Universitário brasileiro está mais pobre 
  

Cresce, entre formandos que fizeram o exame nacional, o número
dos que têm renda até dez salários mínimos

 

Os alunos de seis cursos de ensino superior, entre eles medicina e odontologia, estão mais pobres e tendo de entrar mais cedo no mercado de trabalho do que os que se formaram em 2002.

Esse é o resultado da comparação de dados do questionário socioeconômico aplicado aos formandos desses cursos no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) 2004 e no Provão dos dois anos anteriores.

No período, o número de alunos com renda familiar de até dez salários mínimos subiu de 41,9% para 57,8%. Já os de faixa de renda mais alta (acima de 20 salários mínimos) caiu de 27,4% para 19%.

A proporção dos que trabalham pelo menos 20 horas semanais passou de 18,8% para 39,2%.

Também cresceu a faixa dos formandos filhos de pais com escolaridade até o ensino médio (diferença de 3,1 pontos percentuais entre 2002 e 2004).

Para possibilitar a comparação, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) considerou apenas as respostas de alunos das seis áreas avaliadas nas últimas três provas – agronomia, enfermagem, farmácia, medicina, medicina veterinária e odontologia. O resultado inclui matriculados nas redes pública e particular.

O Enade substitui o Provão desde o ano passado. Foi criado para medir o desempenho dos alunos no novo sistema de avaliação do ensino superior,o Sinaes (que também analisa instituição e curso para chegar ao conceito final).

O exame inclui alunos do primeiro e do último ano e teve seu primeiro resultado divulgado nesta semana. Como o Provão era feito apenas por formandos, na comparação o Inep usou só os dados dos concluintes no Enade.

USP e Unicamp não participaram do Enade. Mas, segundo o Inep, isso não influencia o resultado socioeconômico, que colheu dados de 25.351 formandos.

‘Parece não haver dúvidas de que começamos a sentir os efeitos do empobrecimento médio dos alunos da educação básica’, diz o diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do Inep, Dilvo Ristoff.

Pelos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a renda familiar média de 9 milhões de alunos do ensino médio é 2,3 vezes menor do que a dos estudantes de graduação matriculados.

30% dependem de bolsas de estudo

A comparação de dados do questionário socioeconômico respondido pelos estudantes de seis áreas que fizeram o Enade mostra também que o número de formandos que utilizam bolsa ou financiamento aumentou. Eram 24% em 2002 e passaram a 30% no ano passado.

Esse é um dos principais indicadores que reforçam o argumento de especialistas defensores de maiores investimentos em programas de assistência estudantil.

O presidente do Inep, Eliezer Pacheco, afirma que o aumento de oferta de vagas nas escolas privadas trouxe uma democratização do acesso dos alunos ao ensino superior e, ao mesmo tempo, gera a necessidade políticas de assistência estudantil para evitar a evasão desses estudantes.

Reforma universitária

O Ministério da Educação incluiu no anteprojeto de reforma universitária propostas para incentivar programas de assistência.

Para a União Nacional dos Estudantes (Une), no entanto, seria necessário definir recursos específicos destinados a essas ações.

No mês passado, o MEC também lançou o edital do programa de ações afirmativas para negros nas instituições públicas.  

Serão destinados R$ 2,5 milhões a projetos das Universidades visando acesso, permanência e inclusão de afrodescendentes.

Os resultados completos do Enade estão disponíveis no site do Inep na internet <http://www.inep.gov.br>


Fonte: Folha de S. Paulo, Luciana Constantino, 7/5/2005.


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