Globalização motivou necessidade

 

Mercado exige novas capacidades profissionais e pessoais dos jovens e espera
que universidade colabore

Universidades transmitem conhecimentos técnicos. Essa máxima, que há alguns anos seria incontestável, hoje enfrenta reações contrárias. E elas vêm das empresas, que andam reclamando da falta de orientação aos alunos sobre itens hoje essenciais à atuação em qualquer área: desenvolvimento da inteligência emocional; trabalho em equipe; gerenciamento; perfil comportamental, entre outros.

Do lado das universidades, há alguma discordância, mas há várias que já estão procurando saídas em parcerias com o mercado, para diminuir o que seria essa defasagem.

Eventos patrocinados pelo Instituto Via de Acesso têm sido ilustrativos no que representa esse embate. Segundo o superintende geral do instituto, Ruy Leal, nos últimos três anos, tem sido realizada uma série de mesas redondas com quatro ou cinco representantes de cada lado por evento. E a necessidade dos conhecimentos mais práticos surge constantemente.

As mesas redondas, segundo Leal, têm o objetivo de formar conteúdo, "fazer com que problemas entre escolas e empresas possam se ajustar, para não ficar apenas em ações isoladas ou descontinuadas". De cada mesa participa um setor da economia. Este ano estão programados mais dez eventos (construção, comércio exterior e serviços financeiros e bancários, entre outros).

GLOBALIZAÇÃO

"Os representantes das empresas foram praticamente unânimes ao falar das universidades; que elas sabem preparar bem tecnicamente os alunos, mas que desconhecem as regras do mercado de trabalho", diz Leal.

E o grande argumento dos representantes das empresas para reclamar da falta de conhecimentos mais práticos do mundo corporativo é a globalização, fenômeno que aumentou muito a importância de capacidades como trabalhar em equipe; gerenciar projetos, grupos; relacionar-se com clientes e fornecedores; desenvolver a inteligência emocional; e características comportamentais que permitam atuar no ambiente corporativo com eficiência, entre outros fatores.

Além desses aspectos, Leal cita outro "grave problema", que é a incapacidade de escrever e comunicar-se bem. "É intensa a reclamação das empresas quanto a essa carência, mas já ouvi um representante de universidade responder: 'Meus engenheiros precisam ser competentes tecnicamente e não saber escrever'."

E quais seriam as vias para resolver essas divergências? A aproximação cada vez maior dos dois lados, diz Leal. Por exemplo, diz ele, uma das maneiras, seria uma empresa contratar a universidade para fazer pesquisa que seja de seu interesse. "Este é um caminho muito interessante para ambos, mas só não está sendo mais utilizado por causa da necessidade de sigilo da informação, que para a universidade ainda é uma figura estranha, já que a política de pesquisas públicas não tem esse caráter sigiloso."

RAPIDEZ

A falta de atualização da grade disciplinar nas universidades é geral, na opinião do diretor de RH da incorporadora e construtora Cyrela Brazil Realty, Paulo Mota, ou seja, independe da área. "Simplesmente as universidades não estão conseguindo acompanhar o ritmo do mercado, a demanda alta e crescente das empresas por capacidades fora do âmbito técnico".

Na área de Humanas, por exemplo, diz ele, já não há disciplinas nem tanta orientação nesse sentido. "A área de Exatas, então, passa bem longe delas". O que Mota considera mais importante entre os conhecimentos que o jovem precisa ter ainda no banco da universidade é o gerenciamento de pessoas, "inerente a qualquer atividade".

A Cyrela, por sua vez, dá a seu trainee uma complementação de formação, para chegar ao ideal. "Damos o 'enxoval' todo", diz Mota, ressaltando que são aplicados projetos que "forçam" o trabalho em equipe. Ou seja, formação gerencial. Para os seniores que entram na empresa há cursos rápidos dentro da própria Cyrela. "Enfatizamos a eles o lado comportamental e gerenciamento de equipes". Mota diz que o diferencial hoje em qualquer empresa, no Brasil ou fora, é exatamente o quadro de colaboradores, e suas capacidades pessoais, porque inovações tecnológicas estão ao alcance e podem ser absorvidas por todos.

 

Fonte: O Estado de S. Paulo, Maria Teresa Marques, 29/1/2007.


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