Militarização do ensino solapa a LDB, o alvo da vez é a Faetec, marcando o retrocesso do governo Bolsonaro
14 de abril de 2022
Imprensa da ADUR-RJ
No ano de 2016, o dicionário de Oxford, um dos mais proeminentes do mundo, elegeu o termo “pós-verdade” como a palavra do ano. Na época, algumas mudanças geopolíticas em curso, como a eleição de Donald Trump nos EUA, o Brexit no Reino Unido e a recente Primavera Árabe, revelaram que as décadas subsequentes seriam essencialmente caracterizadas, nas discussões sociais e políticas, pelas fake news e pela emoção. Pós-verdade significa informação ou asserção que distorce deliberadamente a verdade, ou algo real, caracterizada pelo forte apelo à emoção.
O Brasil não poderia ficar distante deste fenômeno global. A eleição de Jair Bolsonaro, em 2019, foi notoriamente impulsionada por uma rede de desinformação cujo objetivo era atingir e desacreditar as instituições republicanas. Para além das bravatas neoliberais sobre os rumos da economia que nunca se concretizaram e uma chamada “agenda de costumes” do século 19 (que pouco andou no Congresso), um dos principais alvos de Jair Bolsonaro sempre foi a educação e a cultura. Para o campo do ensino, ele prometeu a militarização das escolas, argumentando que professores são pouco disciplinadores e também comunistas. Para o ensino superior, Bolsonaro falou abertamente, e reiteradas vezes, em uma guerra cultural.
No mundo da pós-verdade, tornou-se comum apontar soluções simples para problemas complexos, e é inegável o papel das redes sociais e da Internet (e seus caracteres limitados e vídeos de 2 minutos) neste processo que, ao invés de universalizar o conhecimento, como alguns (inocentemente) previam, banalizou o ambiente de discussão, principalmente ao transformá-lo em uma terra-sem-lei, à mercê das empresas privadas norte-americanas, e distante da fiscalização do Estado e dos Conselhos da sociedade civil, que perderam espaço político decisório dentro das instituições desde início do governo Bolsonaro . Hoje, o mundo (em especial os países europeus) fala em regulação das redes sociais, embora seja um pouco tarde para mitigar as consequências do que aí está.
O que temos no Brasil, neste momento, é um mergulho profundo no mundo da pós-verdade. O presidente promete a inauguração de escolas militares sob uma falsa premissa que ultrapassa o sentido para a palavra imoralidade. Ao falar em ensino militar, Bolsonaro quer atacar um inimigo que só existe em suas fantasias (mais desvairadas) e de seus eleitores: Paulo Freire, o patrono da educação brasileira. Beira o surrealismo quando precisamos defender o maior educador brasileiro, cujas referências acadêmicas estão nas universidades do mundo inteiro, uma obra consensual há pelo menos 50 anos. Não pode ser visto com normalidade tratar a educação com bravatas e alterações nas bases e concepção de educação pública gratuita e laica.
O objetivo de Bolsonaro é deliberadamente acabar com o pensamento crítico e o questionamento da sociedade burguesa. Em diversas ocasiões ao longo de sua carreira, ele criticou a luta de classes. Não é preciso ir longe para ligar os pontos. O presidente brasileiro quer estudantes em um rebanho obediente e submisso, incapaz de questionar as razões pelas quais, por exemplo, a Petrobras, uma empresa pública e estratégica para o Estado brasileiro, se desfez de seu parque de refino de petróleo, mesmo sabendo o que isso significa para uma economia dependente do transporte rodoviário. Bolsonaro quer enfiar as mãos pelos pés, e que os estudantes batam palmas, aguardando pelo desfecho do número circense. Para isso, ele está disposto a intimidar os professores, cerceando suas posições políticas e impondo uma obediência sem reflexão, para transformá-los em mão de obra servil e submissa.
A perseguição aos acadêmicos , à ciência desde a sua eleição, é notoriamente documentada. Parlamentares bolsonaristas “viralizaram” nas redes sociais, cada vez em maior frequência, vídeos de aulas, tirados de contexto, gravados por alunos que anseiam uma espécie reconhecimento. O objetivo é unicamente causar constrangimento aos profissionais e ganhar seguidores. Não há projeto, não há debate. Cria-se um fato (as escolas militares não têm comunistas), e todos o defendem cegamente, como se o problema da educação brasileira fosse “os comunistas”.
A ADUR-RJ acredita que esse processo de desmonte das instituições do ensino superior público e dos níveis e modalidades do ensino pela Militarização das escolas suscita uma estratégia para calar o pensamento crítico e uma sociedade capaz de se organizar e reivindicar demandas. Nosso sindicato se solidariza com os ataques sofridos pelos profissionais da educação e une forças para denunciar os retrocessos que o país vive. A Adur manifesta ainda solidariedade ao patrono da educação brasileira, vítima de ataques constantes, e reforça a importância de que as instituições de ensino do país estejam alinhadas com o modelo de questionamentos sociais adotado por Paulo Freire.
Há pouco tempo, as universidades sobreviveram ao future-se, o infame programa de Paulo Guedes (calcado em mentiras sobre o ambiente acadêmico) para privatização do ensino superior. Na última semana, a Faetec foi a escolhida da vez (para ser publicamente humilhada) pelo governador do Rio de Janeiro, que segue cegamente à cartilha bolsonarista de poder. Em ano eleitoral, para mostrar comprometimento com o discurso anti-Paulo Freire, ele prometeu a militarização da instituição. Que a sociedade civil seja capaz de rejeitar essa proposta que está configurada nos moldes do golpe militar de 1964 que se instaurou no país com objetivo de censurar toda e qualquer liberdade de expressão na área da Educação e Cultura.
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