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A disputa ideológica de sentido nas palavras de Bolsonaro: a distorção do significado de verdade, democracia e liberdade de expressão

10 de setembro de 2021

Reportagem da Semana

Por Larissa Guedes 

 

Bolsonaro durante 7 de setembro em Brasília em meio a apoiadores. Imagem: reprodução Jornal O Povo.

 

As manifestações bolsonaristas do último dia 7 de setembro trouxeram como pautas centrais discursos em defesa de conceitos como “liberdade”, “democracia” e “verdade” a partir de uma perspectiva deturpada e esvaziada do sentido original das expressões. Para os bolsonaristas, a interpretação do conceito de democracia está associada, por exemplo, ao fechamento de instituições pilares da República, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional e o conceito de liberdade de expressão está associado à propagação de discursos de ódio. 

 

A linguagem usada por Bolsonaro o aproxima social e afetivamente de seu eleitorado, que reproduz fielmente não apenas as terminologias linguísticas do presidente, mas também acredita e interpreta a realidade a partir das conotações que o chefe do Executivo determina. Por isso, há uma construção efetiva de um elo de identificação popular com o discurso de Bolsonaro, por conta da linguagem que ele usa, do vocabulário recheado de expressões de fácil compreensão, termos chulos e até mesmo locuções sexualizadas.

 

O professor do Departamento de Letras e Comunicação (ICHS/DLC) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Wagner Costa, analisa o discurso de Bolsonaro a partir de uma perspectiva da Análise Semiolinguística do Texto e do Discurso e explica que as ideias de Bolsonaro encontram consonância porque, na verdade, refletem pensamentos já disseminados em meio aos membros de sua base eleitoral. 

 

“A fala de Bolsonaro se dirige a um destinatário que compartilha de suas ideias e de seu universo de valores, “prodestinatário”, nos termos de Verón. Não se trata da nação como destinatário, mas de um grupo específico, dentro do qual não há debates, não há reflexão contínua, apenas repetição. Sendo assim, não há estranhamento para esses seguidores ouvirem enunciados de cunho racista, homofóbico e misógino, que são legitimados pelo desejo de manutenção das relações sociais da tradição patriarcal brasileira. Ou seja, valores também defendidos por esse grupo (família tradicional brasileira)”, define o docente.

 

Em relação às terminologias – muitas vezes de baixo calão – utilizadas por Bolsonaro para se comunicar com seus aliados, o professor Wagner argumenta que elas são uma consequência da ausência de meios linguísticos por parte de Bolsonaro para expressar suas ideias. 

 

“Esses trocadilhos não são propriamente uma estratégia como algo arquitetado, algo refinado, resultam de sua precariedade cognitiva. Esses recursos pouco contribuem para a atividade de explicação do conceito que ele pretende expor; diferente disto, visam injetar tom de humor e operar um desvio do tema tratado ou torná-lo tecnicamente menos denso. Pode-se observar que, em geral, esses trocadilhos encerram resposta a uma pergunta (em entrevistas) para a qual seria necessário um conhecimento mais consistente sobre certo tema”, aponta ele.  

 

A “verdade cristã” para os bolsonaristas

 

Bolsonaro desfila durante o Dia da Independência acompanhado de crianças, em alusão ao conceito cristão que ele reproduz desde sua campanha “Deus, pátria e família”. Imagem: reprodução BBC Brasil.

 

Um dos pontos muito presentes nesta narrativa bolsonarista é o conceito de “verdade”. Bolsonaro sempre discursa através da perspectiva religiosa da palavra e, muito frequentemente, faz citações bíblicas a respeito do que ele entende como “verdade”. O versículo bíblico “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32), foi inclusive um dos slogans de campanha de Bolsonaro durante as eleições presidenciais de 2018.

 

A partir da perspectiva da Análise Semiolinguística do Texto e do Discurso, o professor Wagner Costa explica que a verdade nunca é absoluta, porque é sempre discursivizada, ou seja, passa por um processo de transformação em discurso.  

 

Esse processo é operado por sujeitos com inscrições sociais, vivências em grupos e valores que se refletem em seus dizeres. Assim, não existe neutralidade, a verdade é sempre construída. Por isso, tem-se falado tanto em “disputa ideológica”, “disputa de narrativas”, que se referem à tentativa de esses grupos imporem sua interpretação sobre as coisas. Especificamente em relação ao bolsonarismo, as bases para sustentar a defesa de seus valores é a religiosa de uma vertente conservadora. Isto está relacionado ao que se chama de negacionismo, que é uma prática de depreciação do conhecimento científico em prol de uma interpretação dos fatos abonada por uma visão religiosa”, elucida o docente.

 

Segundo o professor Wagner, a “verdade” no discurso bolsonarista costuma ser um conceito divulgado com intenção de manipulação de dados para mascarar os erros cometidos pelo governo, como no caso das estratégias de divulgação da gestão federal sobre as informações quantitativas relacionadas à pandemia, como percentual de vacinação, por exemplo.

