Dilma enfrenta protestos de estudantes e servidores em inaugurações no Rio
 

A presidenta Dilma Rousseff enfrentou manifestações de estudantes e de servidores durante duas inaugurações na sexta-feira, no Rio de Janeiro. No primeiro dia da campanha eleitoral municipal em todo o país, Dilma esteve o tempo todo acompanhada pelo prefeito Eduardo Paes, peemedebista candidato à reeleição com o petista Adilson Pires como candidato a vice-prefeito; e do governador do estado, Sérgio Cabral Filho, também do PMDB.

A presidenta Dilma Rousseff enfrentou manifestações de estudantes e de servidores públicos durante duas inaugurações na sexta-feira (6), no Rio de Janeiro. Pela manhã, a presidenta entregou as primeiras 281 unidades do programa Minha Casa, Minha Vida, em Triagem, na Zona Norte da Cidade. À tarde, a presidenta esteve no hospital municipal Miguel Couto, no Leblon, Zona Sul do Rio, para inaugurar a nova unidade de emergência do local. No primeiro dia da campanha eleitoral municipal em todo o país, Dilma esteve o tempo todo acompanhada pelo prefeito carioca, Eduardo Paes, peemedebista candidato à reeleição com o petista Adilson Pires como candidato a vice-prefeito; e do governador do estado, Sérgio Cabral Filho, também do PMDB.

Em Triagem, a cerimônia transcorria normalmente, com justificada dose de emoção das vítimas das enchentes de 2010, ou de ex-moradores de áreas de risco, escolhidas para receberem suas chaves de casa das mãos das autoridades, até o discurso da presidenta começar. Em sincronia cinematográfica, cerca de 30 estudantes se aproximaram do local da cerimônia e dividiram a audiência de Dilma.

“Não, não, não. Não à repressão!!! 10% do PIB para a educação!!!”, gritavam os estudantes, já em conflito com seguranças do evento, enquanto Dilma aumentava a voz e todos os olhos das autoridades e da plateia viravam para o empurra-empurra entre estudantes e seguranças. A presidenta respirou fundo, olhou para o protesto e ameaçou parar o discurso. Foi salva pelo ainda maior patrimônio petista: as vozes populares da plateia de contemplados pelo programa e moradores da região subiram o tom em “Dilma! Dilma! Dilma!” e fizeram a presidenta continuar sua fala, sobrando para os estudantes o retorno ao papel de coadjuvantes.

“Ninguém aqui é contra o evento. A gente acha boa a iniciativa da distribuição de casas. Mas a gente veio aqui de forma democrática nos manifestarmos a favor dos 10% do PIB para a educação que os deputados aprovaram na Câmara. Ontem (quinta-feira) o governo se pronunciou dizendo que iria lutar para barrar os 10% do PIB. O Guido Mantega (ministro da Fazenda) disse que não era algo responsável para a economia, a gente compreende que é e viemos aqui de forma pacífica levantar nossos cartazes e reivindicar 10% do PIB para a educação. Os seguranças agiram de forma truculenta. Deram um soco no nariz de uma menina e no olho de um estudante de Direito da UFRJ, o Leonardo”, disse Igor Mayworm, presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE), à Carta Maior, a poucos passos de um rapaz com o rosto inchado e os olhos avermelhados.

Após evitar a imprensa e sair rapidamente do complexo residencial de 155 mil metros quadrados, que abriga prédios não padronizados com apartamentos de 42 metros quadrados e dois quartos, a presidenta rumou para o hospital Miguel Couto, onde em visita relâmpago descerrou a placa de inauguração da nova Coordenação de Emergência Regional, unidade vizinha ao prédio principal do hospital que contará com 57 leitos, 34 deles de UTI.

