O Brasil exige reforma universitária de verdade
Paulo Afonso Ferreira *

 

Embora seja notório que a educação entre nós tem evoluído em número de matrículas, crescimento da produção científica e capilarização das instituições de ensino superior, isto não é suficiente para garantir o desenvolvimento sustentável nacional. Somente a tecnologia industrial, mensurada a partir de patentes, faz a utilização do conhecimento gerar inovação e tornar a indústria mais competitiva. Como resultado, as economias podem crescer de forma sustentada e rápida, conforme se verifica, por exemplo, na Coréia, China e Índia.

Essa realidade, levantada pela Confederação Nacional da Indústria no estudo "Contribuição da Indústria para a Reforma da Educação Superior", preparado para o Ministério da Educação a pedido do ministro Tarso Genro, vem preocupando muito as lideranças industriais em nosso País. Comparativamente a outras nações, continua reduzido o número de jovens estudantes de cursos superiores no Brasil, mesmo com a expansão das faculdades particulares. Bloqueou-se a expansão do Sistema de Educação Superior Público, sobretudo o subsistema de maior tamanho + o federal -, designado pelo conjunto das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Até hoje, as universidades públicas não funcionam à noite. Nas funções da educação, as matrículas nas instituições universitárias particulares passaram a ser majoritárias, porém com graves deficiências qualitativas. Esses fatores evidenciam o desequilíbrio do sistema de educação superior no Brasil e sua inadequação às nossas reais necessidades. Assim, o setor produtivo ressente-se da insuficiência e inadequação da oferta de educação superior, especialmente na área tecnológica.

O próprio Censo da Educação Superior no Brasil retrata esses descompassos: 75,5% das IES são faculdades e instituições isoladas e na sua maioria apresentam sérios problemas de qualidade. Quase 90% das instituições são particulares, crescendo de forma desordenada e desproporcional ao crescimento das IES públicas. Mais de 2/3 dos cursos oferecidos pelas IES concentram-se nas ciências humanas e sociais, que demandam menos investimento na implantação e manutenção, mas não atendem as necessidades do setor produtivo.

Esse assunto de grande atualidade foi tema do Fórum Inter-regional Norte, Nordeste e Centro-Oeste sobre a Reforma da Educação Superior, promovido pela CNI e pelo Jornal do Commercio, realizado no começo de março, em Recife, do qual participamos. Nele, evidenciou-se que a indústria considera a educação uma das prioridades nacionais e a preocupação com a sua qualidade um dever do estado e do cidadão.

Em seu pronunciamento, o deputado federal Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, destacou que cabe ao governo e à sociedade visualizar a educação em toda a sua plenitude, em especial a educação para e no trabalho, ou seja, uma educação para a vida inteira. O setor produtivo enfrenta diariamente essa constatação, sendo exemplos disso o Sesi e o Senai, que complementam a oferta educacional, inclusive no ensino superior.

Neste contexto, o Sesi de Goiás oferece, além do ensino regular, o programa Educação do Trabalhador, com o seu Telecurso 2000 e Por um Brasil Alfabetizado, este favorecendo a jovens e adultos que até então não tiveram condições de estudar, incentivando-os a prosseguir até a universidade. O Senai de Goiás, por sua vez, desde o ano passado, mantém a Faculdade de Tecnologia Roberto Mange, em Anápolis, colocando em funcionamento em 2005 as faculdades de Tecnologia Ítalo Bologna e de Desenvolvimento Gerencial, que desenvolvem, respectivamente, os cursos de química industrial, automação industrial e redes de computadores. Isso, contudo, é apenas uma gota dágua nas reais demandas do setor industrial.

O deputado Armando Monteiro lamentou que importantes aspectos da "Contribuição da Indústria à Reforma da Educação Superior" até hoje não tenham sido contemplados no anteprojeto da lei sobre a reforma universitária. Ele citou a omissão sobre educação a distância e pesquisa tecnológica, "pois não se verifica no documento nenhuma menção sobre essa atividade, que materializa a interação entre a indústria e a universidade e que é essencial para o desenvolvimento do País".

Em Goiás, a Fieg se propõe a ser parceira permanente das universidades, colaborando para melhoria do ensino superior e evitando que empresas goianas continuem a importar mão-de-obra que requer alto nível de formação tecnológica.

* Paulo Afonso Ferreira é presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás

Fonte: Diário da Manhã, 13/04/2005.


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