Aluna da UFRRJ sofre tentativa de estupro nos arredores da universidade, em Seropédica

 

Estudantes ouviram gritos antes de a jovem ‘cheia de sangue nas mãos’ pedir socorro; em vídeo, ela fala sobre o crime

RIO - Uma aluna da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) foi atacada, na manhã desta quinta-feira, nos arredores do campus da instituição, em Seropédica. Em redes sociais, alunos relatam que ouviram gritos antes de uma jovem “cheia de sangue nas roupas e nas mãos” surgir de uma trilha próxima ao Instituto de Florestas, contando que havia sofrido uma tentativa de estupro e pedindo ajuda.

Segundo informações da Polícia Civil de Seropédica, a estudante passava por um atalho que liga uma ciclovia próxima ao campus à universidade, quando foi ameaçada pelo autor, que tem 12 anos de idade, e estava munido de uma faca. Ele tentou estuprá-la e chegou a roubar R$ 30 da vítima. Enquanto apresentava resistência, a jovem sofreu ferimento em um dos dedos das mãos, o que fez com que o adolescente se assustasse e liberasse a estudante. Ao receber a denúncia, policiais civis e militares fizeram buscas no local do crime, onde o encontraram e conseguiram recuperar o dinheiro roubado. A faca não foi encontrada. De acordo com a Polícia Civil, o autor é acusado de um estupro ocorrido em meados deste ano. Ele foi encaminhado para o Ministério Público.

De acordo com o delegado titular da 48ª Delegacia de Polícia de Seropédica, Paulo Roberto Freitas, o autor confessou o crime. Ele ainda aguarda a confirmação da idade, mas já adiantou que o menor será apresentado ao Ministério Público, para que seja decidida a apreensão dele. Freitas relatou ainda que o menor já foi acusado por outro crime semelhante e uma terceira mulher será ouvida na delegacia, pois há suspeitas de que ela também tenha sido vítima dele.

- Esta apreensão é muito importante, pois a notícia se espalhará rapidamente - disse Freitas, sobre como a ação deve servir de alerta para outros criminosos. - Estou aqui há oito meses, então, não posso dizer se esse tipo de crime está aumentando. Mas, na maioria dos casos que somos notificados, conseguimos encontrar os autores e tomar as providências cabíveis.

A vítima de 20 anos não teve a identidade revelada. Após o ocorrido, deitada na ambulância, ela conta que estava indo para a aula, por volta das 10h, quando foi abordada por um homem de casaco azul que estava segurando uma faca. Segundo ela, o rapaz gritou dizendo que iria estuprá-la, e tentou agarrá-la.

- Estava indo para a aula quando vi esse cara com uma faca na mão ameaçando me estuprar. Eu ainda ofereci dinheiro, mas ele disse que não queria. Fiquei empurrando, mas ele chegou a encostar a faca na minha barriga e abaixar as calças dele - relatou a vítima.

Toda a ação durou cerca de 20 minutos, até o momento em que policiais tentaram abordar o rapaz, dando início à perseguição pela a mata.

 

- Eu estava indo a pé para a Rural e avistei uma pessoa de blusa azul em pé, na trilha que fica próxima ao Instituto de Florestas. Quando voltei, ouvi gritos e vi o homem de azul tentando segurar a menina - contou a estudante de 22 anos. - Na mesma hora, passava um carro da guarda da universidade. Acenei, mas eles não viram. A ciclovia estava vazia. Fiquei sem reação na hora e com muito medo, incapaz de ajudar.

Criadora da página “Abusos cotidianos - UFRRJ”, que, justamente, coleta relatos de ataques ocorridos na universidade, a estudante de psicologia Ellen Mariane contou que, segundo relatos de colegas, a jovem saiu gritando de dentro de umas das trilhas que leva à universidade. Ela sangrava e dizia que tinha sido atacada por um homem.

 

- Ela foi atendida por uma ambulância e havia muitos policiais militares no local - comentou Ellen, que também já sofreu uma tentativa de estupro na região e reclamou que ataques são frequentes. - É o tempo todo, a qualquer hora.

Segundo a UFRRJ, o ataque ocorreu no trecho da ciclovia fora da universidade e o agressor fugiu para o interior do campus quando avistou os vigilantes que realizavam a ronda habitual.

Em nota oficial, a reitoria afirmar que, segundo a Divisão de Guarda e Vigilância (DGV), os índices de registro de violência no interior do campus são baixos. A Polícia Militar não atua dentro da UFRRJ, mas declara que vem fazendo o patrulhamento do entorno para aumentar a segurança dos alunos.

“A reitora Ana Maria Dantas já solicitou recursos junto ao Ministério da Educação (MEC) para um conjunto de medidas que visam à ampliação da segurança no campus de Seropédica. Entre essas medidas, destacamos a contratação de vigilância privada, a implantação de um sistema de monitoramento por câmeras para todo o campus, a compra de viaturas e equipamentos novos. No entanto, ainda aguardamos a liberação desses recursos para efetuarmos essas medidas”, diz a nota.

De acordo com os alunos, porém, assaltos e agressões sexuais são comuns nos arredores do campus. No mês passado, a estudante de zootecnia Maiara Viana Dias foi assaltada quando caminhava de casa, no bairro Boa Esperança, para a universidade, trajeto que geralmente percorre em poucos minutos. Ela estava com uma amiga, mas a companhia não intimidou o agressor.

- Um homem de bicicleta que aparentava ter em torno de 40 anos nos abordou, puxou uma faca e mandou entregarmos os celulares e dinheiro - lembra a estudante de 25 anos. - Mesmo em grupos de até três pessoas, alunos costumam ser assaltados, principalmente as mulheres.

Segundo a jovem, a ciclovia nos arredores da universidade, onde ela foi assaltada, é um local extremamente inseguro.

- Eu costumava ir de bicicleta para a faculdade, mas não posso mais. As ciclovias são o maior alvo dos assaltantes e estupradores - conta Maiara.

PROTESTO PELA SEGURANÇA

Escandalizado com o número de casos de agressões dentro ou perto da universidade de Seropédica, o “Comitê de Autodefesa das Mulheres - UFRRJ” convocou, pelo Facebook, um ato pelo fim da violência contra a mulher na região. A passeata será na próxima quinta-feira, dia 9, no campus, e o grupo reivindica uma infraestrutura mais segura: iluminação eficiente e com manutenção constante, controle da vegetação para impedir “zonas cegas”, transporte interno gratuito e frequente para evitar longos deslocamentos, principalmente à noite.

“Exigimos também que a administração central tome as medidas cabíveis sempre que for informada de um ato de violência contra a mulher. O argumento do desconhecimento é falacioso, já que vítimas relatam que levaram ao conhecimento da Direção de Instituto e à própria Reitoria e nada, absolutamente nada foi feito. A violência sexual contra a mulher é uma realidade na UFRRJ, a ponto de ter virado rotina”, diz o manifesto publicado na rede social.

 

  

Fonte: O Globo, por Marina Cohen / Eduardo Vanini / Leonardo Vieira, 2/10/14.

 

 

 

 

 

 


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