o psicólogo, quando ocorre o trabalho integrado, este é feito de forma submissa. "Um especialista de determinada área convida outros para participarem de seu projeto, mas eles devem obedecer às regras estabelecidas. Existe muita vaidade no ambiente acadêmico e pouca vontade de trabalhar visando um pensamento coletivo", diz.

Mas, se para muitos especialistas a transdisciplinaridade é uma utopia, ele mostra que o mundo corporativo já vem, há algum tempo, valorizando a integração de saberes e que o meio acadêmico, apesar da grande fragmentação, já apresenta algumas mudanças. Numa pesquisa realizada com diretores de instituições de ensino superior, dirigentes de empresas, executivos de multinacionais e consultores, foi percebida grande tendência à homogeneização.

Ele cita o exemplo do projeto Poli 2015, da Escola Politécnica da USP. O projeto reúne um público heterogêneo - docentes, pesquisadores, alunos, ex-alunos, diretores e docentes de outras faculdades - , para juntos definirem o tipo de engenheiro que a sociedade deseja que a universidade forme bem como a escola que seria adequada para essa formação. "Outro modelo bem sucedido é do Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos, que tem como ideal estudar tanto os detalhes de determinado assunto como de forma multidisciplinar e colaborativa. Eles mostram que o conhecimento especializado fica sem sentido e compromete a realidade", exemplifica.

Para ele, a ciência poderia resolver cada vez mais problemas caso houvesse integração nas áreas do saber. "Juntar é trabalhoso, gera conflito, mas é o único caminho para se lidar com a complexidade. Exige um exercício intelectual de paciência, mas é a solução mais rica, que respeita as diversidades e diferentes pontos de vista", acredita.

 

Fonte: Aprendiz, Karina Costa, 4/1/2007.


Opiniões sobre os artigos ...


Coletânea de artigos


Home