Escândalo Nacional!

 

Agora que o Banco Central teve um acesso espantoso de sabedoria
e não aumentou a taxa de juro, só me resta falar do outro escândalo:
corrupção. Os tucanos estão exultantes. Era só o que nos faltava:
ter que aturar FHC ou algo equivalente de 2007 em diante.


Fiquei em apuros, leitor. O Banco Central não aumentou a taxa de juro. Francamente! Já estava com o tema e até o título do artigo engatilhados: “Escândalo nacional!” – com ponto de exclamação e tudo. Agora que o Banco Central teve um acesso espantoso de sabedoria, só me resta falar do outro escândalo. Posso pelo menos aproveitar o título.

Corrupção. É um assunto cheio de meandros e sutilezas, no mínimo tão complexo quanto a política monetária. Não saberia dizer, confesso, se a gravidade do escândalo atual é maior, menor ou igual à dos escândalos dos governos Collor ou FHC.

Vale a pena fazer as comparações. Os colloridos são cartas fora do baralho, é claro. Já os tucanos estão exultantes. Só pensam em 2006. Fazem pose de estadista e pedem apuração serena das denúncias. Mal conseguem disfarçar a sua satisfação.

Era só o que nos faltava: ter que aturar FHC ou algo equivalente de 2007 em diante.

Escrevo essa frase e paro, desalentado. Que diferença faria, afinal? De certa maneira, seria a volta dos que nunca se foram. Durante o governo Lula, a área econômica continuou sob controle quase completo de técnicos e financistas profundamente afinados com a agenda do governo anterior. A rigor, o tucanato nunca desocupou o Ministério da Fazenda e o Banco Central. O único petista que anda por lá é o próprio ministro da Fazenda, o que pouco representa na prática.

Paro, outra vez (não está fácil escrever hoje). Por mais importante que seja, a área econômica não é tudo num governo. O governo Lula trouxe progressos em alguns outros campos. Na política externa, por exemplo. As negociações comerciais foram conduzidas com mais firmeza e independência. A Alca não foi adiante. O Brasil passou a desempenhar papel mais relevante na OMC. Progrediram os entendimentos comerciais com outros países em desenvolvimento.

Existia, também, a esperança de um segundo mandato menos amarrado e menos acovardado em matéria de política econômica. Não parecia impossível que o presidente fosse ganhando confiança aos poucos e chegasse a um segundo mandato sem tantos compromissos com o continuísmo rotineiro no terreno econômico-financeiro.

Ingenuidade? Talvez. Seja como for, a crise política atual parece estar reduzindo essas tênues esperanças a pó. Em questão de poucas semanas, a situação se modificou com uma rapidez impressionante. De franco favorito para as eleições de 2006, Lula passou a lutar por sua sobrevivência.

Os donos do poder real não estão dispostos, por enquanto, a derrubá-lo. Preferem, aparentemente, a sua continuação no cargo. Com algumas condições. Primeira: o presidente terá que se livrar da "parte podre do governo", isto é, aquela que foi mais diretamente atingida pelas denúncias de corrupção. Com a saída de José Dirceu, Lula começa a atender essa primeira condição. Segunda condição: a política econômica, a "parte sadia do governo", deve ser preservada, custe o que custar.

Ocorre que, por uma “feliz coincidência”, a “parte podre” é justamente a que mais incomodava a área econômica do governo e os donos do poder. Pelo menos é o que se pode depreender do que está vindo a público.

O presidente pediu ontem que o seu governo só seja julgado quando acabar.

Será que já não acabou, presidente?

 

Fonte: Ag. Carta Maior, Paulo Nogueira Batista Jr., 17/06/2005.


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