'Doping' acadêmico vem à tona na universidade

          

Num recente comentário na revista Nature, dois pesquisadores da Universidade de Cambridge relataram
que cerca de uma dezena de seus colegas admitiram o uso regular de drogas como Adderall
 

Por enquanto, ninguém está pedindo que sejam aplicados asteriscos a premiados com o Nobel ou o Pulitzer. Agentes federais não estão invadindo departamentos de Antropologia, testando a urina de professores. E, se há professores misteriosos de óculos escuros e vínculos com laboratórios de porão, ninguém os expôs.

Mas uma era de doping pode estar surgindo na academia, e ela está provocando um debate sobre política e ética que, de certa maneira, faz eco à controvérsia sobre as acusações de intensificação de performance contra atletas de elite.

Num recente comentário na revista Nature, dois pesquisadores da Universidade de Cambridge relataram que cerca de uma dezena de seus colegas admitiram o uso regular de drogas como Adderall, um estimulante, e Provigil, que promove o estado de vigília, para melhorar seu desempenho acadêmico.

A primeira é aprovada para o tratamento de distúrbios de déficit de atenção, a segunda para a narcolepsia, e ambas são consideradas mais eficazes, e mais acessíveis que as drogas que circulavam pelos dormitórios antigamente.

Choveram cartas e um debate online se instalou. A revista vem conduzindo sua própria e mais rigorosa pesquisa, e até agora pelo menos 20 entrevistados disseram ter usado as drogas, segundo Philip Campbell, editor-chefe da revista. O debate pegou fogo no site do The Chronicle of Higher Education, com acadêmicos e estudantes.

Mas aguçar percepção para melhorar o desempenho em exames ou preparar apresentações será realmente o mesmo que injetar hormônios para bater um recorde? Alguns argumentam que esse poderia ser pior, em razão de seu impacto na sociedade.

Outros insistem, porém, em que a questão ética não está tão clara, e que o desempenho acadêmico é, de muitas maneiras, diferente de disputas de corrida ou de ciclismo.

 

Fonte: O Estadão, 11/3/2008.

 


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