 

“A verdade é contingenciada, depende do momento e do universo de discurso do sujeito comunicador. Está atrelada a um ponto de vista que orientará a discursivização de um fato ou ideia. O discurso político é espaço rico para observação desse fenômeno de linguagem. A liberdade corresponde, então, nessa polarização política brasileira atual, à aniquilação da oposição, haja vista que parece não haver mais fôlego para o debate. Quanto à liberdade de expressão, também ela é enviesada, orientada por cada conjunto de valores pertinentes a determinado grupo. Assim, no universo bolsonarista não é errada a afirmação feita por Bolsonaro de que preferiria ter um filho morto a um herdeiro gay. Por decorrência, todas as ações políticas referentes à pauta da diversidade sexual passam pelo filtro da “verdade” dita “cristã”, define o professor. 

 

O docente chama atenção para o fato de que no meio bolsonarista, “não se fala para eleitores, mas para um grupo com estatuto de seguidores”, então independentemente do discurso proferido pelo presidente, a adesão é garantida. “O desafio atual, porém, é munir a população de meios para identificar a manipulação nos discursos pela informação falsa”, alerta Wagner. 

 

Durante a sessão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do dia 9 de setembro, o presidente da Corte e também ministro do STF, Luís Roberto Barroso, se pronunciou contra as acusações e ameaças feitas por Bolsonaro durante o Dia da Independência e fez referência à frase bíblica constantemente propagada por Bolsonaro, dizendo “conhecereis a mentira e a mentira te aprisionará”.

 

Alucinação coletiva após manifestações do 7 de setembro e o recuo de Bolsonaro 

 

Manifestantes bolsonaristas pedem o fechamento de instituições da democracia durante protestos do dia 7 de setembro de 2021. Imagem: reprodução Folha UOL.

 

A crise política entre os Poderes se acirrou nas últimas semanas anteriores às manifestações de 7 de setembro, mas os discursos de Bolsonaro recheados de ataques às instituições datam de muito antes da campanha eleitoral de 2018. Há registros de depoimentos de Bolsonaro ainda na década de 1990, quando era deputado federal, declarando que, se fosse o presidente do país na época, fecharia o Congresso Nacional e “daria golpe no mesmo dia”. 

 

Em 2019, após ser eleito presidente, ele passou a subir cada vez mais o nível de ameaças contra os outros Poderes. Encontrando poucos freios por parte das instituições, a tática culminou nos discursos golpistas do presidente nos palanques de Brasília e São Paulo no dia 7, nos quais ele afirmou que não obedeceria decisões judiciais do STF e atacou frontalmente ministros da Corte, declarando que “(…) ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que não queremos”, em referência aos magistrados Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

 

No entanto, no dia 9 de setembro, após se reunir com o ex-presidente Michel Temer (MDB), Bolsonaro mudou completamente de tom ao divulgar uma “Declaração à Nação” no site do Governo Federal redigida por Temer, na qual ele recua em relação discursos que deu em 7 de setembro e afirma que não teve “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes“, alegando que o que ele disse durante o Dia da Independência foi causado pelo que chamou de “calor do momento”.

 

A declaração indica mais um passo contrário às intenções golpistas de Bolsonaro, que após inflar tanto sua base, teve dificuldades de sustentar o que propagou e se viu obrigado a pedir que eles também recuassem. No dia 8 de setembro, caminhoneiros bolsonaristas financiados por grandes empresas do setor de transporte nacional, bloquearam rodovias em pelo menos 16 estados da Federação. Bolsonaro, então, foi obrigado a pedir que os manifestantes liberassem as estradas. Em um áudio que foi circulado pelo WhatsApp, o presidente faz a solicitação aos caminhoneiros justificando que a manifestação “atrapalha a economia” e “prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres“.

 

Os caminhoneiros duvidaram que o áudio fosse de fato do presidente e acreditaram que pudesse ser uma imitação humorística do comediante Marcelo Adnet. Foi então que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, fez um pronunciamento para confirmar que o áudio tinha sido realmente gravado por Bolsonaro e reforçar o pedido de liberação das rodovias por parte dos caminhoneiros. 

 

Outro ponto relevante foi a circulação de vídeos nas redes sociais de bolsonaristas comemorando a instalação de um suposto “estado de sítio” no Brasil após as manifestações do 7 de setembro. A notícia falsa foi amplamente divulgada em grupos bolsonaristas, que também afirmavam que os 11 ministros do STF haviam sido retirados de seus cargos. Nos vídeos, manifestantes bolsonaristas choram e comemoram o falso “estado de sítio”, que segundo eles, tinha sido decretado por Bolsonaro. Não houve nenhum decreto por parte de Bolsonaro e os vídeos rapidamente se tornaram memes nas redes sociais. 

 

Memes divulgados no Twitter após a repercussão dos vídeos de manifestantes comemorando a falsa notícia de que Bolsonaro havia decretado “estado de sítio” no Brasil. 

 


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