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ADUR Online #18: 2022 não é mais uma miragem

27 de novembro de 2020

Por Alberto Aggio*

Antes ou depois das eleições e independente dos seus resultados, política se deve fazer com diálogo, se estamos pensando a política num contexto democrático. Porém, precisamente nesse contexto, a política é também competição e disputa, concertação e confronto, escolha e eleição. Uma vez rotinizada, essa dinâmica passa a legitimar os atores, as alianças e os campos de força que se estruturam num embate permanente.

Jair Bolsonaro foi eleito em contexto democrático – embora já tenha dado todas as mostras de que seja um personagem antidemocrático. Com ele emergiram na cena política seus apoiadores mais fieis que estruturam o que se vem chamando de ultra ou extrema-direita. Tão antidemocráticos quanto ele. Há correntes políticas, especialmente à esquerda, que atuam no contexto democrático, mas sonham em suprimi-lo uma vez alcançado o poder – embora isso jamais possa ser dito publicamente, tendo que permanecer à sombra.

As forças que querem manter ou dizem querer manter a democracia no País sugerem uma “frente” de atores diversos para enfrentar Bolsonaro em 2022. Há algum tempo se fala em “frente democrática” ou “frente ampla”; mas há aqueles que falam que somente lhes interessa uma “frente de esquerda” (que eles supõem ser “democrática”) para realizar tal objetivo.

As eleições municipais que o País vivenciou nos últimos dias acabaram por revelar um quadro de grande dispersão de forças, cobrindo todo o espectro político, conforme o filósofo Marcos Nobre apontou em entrevista recente. Vale notar que algumas forças políticas diminuíram seu poderio, outras emergiram como forças “renovadoras” (embora em estado bastante rudimentar, eleitoral e politicamente) e outras ainda ressurgiram de um patamar que alguns consideravam pré-falimentar, o que é um dado pouco observado nas análises dos resultados.

Alguns aspectos chamam a atenção na “leitura” que Marcos Nobre faz dos resultados eleitorais. Para ele não há (e talvez nunca haverá) um centro político no Brasil. Só existe extrema-direita, direita e esquerda. É visivelmente um raciocínio binário – reduzindo tudo ao embate direita versus esquerda. Há quem goste desse tipo de concepção porque é algo simples e esquemático. Enquanto boa parte dos analistas julgaram que Bolsonaro foi o grande derrotado, para Nobre, Bolsonaro saiu fortalecido em função do desempenho positivo dos partidos do Centrão, o que, em parte, corresponde à verdade. Se esta análise estiver correta, há um problema subsequente que precisa ser ponderado.

A noção de frente supõe um adversário autoritário que estabeleceu ou tende a estabelecer um regime dessa natureza. A noção de frente, neste caso, é essencialmente defensiva diante de um regime que suprimiu ou visa suprimir os espaços democráticos. A consciência dos atores em relação a essa determinação deve ser cristalina e a perspectiva é de ceder e conciliar visando derrotar um inimigo maior e mais poderoso. Se a força de Bolsonaro está no Centrão, dilui-se efetivamente a ideia de que um regime autoritário ou iliberal está prestes a ser instalado no País. As razões de ser do Centrão não estão no estabelecimento de um regime fechado. Ao contrário, o Centrão é causa e produto do que o próprio Nobre definiu, em seu tempo, como “peemidebização” da política brasileira.

A despeito do “renascimento do diálogo” (o que supõe até mesmo um diálogo de surdos), o cenário, por enquanto, está mais para a afirmação de campos políticos a serem articulados como candidaturas competitivas que, eventualmente, podem agregar em torno de si as tais “frentes”. Pode-se pensar hipoteticamente que é provável que se componha uma frente de esquerda, uma frente à direita que apoiará Bolsonaro, e uma frente ao centro (mais à esquerda ou à direita) que irá se contrapor às duas mencionadas; sem falarmos na aparição de candidaturas minoritárias que não estarão interessadas nesse tipo de estratégia. O resultado mais saliente das recentes eleições municipais é a vitalidade da dimensão competitiva dos atores, expressa na dispersão de forças observada. É de se supor que apenas a esquerda vai conduzir sua estratégia vocalizando a antiga linha de frente democrática ou popular porque isso faz parte do seu repertório identitário.

No fundo, a noção de frente é, até mesmo do ponto de vista da linguagem, algo que está em descompasso com o cenário competitivo que assumiu a democracia brasileira. E, se é correto, que a dispersão aumentou, levando-se em conta o apetite que certas lideranças sempre revelaram, o cenário é mais ainda de disputa do que de “concertação”.
Ao contrário da “leitura” de Nobre, Bolsonaro se enfraqueceu e o Centrão – sua salvação pragmática – passa a ter mais poder. Para Bolsonaro, não há mais espaço para a retomada da “guerra de movimento” do Ano 1. O fascismo ou a perspectiva de imposição de um regime iliberal ficaram para trás. Por outro lado, Bolsonaro é inepto para conduzir uma “guerra de posições”. O Ano 2 é a expressão disso, vide por exemplo o desastre que é a “gestão” de combate à pandemia (se é que se pode chamar o que existe de “gestão”) e os resultados eleitorais também desastrosos para o bolsonarismo”.

Ao contrário da “leitura” de Nobre, Bolsonaro se enfraqueceu e o Centrão – sua salvação pragmática – passa a ter mais poder. Para Bolsonaro, não há mais espaço para a retomada da “guerra de movimento” do Ano 1. O fascismo ou a perspectiva de imposição de um regime iliberal ficaram para trás.” Por outro lado, Bolsonaro é inepto para conduzir uma “guerra de posições”. O Ano 2 é a expressão disso, vide por exemplo o desastre que é a “gestão” de combate à pandemia (se é que se pode chamar o que existe de “gestão”) e os resultados eleitorais também desastrosos para o bolsonarismo”.

Para o País importa efetivamente produzir uma alternativa que ultrapasse a situação presente e projete uma saída convincente para o futuro tendo como base um programa modernizador, democrático e cosmopolita, que valorize a interdependência e a globalização para retomar o lugar do Brasil no mundo. Superação, enfim, do bolsonarismo e da crise nacional. A justa demanda de Luiz Werneck Vianna de que precisamos retomar o “fio da meada” deve encontrar seu roteiro a partir de uma abordagem política em plano global. É a isso fundamentalmente que os atores democráticos devem se dedicar, olhando para o futuro e não para o passado, invariavelmente filtrado a partir de demarcações ideológicas.

 

*Alberto Aggio é historiador e professor titular da Unesp e produtor do Blog Horizontes Democráticos (www.blogdoaggio.com.br)

 

ADUR ONLINE é um espaço da base do Sindicato. As opiniões expressas no texto não necessariamente representam a opinião da Diretoria da ADUR-RJ.

 


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