MARCHA NACIONAL

 

Milhares, em Brasília, cobram promessas Após 16 dias,
extensa agenda oficial

Sem-terra, organizados pelo MST, chegam à capital federal para
exigir reforma agrária e mudança na politica econômica
 


Cerca de doze mil trabalhadores rurais sem-terra, que participaram da Marcha Nacional pela Reforma Agrária, chegam à capital federal, depois
de percorrer, a pé, mais de 200 quilômetros

 

Após 233 quilômetros e 16 dias de caminhada, a Marcha Nacional pela Reforma Agrária chegou a Brasília, no dia 17, e foi recebida pelos presidentes Lula (da República), Renan Calheiros (Senado) e Severino Cavalcanti (Câmara). Cinqüenta representan-tes da marcha se reuniram com Lula para entregar a pauta com os 16 pontos de reivindicação, enquanto 200 sem-terra entraram na Câmara dos Deputados e outros 80 no Senado para participar das suas respectivas sessões.

Foram feitos quatro pedidos aos parlamentares: acabar com a venda de armas e munição no país, expropriar toda a terra onde for constatado trabalho escravo, regulamentar o artigo 14 da Constituição que trata do plebiscito e criar uma comissão mista incluindo o Senado e a Câmara para realizar uma auditoria das dívidas externa e interna.

Os quatro pontos só dependem da vontade dos 513 deputados federais e 81 senadores, que só precisam votar e aprovar projetos que já existem e criar uma CPMI para investigar quanto o país já pagou da dívida. Os números dos projetos são: Projeto de Decreto Legislativo 1274/04 sobre a autorização de realização de referendo sobre a comercialização de armas de fogo em território nacional; Projeto de Emenda Constitucional 438/01 sobre a expropriação de terras; e o projeto de lei 4718/04 que regulamenta os plebiscitos. 

PROMESSAS

Calheiros e Severino se mostraram favoráveis às reivindicações. O presidente do Senado disse que pretende apresentar proposta para que o orçamento da reforma agrária e de projetos sociais não sejam passíveis de contingenciamento em anos futuros, enquanto Severino se comprometeu a apresentar imediatamente para votação o projeto que trata da venda de armas e munição, assim que a pauta da Câmara for desobstruída. 

HOMENAGEM

Na manhã do dia 17, 200 representantes da marcha participaram de sessão solene em homenagem a dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo da arquidiocese de Mariana, Minas Gerais, e ex-presidente da CNBB, pedida pelo deputado federal César Medeiros (PT/MG). O vice-presidente da República, José Alencar, presente, cumprimentou "os brasileiros do MST" que vieram saudar dom Luciano. O MST estendeu uma faixa que dizia: "Dom Luciano, bispo dos pobres".

O deputado federal Adão Preto (PT/RS) usou o microfone para dizer que dom Luciano pode ser considerado "um verdadeiro representante do Cristo legítimo, que foi assassinado por estar ao lado dos pobres, já que Cristo não escolheu entre seus apóstolos nenhum latifundiário".

A atriz Letícia Sabatella, o ator Marcos Winter, Plinio Arruda Sampaio, dom Tomás Balduíno, Patrus Ananias, Luiza Erundina e Ivan Valente também estavam na homenagem. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, chegou com duas horas de atraso e, após a sessão, conversou com Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, no saguão do prédio da Câmara, em frente dos 200 representantes da marcha.

"Não posso aceitar que muitos tenham quilômetros e quilômetros de terra enquanto outros não tenham nada", afirmou Severino, que chegou a receber uma caixa das mãos de Gilmar Mauro contendo milhares de assinaturas pedindo a regulamentação do plebiscito no Brasil. 

PM EM CENA

Ciceroneado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), 20 marchantes foram à ante-sala do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) para que ele também recebesse a pauta com os quatro pontos citados acima.

Ao receber uma mochila da caminhada de presente, Calheiros elogiou a organização da marcha: "Pela grande organização e serenidade, o MST provou que é possível, sim, reivindicar com civilidade no Brasil".

Serenidade que faltou a Polícia Militar do Governo do Distrito Federal de Joaquim Roriz. Às 18 horas, quando grupos de teatro em frente ao Congresso se preparavam para se apresentar para os integrantes da marcha, vôos rasantes de um helicóptero com um policial com uma metralhadora voltada para a multidão começou a provocar os sem-terra e destruir os bonecos gigantes do teatro. 

CAVALOS E FERIDOS

De repente, a Cavalaria Montada com espadas de fios cortantes e pontiagudas entrou no meio do povo e cavaleiros feriram alguns manifestantes, que foram encaminhados ao hospital.

"Ninguém vai jogar sapatos e bandeiras contra a polícia sem que tenha sido agredido", disse a senadora Heloísa Helena que, junto com Eduardo Suplicy, Plinio Arruda Sampaio, João Alfredo, Adão Preto e o deputado Babá se interpuseram entre os cavalos e os feridos.

Enquanto conversavam com o comandante, os cavalos bufavam nos seus rostos, devido à proximidade que estavam do conflito, forçando-os a também sair da frente até que a própria segurança do MST conseguiu recuar os marchantes para evitar mais provocações.

Um repórter chegou a receber uma proposta em dinheiro da Polícia Militar para vender sua reportagem, ao invés de publicála no jornal. O repórter dizia aos policiais que tinha visto tudo desde o começo e podia provar que a polícia começou o incidente.

Charge: Maringoni - Ag. Carta Maior

 

Fonte: BrasildeFato, Marcelo Netto Rodrigues, edição nº 116, 19 a 25/05/2005.


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