Prioridades

No Leblon a presidenta foi recebida com novos protestos, agora de servidores públicos federais. A principal reivindicação dos funcionários das áreas de saúde e educação presentes à manifestação é a revisão dos destinos do orçamento da União. Segundo entidades representativas das categorias, dos R$ 2,257 trilhões disponíveis, 47,19% dos recursos serão direcionados para juros e amortizações da dívida. A Saúde ficará com 3,98% e a Educação com 3,18%. Nas contas dos servidores, no caso dos professores federais, o superávit primário de R$ 128,7 bilhões de 2011 é 18 vezes maior que o total do aumento solicitado pelos professores.

“Protestamos contra a intransigência do governo Dilma, que tem se negado insistentemente em atender à reivindicação dos servidores públicos federais. Queremos investimento tanto em infraestrutura quanto em remuneração digna para técnicos e profissionais, com a melhoria do plano de cargos e salários e o reajuste da inflação”, disse Adriano Carmelo, professor do Instituto Nacional de Educação dos Surdos.

Conjugando educação e saúde, estudantes de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conseguiram entregar uma carta manifesto ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, contra as atuais condições de ensino e atendimento à população do hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o hospital do Fundão, localizado na cidade universitária da Ilha do Governador. O documento exige ação governamental imediata, com financiamentos em relação à pessoal, leitos, medicamentos e equipamentos, tanto didáticos quanto operacionais.

“É muito triste porque o sonho da nossa vida é se tornar médico. E de repente a gente vê que está tudo se destruindo, tanto para a gente quanto para os pacientes. O HU (Hospital Universitário) é internacionalmente renomado, então ele atende doenças e situações que outros hospitais não têm condições. Então isso faz ele ter uma situação muito especial, que infelizmente está totalmente subutilizada. Só para você ter uma noção, teoricamente o HU deveria ter 550 leitos, atualmente estamos em torno de 190 leitos. Isso é um absurdo!”, afirmou Luana Soares, do nono período da faculdade de Medicina.

Em âmbito estadual, os servidores protestaram contra as tentativas do governo Cabral de acabar com as gratificações por tempo de serviço e os planos de carreira.

Campanha

Apesar de ter conseguido a liberação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para estar presente as inaugurações ao lado da presidenta Dilma Rousseff, o prefeito Eduardo Paes manteve-se quieto em ambos os eventos. No novo entender do TRE, os prefeitos candidatos podem comparecer a eventos de inaugurações de obras públicas, mas não podem pedir votos nem manifestarem apoios a candidaturas.

Em Triagem, o governador Sérgio Cabral Filho, após subir ao palanque ao lado da presidenta Dilma Rousseff, estratégia que vem usando para evitar contratempos desde que teve seu nome envolvido com empresário Fernando Cavendish, alvo da CPI do Cachoeira, fez um discurso trivial.

Os outros candidatos a prefeito do Rio também estiveram nas ruas na sexta-feira. Otávio Leite, do PSDB, foi a uma missa matinal na igreja Nossa Senhora de Copacabana praticamente no mesmo momento em que, a dois quarteirões da igreja, um incêndio em uma loja de artigos para festas literalmente chamuscava as comemorações pelos 120 anos do bairro.

Áspasia Camargo, do PV, esteve na Praça XV, no Centro. Rodrigo Maia (DEM), com sua vice, Clarisse Garotinho, filhos dos novos aliados Cesar e Anthony, estiveram no calçadão de Campo Grande.

O candidato Marcelo Freixo, do Psol, iniciou sua campanha no Buraco do Lume, tradicional reduto petista no Centro da cidade, onde há mais de 20 anos antigos parlamentares petistas, e atualmente solistas, fazem prestação pública de seus mandatos durante a hora de almoço das sextas-feiras.

Se o Psol conquistou o Buraco do Lume, é grande a expectativa que esta campanha eleitoral represente mais um avanço do partido sobre outras legendas esquerdistas. Durante a semana, um grupo de pedetistas anunciou oficialmente seu apoio ao candidato do Psol. Sindicalistas petistas contrários à aliança regional com o PMDB também não escondem suas conversas com Freixo, apesar da oficialização do apoio ainda não estar definida.

 

 

Fonte: Ag. Carta Maior, Rodrigo Otávio (RJ), 7/7/12.

 


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