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ADUR Online #51: Direitos das minorias sociais e racismo pelo olhar da psicologia social

ADUR Online

26 de julho de 2021

Por Luciene Alves Miguez Naiff

 

“Ninguém nasce odiando os outros pela cor da sua pele, ou por sua origem,
ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas
aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar”.

Nelson Mandela (O longo caminho da liberdade, 1994)

 

A única forma de avançarmos no combate ao preconceito racial no mundo é enfatizando, em todos os lugares, em todos os momentos, diante de qualquer plateia, que não será tolerado o racismo.

A maioria das vítimas de racismo da minha geração e de gerações anteriores, não conseguiam reconhecer o que viviam como racismo. A sociedade perpetrava o racismo estrutural. Alias, por isso ele é estrutural, porque está embutido nas pequenas coisas, até que se torna “normal”.

A falta de materialidade da luta, falta de leis, de representatividade, de espaço de queixa, deixava as pessoas submissas e acreditando que o problema era com elas. Não tinha escuta social. Não tinha espaço. Mas, isso não era vivido sem dor. Era uma dor miúda, naturalizada, que ia aos poucos minando a autoestima e a autoconfiança.

E como a psicologia social explica tudo isso? Esse é um ramo da psicologia que estuda nosso funcionamento psíquico e nosso comportamento diante da presença ou mera expectativa de presença de outras pessoas. Então, como fazemos isso? E como, o fato de sermos seres sociais, afeta nossa forma de ver e se comportar no mundo?

Para dar sentido ao mundo que acessamos utilizamos diversos dispositivos cognitivos e um deles é o estereótipo. O estereótipo não é um dispositivo meramente individual. É uma forma de regulação intra e intergrupal permeada pela cultura, essa última entendida como as produções e posições compartilhadas por um grupo em um dado momento histórico.

Os estudos acerca dos estereótipos apontam para a ideia que utilizamos esse dispositivo para dar ordem e sentido ao mundo a nossa volta. Utilizamos estereótipos de forma a ordenar e categorizar a realidade gastando, dessa maneira, menos energia.

O que irá definir essa diferenciação básica serão os elementos de aceitação e de rejeição socialmente partilhados na cultura. E são esses elementos que alimentam cargas afetivas negativas ou positivas voltados a grupos específicos. Quando são negativas estaremos falando de preconceito. Mas, ainda temos um caminho a percorrer entre o preconceito e a discriminação que é um comportamento negativo dirigido a pessoas ou grupos.

Em culturas e/ou ambientes com normas anti-preconceito, esse aspecto age como inibidor de comportamento discriminatório. São as normas sociais que nos auxiliam nesse controle. Nem sempre precisam ter leis e regras a todo momento, já que somos capazes de internalizar princípios e valores. Mas, precisamos que eles existam e nos sejam passados.

A falta de empatia é o primeiro sinal de preconceito e racismo que existe em relação a população mais pobre no Brasil. Somos um pais com maioria de negros e, entre os mais pobres, chegamos a mais de 70 %. Ou seja, nossa pobreza é negra. E não comove. Não mobiliza. Não gera empatia.

No Brasil, a cor da sua pele e o lugar que você mora podem ser estigmas quase insuperáveis. Entramos ai na discussão sobre racismo. Racismo é um tipo específico de preconceito, que atinge diferenças étnicas e fenotípicas em especial. O racismo recrudesce o preconceito. Tem uma relação de poder estabelecida e desumaniza o outro. O racismo estrutural nasce na base das relações institucionais, históricas, interpessoais e culturais.

Políticas públicas são leis criadas pelo Estado para viabilizar direitos. Mas a política age de acordo com interesses de grupos majoritários. Ou seja, a sociedade pressiona a existência de políticas públicas. E fazemos isso por representatividade. Só que por muito tempo nem a população pobre e nem a negra teve representantes lutando por suas mazelas. A falta de representatividade, em diversas escalas sociais, levou a uma grande invisibilidade e um apagão de décadas de qualquer iniciativa voltada aos grupos minoritários.

Foram anos de luta e muitas conquistas. Os movimentos sociais alçaram conquistas importantes em leis e políticas voltadas para os negros, mulheres LGTBs, indígenas, crianças e adolescentes. Uns avançaram mais do que outros. Mas indubitavelmente o mundo de hoje é mais consciente e inclusivo do que há 50 anos para os grupos minoritários. E não chegamos nem na metade do que se precisa para se ter justiça social. E não podemos retroceder.

A população negra brasileira ainda é discriminada. Com a ascensão de uma direita extrema e, especialmente nas franjas radicais dessa direita, temos, sem pudor, um discurso de discriminação. No entanto, hoje temos um solo trilhado. Temos leis. Temos voz. Temos grito. Temos espaço. Não obstante, o sofrimento de uma grande parcela da população ainda não é sentido por toda ela.

Dito isso, percebemos a importância da psicologia se posicionar de forma contundente nessa discussão. Cuidar da saúde mental não é um privilégio, e sim lutar para que esse campo esteja acessível e bem formado para lidar com as diversas mazelas sociais e psíquicas que acometem nossa população.

Ser negro em uma sociedade racista é um desafio diário. Ter espaço de escuta para lidar com isso psiquicamente é necessário, criar condições de enfrentamento é libertador.

 

*Luciene Alves Miguez Naiff é professora associada da UFRRJ e docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRRJ .

*ADUR ONLINE é um espaço aberto aos docentes e pesquisadores da UFRRJ e de outras Universidades também. As opiniões expressas no texto não necessariamente representam a opinião da Diretoria da ADUR-RJ.


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