Reitoria da UFRJ diz que vai esperar o laudo da Polícia Federal e, caso seja constatada negligência por parte da empresa que restaura o prédio, a universidade entrará com processo judicial por conta das perdas

 

 

No fim da tarde de terça-feira, 28 de março, ainda observando o trabalho dos bombeiros na contenção do fogo que resistia pelo interior do prédio e extremamente consternado, o reitor da UFRJ Aloisio Teixeira disse que estava em uma reunião no Centro da cidade quando foi avisado, por volta das 14h30, que um incêndio tinha acabado de começar na Capela do Palácio Universitário. 

 “Fui avisado umas duas e meia, o fogo tinha acabado de começar, eu estava em uma reunião e vim para cá. Com certeza o incêndio começou nas obras da capela. Há uma informação de que teria havido um acidente com um maçarico usado pelos trabalhadores na restauração do local e isso desencadeou o fogo que acabou se alastrando para o segundo andar e o primeiro, onde ficava o Auditório Anísio Teixeira”, relatou o dirigente sem disfarçar a tristeza.  

Segundo o reitor, e também professores da Faculdade de Educação, o incêndio no Palácio Universitário não atingiu as laterais do prédio histórico e, portanto, as salas de aulas das Unidades estariam preservadas. O fogo também não atingiu com tanta violência o hall de entrada do Palácio Universitário, nem o Salão Vermelho ou o Salão Dourado. Na manhã de ontem (29/3), bombeiros ainda mantinham o trabalho de rescaldo do prédio para evitar possíveis desabamentos ou novos focos de incêndio.  

Para a professora do Instituto de Economia e diretora da Adufrj-SSind, o incêndio foi algo inesperado. ”É um momento em que temos que mobilizar toda a comunidade da UFRJ e toda a comunidade carioca em torno da necessidade da restauração desse prédio histórico”.

Danos irreparáveis

A Capela São Pedro de Alcântara, no terceiro andar do prédio, e o Auditório Anísio Teixeira, no primeiro, foram praticamente destruídos. O Anísio Teixeira abrigava, no momento do acidente, todo o material de consumo e mobiliário da Faculdade de Educação, que também estava em processo de restauração. Segundo o professor Fernando César, da FE, o salão abrigava todo o almoxarifado da Unidade. “Uma perda calculada em mais ou menos R$ 200 mil só de material de consumo. O restante, ainda não conseguimos calcular”, disse no início da tarde de ontem (29/3).

Além da Capela e do Auditório, foram atingidos, no segundo andar, a sala de multimídia e gabinetes do Fórum de Ciência e Cultura. No terceiro andar, o Laboratório de Economia Política da Saúde (LEPS), que funcionava ao lado da Capela, desde 2004, também ficou em chamas. O laboratório interdisciplinar tem como coordenador o professor e atual reitor Aloisio Teixeira e reunia professores e pesquisadores do Instituto de Economia, do Centro de Ciências da Saúde e também de unidades do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), como a Escola de Serviço Social, IFCS, Faculdade de Psicologia, entre outras.

Mas talvez uma das maiores perdas tenha sido o acervo do arquivo da Faculdade de Educação. O arquivo continha, pelo menos, cinquenta anos de produção acadêmica, entre teses, monografia e outros trabalhos. A perda de parte da história da universidade pode ter sido bem maior, pois no arquivo da FE encontravam-se documentos da antiga Faculdade de Medicina, da década de 1920, anteriores ainda à criação da própria universidade. Estes foram molhados durante o combate ao incêndio pelos bombeiros. Segundo a assessoria de comunicação da universidade, o acervo do Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade (Proedes), que mantém documentos dos 90 anos da instituição, não teria sido queimado.

A coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, Beatriz Rezende, também passou a tarde acompanhando os trabalhos de

 

contenção do fogo no Palácio Universitário. “Houve um problema durante o processo de restauração da cúpula da Capela, na parte de solda. Ao que parece neste processo de soldagem houve um superaquecimento que desencadeou o fogo que passou para a madeira, um teto todo de madeira, e se alastrou dessa forma, infelizmente”.  A coordenadora do FCC disse que os funcionários ainda tentaram apagar as primeiras chamas com extintores, mas o fogo se alastrou muito rapidamente exigindo a presença dos bombeiros.

Três quartéis dos bairros no entorno do campus foram acionados. Segundo Beatriz, os carros das brigadas chegaram rápido ao local, mas não enviaram um carro pipa. Como os hidrantes do campus também não davam conta do volume de água necessário para apagar o fogo que se alastrava da Capela, os bombeiros usaram a água da piscina da universidade, o que não foi suficiente. As brigadas utilizaram ainda a água do parque aquático do Iate Clube do Rio de Janeiro e também água do mar. Segundo o comandante das unidades especializadas do Corpo de Bombeiros, Valdinei Dias, a temperatura no local era muito elevada, o que dificultava o trabalho das equipes, especialmente nas áreas internas do prédio. “A área é muito grande e a quantidade de fogo é grande e de difícil controle”, informou por volta das 17h, quando já tinham dominado as chamas no terceiro andar e ainda trabalhavam para aplacar as do segundo e primeiro andares do Palácio.

Estudante reclama falta de sistema de alarme no campus

Rodrigo Malta, estudante do último período do curso de Psicologia disse que um dos problemas para a comunidade é que não havia informações precisas sobre o que estava acontecendo para os estudantes e docentes dos outros prédios. “Cheguei aqui fora do prédio e vi a fumaça. Fui perguntar a um segurança o que estava acontecendo e ele informou que havia um incêndio, mas a informação precisa do que estava acontecendo demorou a chegar nas unidades mais afastadas do Fórum de Ciência e Cultura como o Instituto de Psicologia”. Segundo o estudante, até mesmo professores e alunos das unidades integrantes do Palácio, como o Instituto de Economia, que estavam nas salas de aula foram pegos de surpresa e muitos foram avisados do que acontecia apenas através de ligações telefônicas de colegas que estavam fora do prédio. 

Diretoria da ADUFRJ presta solidariedade à Reitoria

Em nome de nosso sindicato de docentes da UFRJ, ADUFRJ-SSin, na certeza de representar o sentimento de todos os professores desta Universidade,  prestamos nossa total solidariedade neste momento de tragédia ao reitor Aloisio Teixeira, autoridades e a comunidade universitária. A ADUFRJ-SSind se coloca à disposição para apoiar política e com todos os meios ao nosso alcance a mobilização para a recuperação das perdas ocorridas com o incêndio da ala central do Palácio Universitário vivenciado no dia de ontem.

Como sabemos que a agilidade é algo fundamental para enfrentar  momentos desta natureza, colocamos a estrutura do movimento social que a ADUFRJ-SSind possui a serviço da comunidade acadêmica da UFRJ, evidenciando o compromisso que possuímos com nossa base e com a defesa da Universidade Pública.

Com um grande pesar e a esperança desse recomeço, a ADUFRJ-SSind se solidariza e se dispõe a contribuir com a Universidade para encontrar as soluções para a situação que se abriu a partir desta enorme perda patrimonial e histórica.


Saudações Sindicais e Universitárias,
Diretoria da ADUFRJ-SSind.

 

Fonte: Adufrj

 


Coletânea de artigos


Home