O escândalo envolvendo a autonomia do Banco Central e os aumentos consecutivos da taxa Selic: lucros para os bilionários e crise para os trabalhadores
5 de novembro de 2021
Reportagem da Semana da ADUR-RJ
Por Larissa Guedes

À esquerda, o banqueiro André Esteves e à direita, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. (Imagens: Reproduções: Jornal Diário do Estado/Portal R7).
No final do mês de outubro, o portal Brasil 247 revelou, em uma reportagem exclusiva, o vazamento de um áudio de uma reunião no qual banqueiro André Esteves, dono do banco BTG Pactual e da Editora Abril, conversando com clientes e investidores, contou que o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, lhe pediu orientações sobre qual deveria ser o piso da taxa básica de juros no Brasil, a taxa Selic.
Revelando mais ainda a sua influência direta na política econômica do Estado, na mesma reunião, cuja íntegra foi vazada em áudio, Esteves também contou que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) acabara de ligar perguntando sua opinião, após um acontecimento que gerou uma debandada de funcionários do Ministério da Economia de Paulo Guedes.
Diante do atual cenário econômico brasileiro de crise, instabilidade política e alertas sobre possibilidade de recessão para 2022, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vem anunciando aumentos constantes na taxa básica de juros, a taxa Selic, para tentar conter a inflação. A previsão de muitos economistas é que a Selic possa chegar no ano de 2021 em 9,25%, levando em consideração os dados mais recentes divulgados pelo boletim Focus, elaborado e divulgado toda semana pelo próprio Banco Central.
Nesta semana, o Copom divulgou a ata de uma de suas reuniões mais recentes, confirmando a decisão de aumento da Selic em mais 1,5%, atingindo 7,75% no início deste mês de novembro. No documento, o Comitê também revelou que a previsão para 2022 é de mais aumento, podendo atingir até 9,75%, mas que no encerramento do próximo ano, a taxa deve ser reduzida para 9,50% e seguir em ritmo de diminuição a partir de 2023.
O professor do Departamento de Ciências Econômicas da UFRRJ, Antônio José Alves Júnior, explica a quem interessa no Brasil, esse jogo de aumento progressivo da taxa básica de juros.
“A taxa básica de juros, a Selic, que é a taxa pela qual o Banco Central oferece e toma reservas dos bancos no mercado de títulos públicos. Ela influencia o conjunto das taxas de juros da economia brasileira na mesma direção, ainda que em modo não-linear. Dito isso, muitos se preocupam com os efeitos das taxas sobre o ritmo da atividade econômica, mas há um outro efeito, tão ou mais relevante, que é o da valorização ou desvalorização dos títulos com a oscilação dessas taxas.
Em ambiente de alta da Selic, por exemplo, fundos que venderão papéis no futuro estão ganhando fortunas, enquanto os comprados estão perdendo. Empréstimos já concedidos com taxas fixas perdem, os tomadores ganham. No Brasil dos dias de hoje, em que o presidente do Banco Central e o Ministro da Fazenda têm contas em paraísos fiscais, saber quem ganha é muitíssimo relevante. Não só se ganha com a mudança na taxa de câmbio, mas sempre alguém pode perguntar se essas contas são abastecidas com dinheiro legal ou com, digamos, propina”, decifra o economista.
Com relação à revelação feita pelo Portal 247 sobre Campos Neto e André Esteves, o professor considera que é inaceitável, além de ser um absurdo da mais alta gravidade. De acordo com o docente, esse acontecimento deveria ser motivo para que fosse realizada uma auditoria da dívida, por representar uma desmoralização completa da ideia de um Banco Central autônomo, uma medida que, segundo ele, não deveria ter prosperado no Brasil.
“A autonomia do BC é um escândalo. Do ponto de vista da economia, se sustenta em uma teoria monetária ultrapassada, segundo a qual a inflação seria resultado do descontrole monetário de governos que querem gastar mais do que arrecadam. Em poucas palavras, senso comum, sem apoio em evidências, com vestimenta de conhecimento científico. O pior, contudo, é a concepção, autoritária e neoliberal, de que o Estado deve ser poderoso, mas guiado por tecnocratas, de preferência, oriundos do setor privado. A política, que é o espaço de decisão pública, é desqualificada como eminentemente corrupta, mesquinha e ignorante. Bom, se o Esteves não estiver apenas “bravateando” para sugerir intimidade com o poder, estaremos diante de um escandaloso exemplo de que o mercado pode não ser assim tão virtuoso”, aponta ele.
O economista alerta ainda para o fato de que a evolução desse tipo de institucionalidade representa um sério risco para o Brasil se afundar como economia diversificada. Segundo ele, o mercado de minerais e o agronegócio estarão ganhando enquanto os preços de commodities estiverem favoráveis ao Brasil. “Será, ainda, o oceano azul para o sistema financeiro e grandes cadeias de varejo. Qualquer perspectiva de modernização do tecido produtivo será sacrificada. Para os trabalhadores, será o pior dos mundos, com poucos empregos, informalidade e baixa renda”.
“De volta ao tema do autoritarismo neoliberal, (…) o que importa pra economia, a saber, o montante do orçamento, a estratégia das estatais estatais, o comércio exterior, a infraestrutura, e a politica monetária, não deve ser objeto de “interferência politica”. Planejamento e politica industrial, na opinião do banqueiro milionário, nem pensar. Pra ele, essas dimensões cruciais tem que ficar na mão de gente “confiável”, escolhida pelo mercado financeiro”, conclui o economista.
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