Reforma Universitária desagrada a reitores

 

Dois anos de discussões não foram o suficiente para a proposta de Reforma Universitária do governo federal cair nas graças da comunidade acadêmica. A quarta e última versão elaborada pelo Executivo, encaminhada na quinta-feira passada ao Congresso sem algumas das alterações mais radicais previstas nos rascunhos, vai enfrentar a oposição de dirigentes das instituições federais.

O vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) na Região Sul, João Carlos Brahm Cousin, afirma que os reitores decidiram lutar dentro da Câmara e do Congresso e pressionar os parlamentares para alterar pontos importantes do projeto. Um dos motivos é que a versão final apresentada pelo governo é mais conservadora do que se esperava.

- A elaboração da proposta vinha sendo feita pelo Ministério da Educação, mas depois acabou formulada pelo governo como um todo - explica Cousin.

Os líderes dos estabelecimentos públicos esperavam conquistar maior autonomia administrativa. Em vez disso, continuariam não podendo utilizar o orçamento de um ano no período seguinte, ou enviar professores em intercâmbio com outras instituições sem autorização prévia de Brasília, por exemplo.

A seção do projeto de lei sobre financiamento também ficará sob o alvo dos reitores nos próximos meses. Eles pretendem eliminar o limite de 10 anos para o repasse mínimo de 75% da verba do Ministério da Educação ao Ensino Superior - prazo que não constava do texto da lei até agora.

- Ainda queremos retirar os gastos com hospitais universitários do orçamento do MEC, o que garantiria cerca de R$ 2 bilhões a mais para investimento - afirma Cousin.

Medidas que teriam maior impacto prático no dia-a-dia de alunos, funcionários e professores também ficaram de fora da última versão da proposta.

A implantação de cotas raciais ou para alunos egressos da rede pública, por exemplo, foi retirada do texto. O MEC argumenta que essa medida já está tramitando separadamente no Congresso.

Outra mudança cogitada e descartada foi a flexibilização das eleições acadêmicas. Embora tenha chegado a ser admitida a possibilidade de cada instituição definir seu processo sucessório mediante autorização do Conselho Nacional de Educação, manteve-se o método de eleger uma lista tríplice para que o governo defina o nome do reitor.

O vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Estado (Sinepe), Flávio D'Almeida Reis, afirma que o texto do projeto será analisado mais detalhadamente nos próximos dias, embora considere positivas iniciativas já conhecidas como a preocupação em avaliar permanentemente as instituições e normatizar os parâmetros para a abertura e o funcionamento de cursos.

Entre os temas ainda sob análise estão determinações como a criação de ouvidorias e de conselhos consultivos que incluam a sociedade civil nas entidades privadas.

- É uma idéia para aumentar a participação, mas ainda precisa ser analisada com mais cuidado por nós - explica.

Independentemente das reações no meio acadêmico, o projeto não deve sair do papel este ano, já que não foi pedido regime de urgência e se trata de ano eleitoral.
 

As principais alterações

Estas são algumas das propostas presentes no projeto de lei encaminhado pelo governo federal ao Congresso:

Financiamento

As instituições federais passariam a contar com 75% dos recursos dedicados à educação para custeio e investimentos durante um período de 10 anos. Atualmente, essa cifra fica em cerca de 70%. A mudança traria um acréscimo de aproximadamente R$ 1 bilhão.

Distribuição de verbas

Seriam estabelecidos indicadores de desempenho para a distribuição dos recursos entre as federais. Entre os critérios estão: número de matrículas e de formandos na graduação e pós-graduação, publicações, registros e comercialização de patentes e resultados positivos em avaliações de qualidade.  

Participação

O projeto enfatiza a participação da comunidade. A proposta do governo estabelece a criação de ouvidorias para receber as demandas de alunos, professores ou funcionários, e a criação de um conselho nas instituições particulares, que teria caráter consultivo e seria formado por membros da sociedade civil.

Assistência estudantil

As instituições federais devem destinar recursos correspondentes a pelo menos 9% de sua verba de custeio, exceto despesas com pessoal, para implementar medidas como moradia, restaurantes estudantis e auxílio à saúde.


 

Fonte: Zero Hora, 12/06/2006


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