(21) 2682-1379 Fale Conosco
[wpdreams_ajaxsearchlite]

ADUR Online #17: Eleição Municipal: Quem venceu?

20 de novembro de 2020

Por Luiz Martins de Melo

Toda eleição como, uma competição esportiva, os analistas querem logo declarar os vencedores e vencidos. Na competição esportiva ou pelo, menos na maioria delas, é sempre possível saber quem é o vencedor. O futebol é exceção. Talvez por isso a grande maioria dos analistas esteja a afirmar quem perdeu, mas estão com dificuldades em definir o vencedor. Respondem à questão de quem ganhou a eleição municipal com uma reposta que não estava posta na pergunta: o centro político.

Analisar os resultados de uma eleição pela quantidade de vitórias locais de cada partido não diz grande coisa. Mas um fato é sempre um fato. Mesmo que não seja decisivo é necessário levá-lo em conta.

Um sinal relevante que se pode retirar dos resultados eleitorais de 2020 é de que a onda bolsonarista não saiu vencedora e a antipolítica patrocinada por ela e pelo lavajatismo foi derrotada pela volta da boa e tradicional “política” ou como a chamam depreciativamente da “velha política”. Portanto, neste artigo a denominação será aa clássica sem adjetivos: a volta por cima da “política” sobre a onda bolsonarista iniciada em 2018.

A onda bolsonarista não foi derrotada por uma onda contrária de esquerda. Longe disso. Foi barrada pelas velhas estruturas da política tradicional (clientela) enraizadas na nossa tradição conservadora-autoritária que fez parte da transição da ditadura civil-militar para a democracia a partir da década 1980. Essa tradição conservadora-autoritária avançou nas eleições atuais nas pequenas cidades. O desempenho do PSL e do Republicanos os partidos mais representativos da onda bolsonarista mostra bem isso cresceram 200% e 102% respectivamente em número de prefeituras em relação a eleição de 2016.

Esse “baixo clero” conservador foi aquele que colocou freios ao impulso reformador social, nacionalista e democrático da Constituinte de 1988. Esse conservadorismo-autoritário é herdeiro da alta representatividade das regiões mais conservadoras do país criada pela “reforma eleitoral” da ditadura em abril de 1977. Essa fração conservadora-autoritária aliada aos liberais-conservadores vai formar o Centrão que apoiou e aprovou as reformas neoliberais dessa mesma Constituição, a Lei do Teto do Gasto e a reforma trabalhista com Temer, e a Reforma da Previdência com Bolsonaro e Guedes. Reformou para pior os melhores capítulos da Constituição de 1988.

A hegemonia política que saiu do processo de transição da ditadura para a “Nova República” foi liderada pelo MDB, PSDB e PT. Não devemos ter ilusões de que esse mundo de antes da Lava Jato e Bolsonaro vai voltar. PT, PSDB e MDB continuaram perdendo prefeituras em 2020, assim como PSB e PDT. O Centrão a grande frente inorgânica que venceu a eleição de 2020 são os herdeiros do espírito conservador-autoritário e (neo)liberal-conservador do DEM. Todas essas tradições de fazer política que estavam presentes na Nova República hoje constituem o grupo que domina o Congresso Nacional enraizado no DEM, no PP, no PSD, no PL e demais partidos integrantes ou ex-integrantes do Centrão.

O importante é entender que tal conservadorismo age politicamente para conquistar espaços de poder no aparelho estatal com absoluto pragmatismo. Foi uma barreira que impediu o autoritarismo de Bolsonaro durante a pandemia, mas o protegeu do impedimento. Patrocinou e aprovou o golpe institucional e o impedimento de Dilma Rousseff sem nada que parecesse com as afrontas de Bolsonaro à Constituição. A eleição de 2020 acabou de tornar Bolsonaro ainda mais refém da política do Centrão.

Do ponto de vista da motivação eleitoral para votar ao que parece prevaleceu uma reação a política do Bolsonaro no enfrentamento da pandemia. A resposta perante a Covid-19 parece muito significativa para explicar a preferência pela continuidade e a rejeição a experimentar novos prefeitos.

Porém, será um erro crasso subestimar Bolsonaro pelo resultado das eleições de 2020. Provavelmente vai acelerar o seu comportamento oportunista em aliança com o Centrão e procurar fazer o mesmo movimento que fez quando transformou o auxílio emergencial em seu.

No entanto, para isso, vai ter que enfrentar a mãe de todas as lutas políticas atuais: a preservação ou não do teto do gasto público federal, a maior limitação política à retomada do crescimento econômico, para a geração de empregos e a diminuição da desigualdade social. E em sendo mantido, o teto de gastos vai aumentar a crise social, econômica e política no início de 2021.

