Ministro sugere passeata por mais verba
 

Durante encontro com estudantes, Cristovam Buarque propôs uma caminhada até o Congresso para pedir recursos  

O ministro da Educação, Cristovam Buarque, sugeriu ontem que estudantes façam passeata até o Congresso durante a votação do Orçamento, em outubro. "Vamos fazer uma caminhada até o Congresso para pressionar os deputados a dar mais dinheiro para a educação", disse o ministro, para uma platéia de cerca de 400 alunos do ensino médio. Há cerca de três meses, o ministro foi repreendido pelo Planalto por ter reclamado publicamente da falta de dinheiro -Cristovam diz que são gastos R$ 54 bilhões anuais em educação básica, mas que seriam necessários mais R$ 25 bilhões para a área. Anteontem, em entrevista à rádio CBN, fez novas críticas e pedidos de aumento de recursos.

A idéia da "caminhada" surgiu quando Cristovam respondia a uma pergunta de Hassadan Lais, 18, aluna do terceiro ano do ensino médio, que disse se sentir de mãos atadas para melhorar a educação no país. "Suas mãos estão atadas, mas seus pés, não", afirmou o ministro. "É o meu futuro que está em jogo. Não é passeata que vai resolver", respondeu a estudante, que revelou ter votado em Anthony Garotinho (PMDB, ex-PSB) para a Presidência. Após cerca de uma hora e meia de conversa com os alunos, Cristovam diminuiu o tom e tentou, durante uma entrevista, mudar o enfoque do pedido por verba.

Questionado sobre a convocação para a passeata, o ministro disse que "primeiro, isso faz parte da educação cívica dela". "Segundo, porque, se não lutarmos para que se mantenha, no Congresso, o dinheiro que o governo mandou, é capaz de ter emendas lá de outros setores tirando." O ministro deu a Lais seu e-mail e pediu o endereço da aluna. Disse que a avisaria quando houvesse data marcada para a votação do Orçamento no Congresso. E com alguma antecedência, para que ela organizasse a passeata. O ministro participou de um bate-papo com os estudantes promovido pela Fiat, para divulgar um concurso de literatura. Ele encerrou a conversa minimizando a demora do governo em promover mudanças na educação. "Ainda dá para dar desculpa, não é? Oito meses, coisa e tal, blablablá, o Orçamento ainda é importado. Mas a gente vai ter que responder. A gente não veio aí apenas para manter como está." Cristovam foi bastante aplaudido. Ao final do encontro, estudantes o cercaram pedindo que autografasse livros de Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, entre outros autores, doados pela montadora. Quando tentava sair, o ministro foi abordado por Marcia Alves Ferreira, 57, que se disse professora aposentada. Ela perguntou como é possível haver escolas sem papel higiênico. O ministro respondeu que a responsabilidade por manter as escolas é estadual.

Após criticar a escassez de recursos diante dos alunos, Cristovam afirmou, em entrevista a jornalistas, que não estava reclamando ou pedindo mais dinheiro. "Ao longo das próximas décadas, se queremos de fato ficar igual à Coréia, à Irlanda, à Espanha, vamos ter que colocar mais recursos. Não peço mais dinheiro porque sou do governo e sei que é impossível. Sei que já foi um esforço muito grande colocar o aumento que vamos ter em 2004." Segundo a assessoria do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis comentar as declarações. Sem entrar em detalhes, o ministro afirmou que a "elite" deveria pagar de alguma forma o estudo gratuito em universidades mantidas pelo governo. "Sou um radical da escola pública gratuita, de qualidade e com compromisso social. Se a universidade não tem compromisso social, não está cumprindo sua função."
 

Fonte: Folha de S. Paulo, 11/09/2003 - SP


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