Reconhecer as diferenças: a chave da educação inclusiva

 

A educação inclusiva, se definida de maneira simplista, é aquela que agrega um mesmo ambiente de pessoas com e sem deficiência. Surgiu como uma resposta a um modelo antiquado que tinha como preceito afastar as pessoas com deficiência da sociedade, relegando-as a pouca ou nehuma educação.

Colocando essa questão numa balança, temos de um lado uma lei que assegura a inclusão e do outro a ausência de uma infra-estrutura social compatível com as exigências específicas capazes de viabilizar os diferentes grupos. Para que essa balança seja equilibrada é preciso “reconhecer e considerar as diferenças (cognitivas, lingüísticas, culturais), rompendo com os padrões de uma suposta ‘normalidade’, e criar condições para que o processo de ensino-aprendizagem se desenvolva com sucesso, em todos os seus sentidos”. É dessa maneira que Fábio Bezerra de Brito, diretor da Escola de Aplicação (EA) da Faculdade de Educação (FE) da USP, acredita que devemos enxergar ao pensar em educação inclusiva.

Mas para isso, segundo o professor, é preciso, antes de mais nada, o conhecimento. Isso é necessário para entender que o que a sociedade ou até muitos textos da legislação chamam de "deficiência" compreende muitas coisas: desde a deficiência física, os transtornos mentais, até a surdez - que a pedagogia atual não trata como uma deficiência, mas sim uma minoria lingüística. “Para cada uma das chamadas ‘deficiências’, existe um conjunto de recursos, físicos e humanos, que se faz necessário e sem o qual se pode comprometer seriamente o desenvolvimento cognitivo e pessoal do educando”, explica Brito.

O professor reconhece que a maior parte das escolas regulares ainda não está preparada para receber esses alunos. Mas, para Brito, esse não é o único problema nesse âmbito. A chave da questão está na cultura escolar que reflete a cultura da sociedade como um todo - com todas as suas ideologias e divisões de classe. O professor aponta: mesmo que existam todas as condições concretas para a inclusão, muitos alunos, professores e funcionários poderão continuar a ver naquele aluno com deficiência um ser "anormal", "incompleto", deficiente".

Diante desse quadro exposto pelo educador, qualquer processo de inclusão precisa abranger a dimensão de um trabalho formativo com toda a comunidade escolar e social, de modo geral, para mudar essa visão de "deficiência".

Persistência

Apesar de várias associações terem se mobilizado na defesa dos direitos das pessoas com deficiência e, graças a isso, terem conseguido algumas vitórias no referente à inclusão com qualidade, Brito acredita que ainda há muito que fazer. Ele parabeniza intelectuais e alguns veículos da imprensa que têm trabalhado para desmistificar a questão da deficiência, mas, mesmo assim, o educador acredita que ainda há muita ignorância e desinteresse sobre o assunto.

“Eu penso que a forma como uma sociedade e suas instituições se relacionam com as pessoas com deficiência - e com a diferença, no seu sentido mais amplo - demonstra o seu grau de civilidade”, finaliza.

 

Fonte: USP Online, Verónica Oliveira, 7/5/2007.

 

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