Essa é uma matéria que divide o Centrão. Existe o Centrão da Faria Lima e Guedes com BabyMaia e o Centrão dos prefeitos que vão assumir no início de 2021 sem receitas para atender as suas promessas de campanha.

A lei do teto de gastos como o seu irrealismo em 2021 – pelo limite a repasses federais para municípios e ao auxílio emergencial, e pelo efeito da estagnação do PIB sobre a arrecadação tributária- vai gerar uma crise enorme que ode levar uma conjuntura próxima da de 2013. Se a resultante da luta política for o fim do teto do gasto ou a sua flexibilização, melhor será para o país, mas também para Bolsonaro.

Difícil para Bolsonaro será manter a moderação que foi escolha preferencial dos eleitores. Bolsonaro não vai levar isso em consideração dado o seu ideário político e o seu objetivo de avaliar tudo pelo seu sucesso em 2022 e pela liberdade da família. Esse poderá ser outro ponto de tensão com o Centrão.

Nesse quadro a direita (neo)liberal, pretensamente moderna representada ela grande mídia e pelas viúvas de Moro tenta lançar a alternativa de centro apelando para o que aconteceu nos EUA: o Biden brasileiro por oposição ao Trump brasileiro. Estão decretando para 2022 o fim da polarização com a moderação do centro.

Essa visão é falsa. Joe Biden foi eleito porque teve o apoio da esquerda progressista do Partido Democrata, na qual a maior parte dos expoentes nasceu justamente de lutas contra o racismo e o preconceito. A direita liberal-conservadora que se pretende detentora do direito de representar o centro moderado tem que primeiro descobrir o que dizer ao povo e arrumar um candidato, entre os muitos que ela tem. Ela nunca conseguiu isso. Nunca teve voto para tal. O Centrão nunca lançou um candidato para presidente. Conseguirá Bolsonaro ser este candidato em sua reeleição?

 

Luiz Martins de Melo é professor do Instituto de Economia da UFRJ.

 

ADUR ONLINE é um espaço da base do Sindicato. As opiniões expressas no texto não necessariamente representam a opinião da Diretoria da ADUR-RJ.


Mais Notícias Adur/Andes/Educação

ADUR participa do Consu e informa a categoria sobre negociação com o governo e sobre contraproposta do ANDES

Postado em 06/05/2024

No dia 30 de abril, a ADUR participou da Reunião do Conselho Universitário (Consu) da UFRRJ, representada pela diretora Elisa leia mais


Sindicatos e governo assinam acordo de reajuste dos benefícios dos servidores

Postado em 30/04/2024

Entidades sindicais do serviço público federal e o Ministério da Gestão e Inovação (MGI) assinaram na quinta-feira (25/04) o acordo leia mais


ADUR participa da reunião do Setor das IFES em Brasília

Postado em 15/04/2024

No dia 10 de abril, quarta-feira, aconteceu em Brasília a Reunião do Setor das Instituições Federais de Ensino do ANDES leia mais


Inauguração da Exposição em Memória dos 60 Anos do Golpe Militar na Baixada Fluminense

Postado em 27/03/2024

A Rede de Educação Popular da Baixada Fluminense, em parceria com o Fórum Grita Baixada, Sepe Nova Iguaçu, Centro Cultura leia mais


Entidades sindicais se reúnem com governo para discutir a reestruturação da carreira docente

Postado em 22/03/2024

Aconteceu no dia 15 de março a terceira reunião da Mesa Específica e Temporária dos docentes do magistério superior para leia mais


8M | Protagonismo feminino no sindicato

Postado em 08/03/2024

Hoje, celebramos o Dia Internacional das Mulheres, uma data emblemática que nos convida a refletir sobre as conquistas femininas ao leia mais


Viva Nina Simone!

Postado em 23/02/2024

👑 No mês de fevereiro celebramos o icônico legado de Nina Simone. A cantora nasceu em 1933, no estado da leia mais


Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência | Entrevista com a professora de física Viviane Morcelle

Postado em 11/02/2024

Hoje, 11 de fevereiro, é o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi instituída pela Assembleia leia mais


Reunião conjunta do GTCarreira e GTPE

Postado em 23/11/2023

Acontecerá nesta terça-feira, dia 28 de novembro, às 10h, uma reunião conjunta entre o Grupo de Trabalho Carreira (GTCarreira) e leia mais


Eleições ADUR 2023 | Confira os locais e horários de votação

Postado em 06/11/2023

De acordo com a alteração do calendário eleitoral aprovada pelo Conselho de Representantes da ADUR, as eleições para Diretoria biênio leia mais


demais notícias