Patrimônio brasileiro no exterior chega a US$ 111,7 bilhões

 

O país campeão de investimento multinacional das empresas brasileiras é um paraíso fiscal,
as Ilhas Cayman, com US$ 15,1 bilhões. A ilha encabeça a lista desde o início da
pesquisa em 2001, por ser uma parada para evitar impostos

Nos últimos dias, a empresa Vale do Rio Doce fechou um negócio de US$ 13,5 bilhões, ao comprar uma concorrente no Canadá. A operação deve colocar o Brasil no topo da lista de países latino-americanos com mais investimento em empresas estrangeiras – hoje, ocupa o segundo lugar. É também um exemplo da atuação multinacional cada vez maior das companhias brasileiras, que tem reflexos importantes no patrimônio nacional no exterior (de empresas e pessoas físicas) que o governo consegue medir, de US$ 111,7 bilhões até o fim de 2005, segundo pesquisa divulgada pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (30).

De 2001, quando a pesquisa começou a ser feita, a 2005, o investimento multinacional das empresas cresceu 60%, de US$ 50 bilhões para quase US$ 80 bilhões. O peso dele no total do patrimônio brasileiro no exterior pulou de 62% para 71% no período. Essas mesmas operações foram as principais responsáveis pelo reforço de 20% no patrimônio total de 2004 para 2005.

O incremento de 20% foi o mais elevado desde o início do levantamento. Em valores, significa US$ 18,2 bilhões. Os investimentos multinacionais responderam por US$ 10 bilhões – é verdade também que, como diz o BC, também houve o efeito de valorização de bens, ou seja, a atualização de quantias declaradas.

O combustível da crescente internacionalização das empresas nacionais são as exportações, segundo o BC. É por isso que cada vez mais empresas compram fábricas, arrumam sócios em outros países ou até constroem unidades. “O exportador brasileiro deixou de ter uma atuação oportunística de se voltar para o mercado externo apenas quando o mercado interno estava deteriorado”, afirmou o chefe do Departamento Econômico do banco, Altamir Lopes. “Por isso, muitas empresas optam por ficar mais perto do seu mercado externo.”

O país campeão de investimento multinacional das empresas brasileiras é um paraíso fiscal, as Ilhas Cayman, com US$ 15,1 bilhões. A ilha encabeça a lista desde o início da pesquisa, por ser uma parada estratégica – permite evitar impostos. “As empresas se aproveitam das facilidades fiscais e de lá recolocam o dinheiro em outro país”, afirmou o chefe do Departamento de Combate a Ilícitos Financeiros e Supervisão de Câmbio e Capitais Internacionais do BC, Ricardo Liao.

Perfil do patrimônio

O patrimônio brasileiro no exterior de US$ 111,7 bilhões foi obtido pelo BC a partir de 12,366 mil declarações entregues por pessoas e empresas instaladas no país que possuíam ao menos US$ 100 mil no exterior até 31 de dezembro de 2005. Pela cotação do dólar naquele dia, o Brasil matinha R$ 260 bilhões lá fora, o equivalente a 13,5% do produto interno bruto (PIB), que é o total das riquezas produzidas pelo país durante um ano.

A cifra apurada pelo Banco Central engloba diversas situações, como dinheiro investido em empresas e ações, empréstimos, contratos de leasing, depósitos e até especulação com a dívida externa brasileira. Mas não representa todo o patrimônio, pois desconsidera quantias inferiores a US$ 100 mil e, claro, dinheiro cujo dono esconde-o das autoridades. O BC não tem estimativas sobre o caixa-dois.

No fim do ano passado, de cada US$ 100 em patrimônio no exterior, US$ 78 pertenciam a empresas e US$ 22, a pessoas comuns. A proporção quase repete a de 2004. No total, 1,633 mil empresas entregaram declaração ao BC. Guardam US$ US$ 87,4 bilhões, uma média de US$ 53,5 milhões por empresa. Em 2004, a média era de US$ 45 milhões. Já as pessoas comuns com patrimônio no exterior somavam 10,733 mil. Tinham US$ 24,3 bilhões, cerca de US$ 2,2 milhões para cada uma, em média. Em 2004, cada uma tinha US$ 1,9 milhão em média. 

O levantamento serve para o governo fazer estudos sobre as relações do Brasil com o exterior e também ajuda na fiscalização de pagamento de impostos, por exemplo.

Não é possível saber se o Brasil tem mais dinheiro lá fora do que estrangeiros possuem aqui porque ainda não existe pesquisa equivalente sobre capital estrangeiro no país. A primeira está sendo feita pelo BC desde 16 de outubro. Termina em 15 de dezembro. O banco espera al em torno de 20 mil declarações. Até a última sexta-feira (27), já havia recebido 582. A Foram convocados a declarar todos os estrangeiros que tinham ao menos R$ 100 mil no Brasil.

 

Fonte: Ag. Carta Maior, André Barrocal, Brasília, 31/10/2006.


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