Universidades privadas afundam em crise

 

 
 

 

Salários atrasados há meses, sem o pagamento do 13  e paralisação dos depósitos do FGTS. É diante deste quadro que estão algumas das mais tradicionais instituições particulares de ensino superior do Rio. Há anos mergulhadas numa crise sem precedentes, as universidades Gama Filho, Santa Úrsula e Candido Mendes e o Centro Universitário da Cidade (UniverCidade) enfrentam dificuldades para ajustar suas finanças e deixam professores e funcionários em situação precária. De acordo com reitores, a inadimplência de até 25% é a principal causa do problema mas, segundo docentes, a má administração ao longo dos anos contribuiu para o sucateamento das faculdades.

Sindicato critica UniverCidade na Alerj

Devido à crise na UniverCidade, o Sindicato dos Professores (Sinpro-Rio) participou de audiência pública na Comissão do Trabalho da Alerj, no dia 10 de dezembro. Além de denunciar o atraso no pagamento do salário e que o FGTS não é depositado há seis anos, o sindicato queria saber por que a instituição está usando o dinheiro das mensalidades para investir no mercado de capitais em vez de pagar os funcionários. Presidente da comissão, o deputado Paulo Ramos (PDT) disse que entrará com representação no Ministério Público Federal para saber se essa aplicação pode ser feita e ficou de pedir uma fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho.

Uma aluna de arquitetura da Santa Úrsula conta que, quem não paga a mensalidade em dia, tem o nome retirado da lista de presença e corre o risco de ser reprovado por falta. A prática é proibida pela lei que garante a conclusão do período, mesmo em caso de inadimplência.

Presidente da Associação de Pais e Alunos do Estado do Rio (Apaerj), João Luiz Faria Netto Júnior diz que os estudantes lesados devem entrar em contato com órgãos de defesa do consumidor, como a Apaerj e o Procon. Segundo ele, a inadimplência hoje nas faculdades é menor do que a alegada pelas instituições:

- O índice hoje deve estar em 10%. De 2003 para cá, deve ter havido uma redução de 40% na taxa de inadimplência. Não é isso o que afeta a universidade. Fui aluno da Santa Úrsula. Nos últimos dez anos, trocaram de reitor seis vezes e, em 1997, deixaram de contratar professores de ponta.

O GLOBO tentou, sem sucesso, ouvir as reitorias da Santa Úrsula e da UniverCidade. Um autor anônimo criou o blog Professor Brasileiro, onde trata dos problemas na UniverCidade. Em dois meses, cerca de 11 mil pessoas acessaram a página.

O secretário-geral da Associação de Docentes da Gama Filho, Ronaldo Leme Louro, comenta:

- Nosso movimento foi forte, chegamos a fazer paralisações de um e dois dias no primeiro semestre deste ano, até conseguirmos restabelecer o contato. Eles alegam inadimplência, evasão, mas fazem obras e mudanças nas salas.

Em nota, a mantenedora da Gama Filho "ratifica a informação transmitida aos professores sobre as gestões em desenvolvimento, para a reestruturação econômica e financeira da UGF".

Nosso movimento foi forte, chegamos a fazer paralisações (Ronaldo Leme).

Luiz Felippe Monteiro Dias, presidente da Associação dos Professores e Funcionários da Candido Mendes critica:

- Não podemos não saber quando vamos receber. Precisamos de um calendário. A unidade do Centro é superavitária. Mas temos que manter outras unidades, como o Iuperj ( Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro). Ele é fundamental, mas não pode deixar de pagar professor para financiar o Iuperj.

Segundo o professor Candido Mendes, reitor da universidade, 69% da receita são destinados ao pagamento de professores e funcionários. Ele lembra que o custo para manter o Iuperj é alto, em torno de meio milhão de reais, mas que a instituição está cumprindo um dever ao financiar um centro de excelência.

 

Fonte: O Globo, 5/1/10.

 


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