Governo em crise
Rio de lágrimas  
 

Na semana passada, o País assistiu a cenas de choradeira.
Mas nem sempre o pranto é sincero


Emoções: José Genoino, Marcos Valério, deputado Rodrigues e Delúbio Soares caíram no choro quando esta-
vam expostos à opinião pública.

A crise política está provocando muito mais que discussões e troca de acusações entre políticos. Tem causado também muito choro. Nos últimos dias, o País assistiu a alguns dos envolvidos nas denúncias desabarem em lágrimas em situações nas quais estavam expostos à opinião pública. A lista dos chorões incluiu o presidente do PT, José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, o publicitário mineiro Marcos Valério e o deputado Carlos Rodrigues (PL/RJ). Cada um mostrou seu pranto em momentos e por motivos diferentes. “O choro é uma resposta a um tipo de situação, de tristeza ou de alegria, que pode ser ou não controlada pela pessoa”, explica o neurologista Ivam Hideyokamoto, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Na verdade, esse tipo de reação pode até ser uma necessidade provocada pelo organismo. Quando o sistema límbico (estrutura do cérebro responsável pelo processamento dos sentimentos) é estimulado por emoções fortes, é gerada uma necessidade de resposta que pode se expressar em forma de choro. No entanto, nem todo pranto é originado desse processo. Algumas pessoas têm a capacidade de treinar essa manifestação em situações específicas. Um recurso muito utilizado por artistas em novelas, por exemplo. “O ator que usa essa técnica pensa em algo pessoal que ajude a desencadear a sua emoção”, explica a atriz Layla Roiz, do teatro Oficinão do Galpão de Belo Horizonte. A técnica foi criada pelo russo Constantin Stanislavski (1863-1938) e é aplicada em escolas de teatro. Muitos artistas também recorrem ao chamado “cristalzinho japonês”. O produto, vendido em farmácias, é à base de mentol. Os atores o esfregam nas mãos e passam debaixo do olho para produzir lágrimas.

Finalidade – Segundo especialistas, o choro é resultado de uma cascata de fenômenos neurológicos e endocrinológicos e está relacionado ao instinto de defesa do homem. Existem alguns tipos identificáveis de choro, segundo o psiquiatra Orestes Vicente Forlenza, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Além daquele resultante de algum tipo de emoção, há ainda o intermitente ou persistente, que pode derivar de motivos injustificáveis ou banais. Esse pranto pode sinalizar a presença de alguma enfermidade – uma depressão, por exemplo.

Mas nem sempre essa reação se traduz como uma manifestação verdadeira, sincera. “O choro pode ser usado só para provocar uma reação. Esse é um artifício utilizado pelas crianças, por exemplo, quando querem chamar a atenção da mãe. Ou seja, o pranto é também um recurso que pode ser adotado dependendo do objetivo que se quer atingir”, explica o oftalmologista Rubens Belfort, da Unifesp.

A verdade é que o choro pode desencadear uma reação de empatia, de solidariedade. Quem nunca usou das lágrimas ou viu alguém se valer do pranto para conseguir alguma coisa?

 

Fonte: Rev. IstoÉ, Greice Rodrigues, 13/07/2005.


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