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O veto do Masp: contradição entre o papel político da arte e interesses privados 

20 de maio de 2022

Reportagem da Semana da ADUR-RJ

Por Larissa Guedes

 

Sede do Museu de Arte de São Paulo, localizado na Avenida Paulista, centro da cidade. Imagem: Agência Brasil de Comunicação (EBC). 

 

Nesta última semana, tomou conta do debate público a polêmica envolvendo uma decisão tomada pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp). A direção da instituição vetou 6 fotos do acervo histórico do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) que fariam parte da exposição Histórias brasileiras, a ser inaugurada em julho, em referência aos 200 anos da independência do Brasil. 

 

Segundo a nota oficial divulgada no site do museu, as imagens foram retiradas porque não seguiram o cronograma de cadastramento necessário para fazer parte da exposição. No texto, o Masp afirma que seria preciso seguir um prazo de solicitação dos materiais a serem expostos de “no mínimo de 6 meses (para museus brasileiros) e 4 meses (para galerias, coleções particulares e artistas)”.

 

Entretanto, após a divulgação da nota do museu, as curadoras do núcleo temático Retomadas da exposição, responsável pela mostra que teria as imagens do MST, Clarissa Diniz e Sandra Benites (esta última sendo a primeira curadora indígena da história do Masp), se manifestaram denunciando os equívocos e desacordos presentes na decisão do museu e em sua respectiva nota de esclarecimento. 

 

De acordo com as curadoras, o Masp estava exigindo o cumprimento de um cronograma que não havia sequer sido estabelecido em contrato e que seria impossível dentro do prazo que elas começaram a organização do núcleo, até mesmo porque, este prazo era desconhecido por ambas, porque o mesmo não foi comunicado pelo próprio museu. 

 

O núcleo Retomadas, liderado por Diniz e Benites, foi convidado para as primeiras reuniões com a direção do Masp na segunda metade de janeiro de 2022, portanto, depois do prazo determinado pelo museu de solicitação do empréstimo de materiais, que para estar de acordo o que foi dito na referida nota institucional, deveria ter começado em 1º de janeiro de 2022. As curadoras também relataram inúmeras outras falhas de comunicação sobre o cronograma da exposição. 

 

Diniz e Benites contaram que a direção do Masp reconheceu o “equívoco institucional” e que ofereceu como opção divulgar parte do material previamente selecionado, como cartazes e outros documentos históricos do MST, mas sem as imagens que faziam parte da composição do projeto.

 

Para elas, no entanto, aceitar esta proposta e excluir as imagens não permitiria “representar respeitosa e responsavelmente os processos políticos que justificam a proposição e existência” do núcleo Retomadas. E por isso, ambas pediram demissão, encerrando a presença do núcleo na exposição Histórias brasileiras. 

 

Em entrevista para a Imprensa ADUR, André Vilaron, fotógrafo cujo trabalho foi um dos vetados dentre os selecionados pelo núcleo Retomadas, comenta que para “Sandra e Clarissa, que são curadoras muito respeitadas em todo o meio artístico, nacional e internacional, é inaceitável que meses de trabalho, interlocução com artistas e instituições e pesquisas de acervos tenham sido tratados desta forma, pela direção do Masp”.

 

Vilaron conta que as curadoras enviaram uma carta aos artistas participantes do núcleo pedindo desculpas por romper a parceria, mas explicando que decidiram cancelar o projeto porque a exclusão das imagens era algo inegociável, uma vez que elas não aceitariam ser desleais com a história política das lutas envolvidas, como a demarcação de terras indígenas e a reforma agrária.

 

A quem interessa censurar as imagens do MST da exposição? 

 

Uma das imagens que fazia parte da seleção do núcleo Retomadas para compor a exposição “Histórias brasileiras” no Masp. Foto: André Vilaron. Arquivo: site do MST.

 

Ainda no início deste mês de maio, o Masp cancelou o evento de lançamento do livro “Sem Medo do Futuro”, escrito por Guilherme Boulos. A justificativa da instituição foi de que não poderia sediar eventos de caráter político no local. 

 

Com relação a isso, a jornalista e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Fabiana Moraes, publicou um texto no site The Intercept Brasil questionando a incoerência destes posicionamentos recentes da direção do museu. 

 

Moraes cita que o Masp vinha, até então, fazendo um esforço para trazer debates mais plurais para exposições e eventos no local, buscando assumir uma abordagem decolonial. Mas, a partir dos casos ocorridos com o livro de Boulos e posteriormente, com o núcleo Retomadas, a professora aponta as contradições existentes nessa movimentação e critica a superficialidade da postura do museu ao tentar assumir um caráter de isenção quando a temática confronta interesses políticos e econômicos das classes que controlam a própria instituição. 

 

O fotógrafo André Vilaron lembra que o Masp apresentou o projeto da exposição Histórias brasileiras como uma oportunidade de “rever criticamente a história do país”, mas agora, “qual revisão a direção artística do Masp está disposta a fazer?”, contesta ele.

 

Marcha Nacional pela Reforma Agrária em Brasília no ano de 2005. Foto: João Zinclar. Arquivo: site do MST.

 

Vilaron também alega o fato de que o museu só se manifestou através de uma nota oficial após o caso ganhar repercussão pública e mesmo assim não comentou os argumentos sobre o cerceamento do trabalho das curadoras do Retomadas. 

 

“Causa estranhamento que, no âmbito da cultura e da arte, uma instituição como o Masp, que vem se colocando como protagonista de posições críticas à história das representações, tenha um posicionamento que, no mínimo, é pouco transparente, em relação a quais são as críticas e quais os temas que a instituição admite em seus projetos de exposição”, pondera.

 

Agora, como afirma a nota do Masp, Histórias brasileiras permanecerá com data de inauguração prevista para 1º de julho de 2022, com os trabalhos produzidos pelos 7 núcleos restantes. “A exposição Histórias Brasileiras será apresentada no Masp com um corte, incompleta, já que um de seus núcleos curatoriais, o Retomadas, não estará mais presente. Que histórias então são essas que contamos, mas, sobretudo, quais são as histórias que, propositalmente, um museu como o Masp deixa de contar?”, questiona Vilaron. 

 


5º Congresso do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Brasília, no ano de 2007. Foto: João Zinclar. Arquivo: site do MST.

 

O artista considera que a retirada do núcleo Retomadas ainda traz prejuízos evidentes por funcionar, na prática, como um cerceamento de parte relevante do conteúdo da história nacional. 

“Neste contexto, há um enorme prejuízo, do ponto de vista simbólico e de representação, que é justamente o apagamento de parte significativa de nossa história, pela importância da luta pela Reforma Agrária, do MST e dos movimentos e lutas indígenas. E o consequente apagamento da nossa cultura, que será apresentada de forma seletiva e controlada em um museu importante como o Masp”, conclui.


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