Lula tenta negar preocupação

 

Apesar de intensa negociação para barrar CPI dos Correios,
presidente usa ironia para demonstrar tranquilidade
 

No mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou demonstrar tranqüilidade diante da possibilidade de instalação da CPI para apurar o escândalo da propina nos Correios, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, corria para tentar barrar a investigação no Congresso.

  Foto: AFP - Apesar de negar o temor pela investigação, o presidente demonstrou cansaço depois de dias seguidos de negociação.

Questionado se o assunto causava preocupação, Lula foi irônico:

- Olhem para a minha cara e vejam se estou preocupado - disse o presidente, com um sorriso nos lábios, ao responder uma pergunta sobre o caso. Ao dar a resposta, Lula tentava também demonstrava um bom humor, mas sua aparência era de cansaço. Nos últimos dias, o presidente vem assumindo conversas para resolver problemas na base governista no Congresso.

Ontem, o governo decidiu que os ministros devem entrar em campo neste fim de semana para tentar convencer os governistas a retirar as assinaturas da CPI dos Correios. O ministro Aldo Rebelo, conversou com todos os ministros ligados a partidos da bancada de apoio - PMDB, PL, PTB e PSB - e reforçou que o Executivo já está investigando o caso por intermédio da Polícia Federal, do Ministério Público e da Controladoria-Geral da União.

Estiveram reunidos com Aldo os ministros dos Transportes Alfredo Nascimento, da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, das Comunicações, Eunício Oliveira, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner e do Turismo, Walfrido Mares Guia. A articulação envolveu até o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que conversou com Aldo por telefone na noite de quinta.

A ofensiva, pelo menos ontem, não surtiu nenhum resultado positivo. No fim do dia, o número de assinaturas permanecia o mesmo: 217 deputados e 49 senadores, número mais do que suficiente para a instalação da Comissão. Por enquanto, está prevista a leitura do pedido na quarta-feira, véspera do feriado de Corpus Christi.

- Vamos ver o que acontece até lá - afirmou, evasivo, o líder do PP na Câmara, José Janene (PR).

Janene ainda não pediu para os seus deputados a retirada das assinaturas. Para ele não adianta assumir este ônus se ainda permanecerem assinaturas suficientes para a criação da Comissão Parlamentar. No início da próxima semana, a direção do PP deve se reunir para tomar uma decisão.

- Por mim, retiravam todos. Mas temos que seguir o desejo da média da bancada - afirmou o presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa (PE).

Janene criticou a oposição, lembrando que, durante o governo Fernando Henrique, em situações como essa, a cúpula governista - incluído o próprio FHC - ligava para deputados e senadores pedindo a retirada das assinaturas.

- O atual governo ainda está avaliando a situação. Até agora, não recebemos nenhuma orientação - confirmou o líder do Partido Progressista.

Para o vice-presidente da República, José Alencar, retirar ou não assinaturas de um pedido de CPI deve ser encarado como uma prerrogativa individual. Voltou a lembrar que, nos tempos de senador, assinava todos os pedidos de investigação, porque era a favor de apurar qualquer denúncia que representasse algum indício de crime.

- Agora, nunca fiz pré-julgamento. A priori, o cidadão é honesto. A investigação é até boa para o investigado, que terá grande oportunidade de provar a inocência - declarou Alencar.

Sobre a tranqüilidade de Lula, Alencar considera o fato algo natural. Classificou o presidente de um homem de bem, com autoridade moral para não se preocupar com qualquer investigação.

Para o ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), o governo deveria ter trabalhado melhor para evitar a criação da CPI.  

- Agora que ela já está criada, não deveria se preocupar em retirar nomes, principalmente depois que o próprio deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) assinou o requerimento de criação da comissão - disse o parlamentar.

Na avaliação do PT no Senado, Delcidio Amaral (MS), será muito difícil fazer com que os senadores retirem suas assinaturas. A preocupação agora deve ser com a Câmara. Caso as estratégias do governo falhem, a base de apoio deve se concentrar em manter o controle da comissão. 

 

Fonte: Jornal do Brasil, Paulo de Tarso Lyra, 21/05/2005

Charge: IQUE - JB, 21/05/2005

Charge: IQUE - JB, 24/05/2005

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