Ministério propõe pacto com universidades
 

Acabar com as mais de 200 mil vagas ociosas nas universidades brasileiras para poder aumentar o acesso ao ensino superior público e privado. Esse é um dos principais objetivos do novo secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Carlos Roberto Antunes dos Santos. O cargo é considerado pelo ministro Cristovam Buarque como decisivo para o futuro do ministério, já que tem a responsabilidade de coordenar uma mudança no ensino superior. "Temos que fazer um pacto com os reitores: ver o que as universidades podem fazer pelo Brasil e o que o governo pode fazer pelas universidades", disse Santos ao Estado.

A idéia de Santos, cujo nome como secretário deve ser publicado no Diário Oficial amanhã, é pedir um esforço para que as universidades ocupem vagas deixadas por trancamento de matrículas ou desistências. "Como o número de alunos deve aumentar, vamos analisar cada situação para poder dar ajuda financeira e de recursos humanos", completou.

Segundo o Censo da Educação Superior 2000/2001, cerca de 230 mil universitários abandonam seus cursos durante a graduação. São essas as vagas ociosas que poderiam ser preenchidas com as medidas do novo secretário. Além delas, o problema se agrava no processo vestibular. As federais ofereceram 123.500 vagas e 121.200 foram ocupadas. Essa diferença nas universidades estaduais é de 20 mil lugares. Já no ensino privado, há cerca de 450 mil vagas não preenchidas nos processos seletivos.

A solução desse problema já havia sido classificada como primordial pela equipe de transição. Depois disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou publicamente sua preocupação com o aumento do acesso à universidade no País, que se contrapõe ao elevado número de espaços vazios nas salas de aula.

Repercussão - O nome do novo secretário de Ensino Superior foi bem recebido entre as entidades sindicais da área. "Ele é um excelente conciliador e tem grande credibilidade na comunidade acadêmica, que são qualidades essenciais para esse cargo", disse o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Universidades Federais (Andifes), Mozart Ramos. Foi ele inclusive quem indicou Santos ao ministro Cristovam, quando perguntado sobre uma sugestão de nome para o cargo. O novo secretário foi também presidente da Andifes em 2001, enfrentando a pior greve do sistema federal de ensino, que durou cinco meses.

O vice-presidente da Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes), José Domingues de Godói Filho, lembra que, durante a paralisação, os contatos com Santos foram positivos. "As relações eram boas, não dá para dizer que não havia diálogo." O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Felipe Maia, também elogiou a atuação de Santos durante a greve. "O reitor teve um postura muito boa para o movimento, explicitando para a sociedade os problemas da universidade e negociando as reivindicações com o ministério."

Sobre a proposta do novo secretário de ocupar as vagas ociosas das universidade, Godói diz que para isso será necessário reforçar a própria estrutura universitária. "Temos um déficit de 6 mil professores. Desde a época do governo Figueiredo não há ampliação de vagas para professores nas universidades." Além de contratação de docentes para dar conta de uma eventual ocupação das vagas, Godói diz que a infra-estrutura atual precisará ser incrementada. "Vai ser preciso equipar as universidades, que sofrem com defasagem nas bibliotecas e falta de manutenção nos laboratórios."

Segundo Ramos, reitor da Universidade Federal de Pernambuco, as vagas ociosas não são o maior problema enfrentado pelo sistema. "O mais importante é regularizar o repasse de verbas feito pelo governo federal, que foi muito prejudicado nos últimos anos." Godói espera também que o novo secretário abra espaço para negociações sobre reposição salarial para os docentes das universidades federais. "A perda salarial nos últimos passa dos 100%."

Burocracia - O novo secretário afirmou estar preocupado com a estrutura atual da universidade, que ele considera antiga e burocrática. "É preciso construir um projeto de uma nova universidade. A sociedade mudou, o conhecimento hoje é a grande moeda de troca e por isso precisamos qualificar cada vez mais a população", disse Santos. Um dos caminhos para isso, segundo ele, é criar novos cursos, com caráter multidisciplinar.



Fonte: O Estado de S. Paulo – 15/01/2003.


 

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