Ensino superior cresce, mas salário diminui

 

O aumento da oferta de mão-de-obra mais qualificada no mercado de trabalho pode ser constatado também a partir dos dados do Ministério da Educação. Foi justamente no ensino médio e no nível superior, os dois níveis de escolaridade que mais perderam renda de 1995 a 2004, em que houve a maior alta no número de concluintes no mesmo período.

Em números absolutos, o crescimento mais expressivo foi o do ensino médio. O Censo Escolar de 1995 indicava que o país formou, na época, 917 mil pessoas no ensino médio. Nove anos depois, o censo de 2004 mostrava que esse contingente havia dobrado e as escolas haviam formado 1,9 milhão de brasileiros com diploma desse nível de ensino.

O crescimento no número de concluintes de nível superior foi menor em termos absolutos, mas ainda mais expressivo em termos proporcionais. Em 1995, segundo o Censo da Educação Superior, as universidades deram diploma a 246 mil estudantes. Em 2004, esse contingente pulou para 627 mil, uma variação de 155%.

As tabulações do Cebrap mostram que foram os trabalhadores com esses níveis de escolaridade que mais perderam renda de 1995 a 2004. A renda média dos que completaram o ensino médio caiu 36%, ao passar de R$ 1.335 para R$ 857.

A segunda maior queda foi verificada entre os trabalhadores que possuíam nível superior. A renda, que era de R$ 3.291 em 1995, caiu para R$ 2.342 em 2004, uma queda de 29%.

Mas, como a queda dos trabalhadores de nível médio foi maior do que a dos com ensino superior completo, a distância entre esses dois trabalhadores só aumentou.

Em 1995, os diplomados do ensino superior tinham renda 147% maior do que os com nível médio apenas. Em 2004, essa diferença aumentou para 173%.

O aumento dessa diferença entre os rendimentos dos com ensino superior completo e os que só têm o nível médio também pode ser explicada pela maior oferta de empregos em setores que pagam salários melhores e que demandam profissionais com maior nível de escolaridade.

É o caso, por exemplo, da indústria, das áreas de educação e saúde e do funcionalismo público, que ganham participação no total de trabalhadores. Em 1995, 13,9% da força de trabalho do país estava na indústria. O percentual declinou ao fosso de 13% em 1999 e recuperou-se nos anos seguintes, até chegar a 14% em 2004 -mais alta marca desde 1993.

Administração pública Também cresceu a participação da administração pública no emprego -de 4,8% em 1995 para 5% em 2004. Mas o maior ganho ocorreu nas atividades de educação e saúde, cujo peso no total do emprego saltou de 7,7% em 1995 para 8,9% em 2004.

Os dados mostram que o emprego nesses ramos cresceu acima da média, pois esses setores ganham relativamente peso em detrimento de outros.

Na contramão desse movimento, as atividades agrícolas, com menores remunerações e menos qualificação profissional, perderam espaço na estrutura do emprego no país. Em 1995, 28,4% dos trabalhadores eram ligados à agricultura ou à pecuária. A cifra baixou para 19,9% em 2004.
 

Fonte: Folha de S. Paulo, 15/01/2006


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