A nova fria do governo

 

Lula se expôs publicamente com aquela cena das mãos dadas com a cúpula do PMDB. E pode ter sido inutilmente, porque ofereceu mundos, fundos e quatro ministérios para o partido, mas os peemedebistas estão desdenhando o dote.

O presidente do PMDB, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, ofereceram a Lula uma mercadoria que não podem entregar: a unidade do partido em torno do governo. Ou melhor, "da governabilidade", como gostam de dizer.

Precipitaram-se porque, depois dos salamaleques e das fotos com Lula já publicadas nas primeiras páginas dos jornais, os setores peemedebistas, um a um, passaram a tirar o corpo fora. Primeiro, os sete governadores. Depois, Orestes Quércia e a seção paulista. Agora, a Câmara dividida.

Diante do desastre, Temer, Renan e um terceiro líder, o ex-presidente José Sarney, passaram a se estranhar. Temer foi acusado de falar uma coisa para o presidente da República e articular outra com o grupo oposicionista que é doido para voltar para os braços do PSDB. Renan, de forçar a barra sem ter condições de bancar a oferta. Sarney, de trabalhar intensamente nos bastidores pela aproximação com o Planalto, mas ficar em cima do muro publicamente.

A tentativa da dupla Renan-Sarney, agora, é um nova modalidade de divisão do partido: as bancadas da Câmara e do Senado majoritariamente com o Planalto, e os governadores negociando depois, individualmente, seus interesses com a área econômica.

Também não está funcionando. A bancada do Senado fechou, mas a da Câmara se reuniu ontem (terça-feira) e não disse sim nem não, deixando a Temer o anúncio de que iria a Lula dizer o seguinte: "Sinto muito, mas não chegamos à unidade. Fica tudo como está". Ou seja: ficam os dois ministérios do partido, e esquecem-se os outros dois.

Como já previsto aqui neste mesmo espaço, o preço do PMDB está aumentando muito. Com o governo forte, era interesse do partido pular dentro. Com o governo fazendo água, agora quem tem de se esfalfar para manter o partido dentro é o governo.

Ou seja, o governo vai ficando cada vez mais obrigado a ceder, ceder e ceder para tentar se reequilibrar e reconquistar o controle da situação.

Até Antonio Palocci Filho, sempre tão técnico, tão distante, está entrando de cabeça na contra-ofensiva governista. A intenção é isolar a CPI dos Correios e as denúncias, abrindo os cofres para garantir fidelidade dos aliados e governabilidade.

"A vida é dura", como gosta de dizer o ex-ministro José Dirceu. 

 

Fonte: Folha Online, Eliane Cantanhêde, 29/06/2005.

Charge: Aroeira - Jornal O Dia

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