O relatório-bomba de Serraglio 

 
Foto: Beto Barata/AE  

Relator enfrenta guerra de bastidores para tirar o nome de Lula de suas conclusões

 

Fazia frio na noite de quinta-feira 26, em Brasília, quando o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), chegou com o presidente, senador Delcídio Amaral (PT-MS), para jantar no Cielo Ristorante, um dos mais chiques do Lago Sul da capital. A missão do senador era espinhosa: tirar o nome do presidente Lula do relatório final da comissão. Na véspera, numa tensa reunião no Planalto, Lula havia exigido aos berros que fosse excluído a qualquer custo. Caminhando em campo minado, Delcídio abordou Serraglio sobre a importância de se apresentar um relatório imune ao tiroteio entre tucanos e petistas. “A CPI tem que terminar bem. Vamos construir um acordo. Não tem sentido envolver o presidente Lula”, ponderou Delcídio. 

Serraglio ouviu sensibilizado o apelo do senador. No jantar, aceitou excluir Lula. No dia seguinte, por pressão do PSDB, desistiu da exclusão. Agora, o relator está no vai-não-vai. “O presidente Lula foi avisado do mensalão. Não há motivo para omitir isso no relatório final”, disse. Há quatro depoimentos que confirmam essa tese. Pressionado, Delcídio, na última semana, aproveitou a ausência de Serraglio – que estava nos EUA para obter informações sobre as contas de Duda Mendonça no Exterior – e fez várias reuniões no Congresso. Todas com um único objetivo: apagar o nome de Lula do relatório. 

Como o Planalto teme perder essa queda-de-braço, já prepara o plano B para a CPI dos Correios. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) vai fazer um relatório paralelo omitindo qualquer menção a Lula. Delcídio pede paciência ao Planalto e ao PT. Não quer tensionar ainda mais o ambiente na CPI. Na visita a parlamentares tucanos e pefelistas, o senador defende junto aos mais cautelosos que não deixem os radicais dominarem a cena. Delcídio teme uma guerra entre PSDB e PT e, por isso, tem proposto um acordo para que as investigações em torno de Duda e de Furnas, que teria financiado candidatos tucanos, sejam leves.  

O objetivo é não avançar sobre esses dois assuntos, ainda que os dirigentes do FinCen, órgão do Departamento do Tesouro americano, cumpram a promessa de enviar ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) os dados que possuem sobre as contas do publicitário. Duda e Furnas, na avaliação de líderes no Congresso, podem arrastar todos os partidos ao fundo do poço. Distante dessa articulação, o relator Serraglio prepara o documento final da CPI. Mostra-se disposto a citar não apenas o presidente Lula, mas também o presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O bombástico relatório, previsto para explodir no dia 15 de março, promete estilhaços para mais gente.
 

Fonte: Rev. IstoÉ, Donizete Arruda, Ed. de 8/2/06.


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