Estratégia tucana

 

Primeiro, o PSDB jogou com a possível debilidade de Lula, e tentou um “acordão” para suportá-lo até o fim do mandato. Mas com as pesquisas que confirmam o seu favoritismo eleitoral em 2006, mudou de estratégia. Agora, o impeachment é o limite.
 

Será mais uma decepção para a cidadania (talvez a última, porque os limites da tolerância estão sendo transpostos) se as investigações em curso cuidarem apenas do que ocorreu no governo Lula. E é isso que querem o Sr. Fernando Henrique Cardoso e seus fiéis seguidores. Desejam terminar logo com tudo, incriminando Delúbio, Marcos Valério, Genoino e quem mais seja, para que se fortaleça o PSDB paulista no cenário nacional – e a corrupção no governo passado não venha a ser investigada.

Antes, jogando com a possível debilidade de Lula, pretendiam um “acordão” pelo qual suportariam o presidente, abalado e enfraquecido, até o fim do mandato. Diante das pesquisas que mantêm a popularidade do chefe de governo e confirmam o seu favoritismo eleitoral, mudaram de estratégia. Pretendem mesmo, se for possível, mover-lhe processo de impeachment. Em razão disso, a cidadania (começando pela militância autêntica e histórica do PT) deve mobilizar-se para exigir uma devassa completa do que houve nesta República, desde a primeira eleição de Fernando Henrique.

Vamos relembrar, porque é preciso. Seu governo começa com a denúncia de irregularidades no caso do Sivam, com a divulgação de trechos de uma conversa do Presidente da República com um de seus principais assessores. Outros trechos não foram divulgados. Essa gravação foi feita por outro e importante assessor do chefe de governo.

Depois disso, os escândalos surgiram e foram logo abafados, como o do Banco Econômico, com a descoberta da famosa Pasta Rosa - a contabilidade do caixa-dois - em que eram listados os financiadores de candidatos eleitos, as quantias transferidas e os beneficiários; o Proer, que favoreceu o sistema bancário, livrando a cara de banqueiros desonestos; o escândalo dos precatórios no DNER, até hoje não esclarecido; compra de votos para a emenda da reeleição, registrada na confissão gravada, de deputados envolvidos; a desvalorização, em janeiro de 1999, do real, que havia sido mantido artificialmente elevado, para efeito eleitoral, até então; a ajuda, nesse episódio, aos bancos Marka e FonteCidam (a culpa ficou com o Sr. Francisco Lopes, apesar de ter sido registrada a presença do Sr. Pedro Malan no Banco Central na hora da decisão); a entrega de bancos brasileiros aos estrangeiros (como o caso exemplar do Bamerindus, cujos passivos de difícil recuperação foram transferidos ao Banco Central e todos os ativos “vendidos” simbolicamente ao HSBC, sem que ninguém disso soubesse até a conclusão do negócio; a privatização da Telebrás, quando ficou patente a interferência do BNDES e do próprio Presidente, a fim de favorecer o Banco Opportunity, da dupla Daniel Dantas/Pérsio Arida.

Isso sem falar na sonegação fiscal exposta na compra da fazenda em Buritis, pelos srs. Fernando Henrique e Sérgio Motta. Em 2001, o governo FHC ainda conseguiu a proeza de evitar uma CPI geral da corrupção, mediante a compra de parlamentares que haviam assinado o pedido, talvez já contando com a possibilidade de cobrar pela retirada das assinaturas.

Tudo isso, e mais a relação espúria com as agências de publicidade - que serviram a Fernando Henrique e aos governos estaduais ligados ao então presidente - deve ser investigado. Cabe à CPI ir em busca de provas (e provas há, seja na Receita Federal, seja no Banco Central) e mobilizar o Ministério Público. É preciso agir já, antes que vença o prazo de prescrição para esses crimes cometidos contra o patrimônio público.

A palavra de Lula

Lula ainda não sabia das declarações de Marcos Valério e de Delúbio Soares à televisão quando gravou sua entrevista ao serviço brasileiro da emissora oficial francesa. Talvez ele dissesse mais coisas se tivesse tido conhecimento da confissão pública do tesoureiro de seu partido. O fato é que o Presidente mostrava sinceridade em sua rápida entrevista.  

O problema agora é ver até onde irá o confronto entre a nova direção partidária, sob o comando de Tarso Genro, e a equipe econômica, comandada por Palocci. Se o PT quiser reconquistar suas bases perdidas, terá que retornar ao programa aprovado em Congresso Nacional do partido, que é o oposto, em muitas partes, do que vem sendo executado pelo Ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central.

 

Fonte: Ag. Carta Maior, Mauro Santayana, 20/07/2005.


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