Utilize o prestígio acadêmico a seu favor

 


Status de professores universitários abrem portas e complementam renda

São vários os motivos que tornam uma profissão atraente. Enquanto uns buscam perspectivas e melhores salários, outros se focam na possibilidade de ganhar notoriedade. Não há como negar, no entanto, que o glamour - que certas profissões possuem - é o carro-chefe no quesito atração. Quem nunca pensou, por exemplo, em ser professor? Quantas pessoas, inclusive, cresceram brincando de escolinha e disputando a vaga de mestre na sala de aula do faz de conta? É, a auréola atribuída aos docentes não está ligada à remuneração, tampouco ao mercado de trabalho, mas sim às suas funções.

Além de passarem horas e horas na produção do conhecimento, estes profissionais conduzem, ao mesmo tempo, mais de 50 alunos a uma formação. Sem contar o longo e árduo caminho que eles precisam percorrer para atuarem no meio acadêmico. Para se ter uma idéia, são mais de 20 anos de estudos para conquistar o topo da carreira, com o título de doutor. E, se não bastasse, há, ainda, o investimento constante na reciclagem das informações.

Olheiras, enxaquecas e cabelos brancos, muitas vezes, são recompensados pelo prestígio acadêmico. Mas, diferente do que muitos imaginam, não basta ser professor para alcançar este status. É preciso muito mais. "O maior indicador é o reconhecimento da própria comunidade científica e é a produção científica e intelectual que vai medir a qualidade do profissional", explica o diretor da Lobo e Associados Consultoria e ex-reitor da USP (Universidade de São Paulo), Roberto Lobo. "A atitude do docente é relevante para a construção de sua imagem dentro e fora dos muros acadêmicos", alerta.

Depois de vencer tantos obstáculos e conquistar o tão sonhado conceito, o que fazer com ele? Pregá-lo na parede do escritório ao lado dos diplomas ou utilizá-lo para ampliar suas oportunidades ou experiências? É, embora a vocação para a pesquisa e o estudo sejam os principais atrativos da vida acadêmica, o prestígio conseguido como professor universitário abre portas no mercado de trabalho, além de possibilitar um dinheirinho extra no final do mês.

Foi o que aconteceu com o engenheiro elétrico e professor do Cesumar (Centro Universitário de Maringá), Abel Alves. A imagem construída ao longo de sua carreira lhe rendeu oportunidades para trabalhar como colunista da área de Informática nos jornais O Globo e Hoje em Dia. Além disso, o professor mantém um fórum e participa constantemente de palestras, eventos, conferências e aulas especais de pós-graduação. "O professor é procurado para dar pareceres em função de seu título e prestígio", explica. "Hoje, tenho um nome conhecido na imprensa devido às atividades extra-aula desenvolvidas. Mas não posso negar que foi o prestígio conferido a área acadêmica que me garantiu a primeira oportunidade", confessa.

E não é só na imprensa que os docentes ganham espaço. Muitos profissionais aproveitam a oportunidade para se conectarem com o mundo dos negócios. A psicóloga Rosa Maria Farah é um exemplo disso. Paralelamente ás aulas, a professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) trabalha com o atendimento clínico. Embora os ganhos no consultório sejam superiores aos de docente, o prestígio de estar ligado a uma universidade respeitada traz outras vantagens. "Os profissionais que estão na academia têm outro status, obtendo maior credibilidade e atraindo mais clientes."

Estar vinculado à renomadas instituições acadêmicas garante um status e uma visibilidade ainda maior aos olhos do mercado. Quantas vezes você não ouviu falar: "aquele professor é fera mesmo, é especialista da USP (Universidade de São Paulo) e vive ministrando palestras ou concedendo entrevistas por aí". Muitos professores, inclusive, substituem seu próprio nome pelo título, "Mestre da Unicamp (Universidade de Campinas)". Não dá para negar que a universidade, aliada ao prestígio acadêmico, representa um grande peso para a carreira paralela de um professor.

