Para a Igreja, Lula diz que a crise é grave

 

Pela primeira vez, em carta enviada à presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu nesta terça-feira, ter "plena noção da gravidade" da crise política do país. O texto de três páginas foi enviado por fax às mãos do presidente da CNBB, cardeal Geraldo Majella Agnelo, e lido durante o plenário da 43ª Assembléia Geral da instituição, que reúne cerca de 300 bispos do país em Indaiatuba, interior de São Paulo.

"Esta assembléia ocorre num momento muito particular do nosso país, em que uma crise política nos atinge fortemente. Quero, com toda a franqueza, afirmar-lhe que tenho plena noção da gravidade do processo que estamos vivendo e de como ele precisa ser superado para que o país retome sua vida normal de desenvolvimento e de inclusão social", diz um trecho da carta de Lula.

O presidente afirma ainda que "todos os erros e desvios" devem ser "apurados e punidos, doa a quem doer". Lula ainda manda um recado a outras esferas de poder -no caso, Legislativo e Judiciário, responsáveis por investigações sobre acusações de corrupção. "Espero que os processos nas demais esferas de poder tenham um desfecho breve, maduro e conseqüente."

O presidente afirma também, no texto, que continua com disposição de trabalhar, apesar da crise política. "Se a atual crise me entristece, ela, de maneira alguma, abate meu ânimo e minha disposição de trabalhar e governar." Para o presidente Lula, o país passa atualmente por uma processo "purificador": "Tenho a esperança de que este seja um processo purificador para a vida política do país".

Para alguns bispos, Lula sinaliza com a carta a tentativa de ganhar apoio da Igreja e evitar críticas contundentes durante a assembléia que termina no dia 17 deste mês. "Gostei da carta, mas acho que o presidente deveria ter mais empenho (em tomar medidas), em vez de transferir a responsabilidade para o Congresso, como ele tem feito", afirmou o arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes.

Outros criticaram a iniciativa de Lula. "Pura hipocrisia", disse o cardeal Eusébio Scheid, o arcebispo do Rio que, ao chegar a Roma em abril para a eleição do papa, declarou que Lula não era católico, mas caótico. "O presidente vai enganar a todos aqui, pois ninguém sabe o que está acontecendo." Para o secretário-geral da CNBB, d. Odilo Pedro Scherer, as palavras de Lula não correspondem à realidade.

Fonte: Veja On-line, 10/08/2005.


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