Itaú leiloa propriedade e ameaça despejar camponeses
 

Empréstimo feito pelo camponês João Batista através do Pronaf, em 1997, está sendo cobrado pelo banco, que alega que a dívida passou de R$ 6 mil para R$ 80 mil

Após reunião realizada nesta quarta-feira (11), o Banco Itaú rejeitou acordo para renegociar a dívida dos camponeses Elvira Cândida de Jesus Pereira e João Batista Pereira e manteve a ordem de despejo contra a família do casal de uma propriedade na cidade de Catalão, no sudeste de Goiás. A reunião foi mediada pelo Ministério Público Federal e contou com a participação, além da gerência do Banco Itaú e do casal de camponeses, de representantes do Movimento Camponês Popular (MCP).

O casal está sendo ameaçado de despejo das terras em que vivem há 47 anos. No último dia 29, um Oficial de Justiça, acompanhado de um policial militar, foi à propriedade para cumprir a ordem de despejo, após a terra ter sido leiloada pelo Banco Itaú por causa de uma dívida que o camponês possui. Em 1997, João Batista fez empréstimo de R$ 12 mil com o Banco do Estado de Goiás (BEG) para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O camponês pagou metade do valor ao banco. Em 2001, o Itaú comprou o BEG e a dívida dos R$ 6 mil restantes migrou de banco. Agora, a gerência do Itaú alega que a dívida passou para R$ 80 mil.

De acordo com o MCP, no entanto, “o valor máximo da dívida está hoje em 15 mil reais, respeitando a resolução 4.028 do Banco Central, de novembro do ano passado, sobre a renegociação de operações de crédito rural no âmbito do Pronaf”. Nesta quinta-feira (12) será realizada uma nova reunião com a gerência do Itaú. “O MCP aguarda que o banco bilionário respeite as leis e apresente nova proposta de renegociação da dívida”, afirma o movimento.

Caso

O casal de camponeses está disposto a pagar a dívida conforme o valor apresentado pelo MCP. De acordo com Elvira, até 2001 a família conseguiu pagar pontualmente o empréstimo feito, mas enfrentou diversas dificuldades após receberem o diagnóstico de câncer em um dos filhos do casal, por isso não puderam cumprir com o compromisso.

A família contratou um advogado e tentou negociar a dívida, mas não foi informada sobre os prazos e a terra foi leiloada pela metade do valor avaliado. Em 2010, ao tomar conhecimento que a ordem de despejo seria emitida, o casal procurou novamente o banco que se negou a renegociar a dívida.

Agora, o casal de camponeses luta para garantir a sua permanência na propriedade e dar continuidade à produção de alimentos orgânicos e derivados de leite de seus animais.

Protestos

Em protesto contra a ação do banco contra o casal de camponeses, cerca de 100 pessoas, dentre camponeses do MCP, estudantes e professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) de Catalão acamparam na terra para impedir a reintegração de posse.

Desde a emissão da ordem de despejo, estão sendo realizados protestos nas ruas de Catalão e em frente à agência do Itaú na cidade. Na terça-feira (10), manifestantes que realizam uma marcha e um panfletaço contra a ação do Banco Itaú foram duramente reprimidos pela Polícia Militar (PM) de Goiás. De acordo com o MCP, a PM e o homem quem comprou a propriedade dos camponeses no leilão ameaçavam quem participava da mobilização.

A ação da PM resultou em vários feridos. O caso mais grave é do camponês Alan Kardek, que está hospitalizado com vários cortes na cabeça provocados pelos cassetetes da PM. O professor do curso de geografia da UFG, Gabriel de Mello Neto, e outros alunos da universidade foram gravemente feridos ao tentar argumentar sobre a legitimidade da mobilização. Os alunos de geografia Paulo Mota e Marcelo Rosa foram detidos. Taísa Kézia Monteiro de Melo, do movimento estudantil, que está grávida, também foi ferida pelos policiais.

Na quarta-feira (11), cerca de 300 pessoas ocuparam a agência do Banco Itaú em Catalão e pressionaram pela reunião de negociação. Novamente, a PM respondeu ao protesto com truculência. Alunos e professores da UFG foram perseguidos e militantes do MCP sofreram agressões por parte dos policiais.

De acordo com o MCP, a ação violenta da PM começou quando, em discurso, o professor de geografia da UFG Gabriel de Mello Neto fez críticas ao envolvimento de políticos goianos com o esquema de jogos e propinas encabeçado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, revelado pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal.

O MCP, através de nota, afirma que o professor foi ameaçado de morte por um policial. “Durante o percurso foi informado que o policial Hudson o aguardava no IML, dizendo a todos: 'Eu vou encontrar o Gabriel nem que seja no inferno'”, disse em nota.

 

 

Fonte: Brasil de Fato, 12/4/12.

 


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