O cientista político Octaciano Nogueira, por exemplo, atribui o seu sucesso profissional fora da academia à UnB (Universidade de Brasília), instituição onde trabalhou durante toda a sua carreira de docente. Foram mais de 320 artigos publicados, 17 livros e, só no ano passado, 96 entrevistas concedidas a diversos veículos de comunicação. E não para por aí, não. O especialista conseguiu, ainda, trabalhar como consultor de diversas empresas nacionais e internacionais. "Se não fosse professor da universidade, dificilmente, teria as oportunidades que tive, especialmente fora dos muros escolares", confessa. Hoje, mesmo aposentado, Nogueira continua se valendo deste prestígio, escrevendo para jornais e realizando cursos e palestras. "É uma experiência de mão dupla: a universidade ajuda e a sua atividade fora também colabora com a instituição."

De olho no dinheiro

Assim como Rosa, Nogueira e Alves, muitos outros professores acabam aproveitando o prestígio acadêmico para incrementarem seu orçamento financeiro. Nem sempre este é o objetivo central da procura por atividades extras, mas, não dá para negar, que o dinheiro sempre é bem vindo. Vale lembrar, no entanto, que existem "trabalhos" que rendem muito e outros nada ou quase nada.

O retorno financeiro de quem escreve um livro acadêmico, por exemplo, é muito baixo. Os autores recebem cerca de 5 a 10% no valor da venda de cada exemplar ou, ainda, exemplares como parte da remuneração. "Tenho dois livros publicados, mas o prazer desta atividade está relacionado à divulgação e ao reconhecimento do trabalho", afirma Rosa. "Se fosse fazer um cálculo entre tempo de dedicação e retorno financeiro, não compensaria. A compensação é intelectual", completa.

As palestras variam de acordo com o contratante. Enquanto alguns profissionais ganham R$ 1.500,00 por evento, outros recebem apenas uma ajuda de custa para cobrir as despesas com o transporte e a alimentação. As entrevistas são todas gratuitas, o que conta é a divulgação do trabalho e do conhecimento do professor. Já os articulistas são remunerados, mas a compensação também não está no dinheiro. "O valor indireto é muito maior. Além de participar dos melhores eventos nacionais e internacionais da área - sem gasto algum-, é uma oportunidade de estar conectado no mundo da informática", relata Alves.

O que rende mais para os professores, segundo Nogueira, são as consultorias. "Esta, sim, é uma maneira de estar antenado com as tendências do mercado de trabalho e, ainda, ganhar dinheiro", confessa. E não é preciso ser cientista político para ter esta oportunidade. Há alternativas para todas as áreas do conhecimento, basta ter criatividade. "As demais atividades, em geral, não contribuem de forma muito significativa. O que acontece é que a visibilidade vinculada a essas práticas faz com que a demanda cresça", alerta.

Entre o bom e o mau

Mas com tantas funções paralelas, como fica a vida de professor? Será que isso não pode comprometer o seu rendimento em sala de aula? È aí que os docentes devem tomar cuidado. "Isso pode, sim, prejudicar o empenho acadêmico, por isso as atividades extras devem ser bem regulamentada e acompanhada", alerta Lobo. Para os mestres com dedicação exclusiva, esta deve ser uma tarefa ainda mais ponderada, já que as suas obrigações principais estão ligadas à universidade.

É preciso, em primeiro lugar, verificar se você, professor, está conseguindo dar conta de tudo. A qualidade do seu trabalho nunca pode ser deixada de lado por conta da falta de tempo. E mais, tenha regras claras de quais são os limites de suas atividades paralelas. "Se o professor estiver atento a esses preceitos, isso é bastante saudável", diz o diretor. "Até porque a função acadêmica não faz com que o profissional mantenha a habilidade profissional", conclui.

 

Fonte: UniversiaBrasil, 16/1/2007.


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