51% das universidades estaduais adotam ações afirmativas

 

Mais da metade das universidades estaduais e 42% das federais adotam algum tipo de
ação afirmativa no Brasil.
 

Um levantamento feito pelo Laboratório de Políticas Públicas da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) mostra que 51 instituições públicas oferecem, por meio de cotas ou de bonificação no vestibular, vantagens a alunos negros, pobres, de escola pública, deficientes ou indígenas.

Das 51 instituições, 18 são universidades estaduais. Elas representam 51% do total de 35 mantidas por Estados no Brasil. Das 53 universidades federais, 22 têm ações afirmativas.

Além de universidades (instituições com mais autonomia e exigência de investimento em pesquisa), há também na lista faculdades, centros universitários e Cefets.

O Mapa das Ações Afirmativas mostra ainda que as cotas – onde determinado percentual de vagas é reservado a um grupo – são a ação mais comum. Só sete instituições públicas adotam a bonificação – em que um candidato recebe pontos adicionais em relação aos demais, sem percentual de vagas preestabelecidas.

No caso dos negros (somatório dos autodeclarados pretos e pardos), 33 instituições têm políticas voltadas para eles; 18, não. O critério mais utilizado é o da autodeclaração, ou seja, a cor da pele ou etnia é definida pelo próprio estudante.

Para o autor do levantamento, Renato Ferreira, é preocupante o fato de muitas instituições não adotarem o critério racial. Militante do movimento negro, ele diz que apenas o critério social – beneficiando só alunos carentes ou de escolas públicas sem fazer distinção de raça ou cor – pode não ser suficiente para os negros.

"O sistema de cotas no Brasil foi criado principalmente para a inclusão do negro nas universidades e acabou beneficiando também outras minorias. O número de instituições que não utilizam corte racial, no entanto, cresceu. É um retrocesso. Estão flexibilizando o sistema e excluindo os negros."

A antropóloga da UFRJ Yvonne Maggie, contrária a políticas como as de cotas, discorda. "Para tornar o sistema mais justo, é imprescindível que se melhore a educação oferecida aos mais pobres, sendo eles negros, brancos, indígenas ou orientais. O sistema de cotas é só um atalho que não nos levará a romper com nossa estrutura altamente iníqua."

Para ela, não é correto falar em grupos excluídos das universidades. "É uma falsa questão. O Brasil é um país injusto para todos os pobres e não construiu políticas voltadas para excluir grupos específicos. Os orientais, por exemplo, têm melhor desempenho e não podemos dizer que haja aí discriminação contra brancos."

Em 2006, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE, 30,4% dos estudantes do ensino superior se declararam pretos ou pardos. É um percentual menor do que os 49,5% no total da população, mas que vem crescendo ininterruptamente desde 1998, quando representavam somente 17,6% dos alunos no ensino superior.
 

MAPA DAS AÇÕES AFIRMATIVAS

Tipo de ação afirmativa

(C) = Cotas (sistema onde há a reserva de um percentual de vagas na universidade para um determinado grupo)
(B) = Bônus (política que oferece a um grupo específico pontos a mais no vestibular, mas sem reservar um percentual de vagas)
(N) = Beneficia negros (universidades que, em sua ação afirmativa, optarem por fazer um corte racial em favor dos estudantes pretos ou pardos)

 

Estados e universidades públicas

Tipo de ação afirmativa

Rio de Janeiro

 

Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

(C) (N)

UENF (Universidade do Norte-Fluminense)

(C) (N)

Uezo (Centro Universitário Estadual da Zona Oeste)

(C) (N)

Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de Janeiro)

(C) (N)

UFF (Universidade Federal Fluminense)

(B)

Minas Gerais

 

UEMG (Universidade Estadual de Minas Gerais)

(C) (N)

Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros)

(C) (N)

UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora)

(C) (N)

São Paulo

 

Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)

(C) (N)

Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)

(B) (N)

Famerp (Faculdade de Medicina S.J. do Rio Preto)

(B) (N)

USP (Universidade de São Paulo)

(B)

UFABC (Universidade Federal do ABC)

(C) (N)

Fatec (Faculdade de Tecnologia - São Paulo)

(B) (N)

Facef (Centro Universitário de Franca)

(C) (N)

UFSCar (Universidade Federal de São Carlos)

(C) (N)

Espírito Santo

 

Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo)

(C)

Amazonas

 

UEA (Universidade do Estado do Amazonas)

(C)

Pará

 

UFPA (Universidade Federal do Pará)

(C) (N)

Ufra (Universidade Federal Rural da Amazônia)

(C)

Tocantins

 

UFT (Universidade Federal do Tocantins)

(C)

Distrito Federal

 

UnB (Universidade Federal de Brasília)

(C) (N)

ESCS-DF (Escola Superior de Ciências da Saúde)

(C)

Goiás

 

UEG (Universidade Estadual de Goiás)

(C) (N)

Mato Grosso

 

Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso)

(C) (N)

Mato Grosso do Sul

 

UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul)

(C) (N)

Alagoas

 

Ufal (Universidade Federal de Alagoas)

(C) (N)

Bahia

 

UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana)

(C) (N)

UFBA (Universidade Federal da Bahia)

(C) (N)

UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia)

(C) (N)

Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz)

(C) (N)

Uneb (Universidade do Estado da Bahia)

(C) (N)

Cefet-BA (Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia)

(C) (N)

Maranhão

 

UFMA (Universidade Federal do Maranhão)

(C) (N)

Paraíba

 

UEPB (Universidade Estadual da Paraíba)

(C)

Pernambuco

 

UPE (Universidade Estadual de Pernambuco)

(C)

UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco)

(B)

Cefet-PE (Centro Federal de Educ. Tecnológica de Pernambuco)

(C)

Rio Grande do Norte

 

UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

(B)

Cefet-RN (Centro Federal de Educ. Tec. do Rio Grande do Norte)

(C)

Piauí

 

UFPI (Universidade Federal do Piauí)

(C)

Sergipe

 

Cefet-SE (Centro Federal de Educação Tecnológica do Sergipe)

(C)

Paraná

 

UFPR (Universidade Federal do Paraná)

(C) (N)

UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa)

(C) (N)

UEL (Universidade Estadual de Londrina)

(C) (N)

UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)

(C)

Rio Grande do Sul

 

UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

(C) (N)

UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul)

(C)

UFSM (Universidade Federal de Santa Maria)

(C) (N)

Santa Catarina

 

UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)

(C) (N)

USJ (Centro Universitário de São José)

(C)

Fonte: Laboratório de Políticas Públicas da Uerj

 

Fonte: Folha de S. Paulo, Antônio Góis, 8/1/2008.

 

 


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