¿Por qué no te callas?
Paulo Castelo Branco*

 

A frase do rei Juan Carlos dirigida ao ditador Hugo Chávez é uma daquelas que ficarão no imaginário das pessoas por longo tempo. A divulgação da fala do rei já virou moda nos telefones celulares, e, nas escolas, os jovens a utilizam para interromper seus companheiros que não param de falar. 

O tal blá-blá-blá pronunciado pelo rei Fernando Henrique I no auge do seu reinado também se perpetuou nas discussões e permanece como forma de referência a discursos do presidente Lula e seus ministros. Basta Lula começar seus pronunciamentos sobre sua obra majestosa que nos colocará na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) ou entre os maiores país do mundo, que logo aparece um tucano abrindo o bico para criticar o nosso líder. 

Lula ainda não encontrou ninguém que lhe mande calar a boca, mas está perto de acontecer. No caso da descoberta da área de petróleo – tão profunda, que está mais perto do Mar do Japão do que da Bacia de Santos –, o presidente deveria ter colocado o nome do poço não de Tupi, mas, em homenagem ao nosso maior defensor que foi Monteiro Lobato, que, no início de tudo, detectou o petróleo nas profundezas do nosso solo. 

Monteiro Lobato deveria ter um olfato apuradíssimo para sentir, como Lula hoje sente, que lá embaixo tem petróleo que não acaba mais. 

O disfarce usado para encobrir o fracasso das negociações com a Bolívia no fornecimento de gás colocou o governo no “paredón”, não deixando margem para impor condições: ou o Brasil cede, ou não terá gás. Morales, emparedado por Chávez, faz tudo o que o grande ditador ordena, e Lula, que foi considerado o maior líder da América Latina, hoje declara que foi duro até os 45 anos de idade e que agora, aos 62, tem mais paciência e cuida do coração. 

É verdade, a cada dia o nosso líder está mais tranqüilo e falando pelos cotovelos. Garante, perante o mundo, que faremos uma copa de futebol para argentino nenhum botar defeito. Isto é grave, mas nenhuma autoridade argentina reclamou da gratuita agressão.

Diferentemente do rei Juan Carlos, preferiram se calar. Pela fala de Lula, parece que o Brasil passará a existir só depois de 2012, quando faremos a Copa das Confederações, exploraremos o petróleo das profundezas e teremos um novo presidente da República. É claro que por obra e graça de Lula, que nos organizará, nos unirá e nos calará. 

As maravilhas do Brasil do futuro nos encherão de orgulho e esperança. As mesmas esperanças depositadas na estrela que nos iluminava em direção a dias melhores. Hoje somos reféns de Morales, Chávez e de políticos brasileiros que bloqueiam as discussões importantes para a vida nacional e não permitem que a pauta do Congresso seja a da reforma política, a da reforma tributária, a do Código Penal.

Só trabalham para a prorrogação da CPMF, de um novo mandato por falta de alternativa petista e são adeptos incondicionais do blá-blá-blá interminável. 

Em outros tempos, os líderes políticos se reuniam em cúpulas para discutirem os interesses de seus cidadãos e as possibilidades de transformarem objetivos transnacionais comuns em realidade. Hoje, as imagens divulgadas dos encontros são marcadas por frases engraçadas e desprovidas de importância. 

Os governantes parecem que se especializaram em não pronunciar nada que possa comprometer seu futuro. Parece que esperam somente o momento de sair do cargo e passar a fazer palestras pelo Mundo, contando o sucesso de suas ações. Excetuada a frase do rei Juan Carlos I, não há nada de novo que se possa destacar. Pode ser que o rei tenha descoberto que Chávez é, na verdade, um boneco de ventríloquo de si próprio e não passa de porta-voz da inutilidade. 

Chávez não pára de falar para que o seu povo não se manifeste contra as arbitrariedades que ele comete contra a democracia. O rei verbalizou o que o povo não se anima a fazer frente a todos os governos que se impõem com falácias ou violência. 

Juan Carlos usou a mesma frase que Chávez utiliza quando cala, com a força das armas, estudantes e oposição, exigindo silêncio sob pena de prisão ou bala. Fala povo!

 

* Paulo Castelo Branco é advogado, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e autor dos livros Brasília 2030 – a reconstrução, A morte de JK e A poeira dos dias.

 

Fonte: Congresso em foco, 19/11/2007.

 


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