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ADUR Online #56: Vá lá, Bolsonaro quer o golpe. Como seria o cardápio?

ADUR Online
30 de agosto de 2021
Por Gilberto Maringoni

Texto originalmente publicado no site Diário do Centro do Mundo

 

Vamos raciocinar na hipótese de que Bolsonaro tenha êxito em dar um golpe de Estado. Como seria? Com que objetivos? Quais os resultados esperados?

A HISTÓRIA ESTÁ COALHADA de exemplos de pronunciamientos e putsches de variados tipos, tapetões institucionais com e sem mudança de regime, com ou contra apoio popular, com e sem confronto armado etc. Nos mais consistentes, há um denominador comum: provocar um rearranjo na sustentação social de quem vai dirigir o Estado. Embora Dilma realizasse com fidelidade comovente o programa ultraliberal dos setores hegemônicos do grande capital – facção conhecida pelo genérico de “Faria Lima” – seu governo ensejava uma composição de classes que criava ruídos no ritmo da aplicação do modelo. Os de baixo ainda tinham algum peso, reduzido, mas tinham.

Daí veio o golpe parlamentar de 2016, que mudou governo, mas não regime. O que significa não ter havido, no essencial, mudança do projeto econômico em curso, mas alteração de ênfases e velocidade de aplicação, naquilo que ficou conhecido como “ponte para o futuro”.

O CENÁRIO PREPARADO PARA AS ELEIÇÕES DE 2018 tinha como libreto a continuidade da rota pelas mãos de quem melhor a aplicou no país, o tucanato velho de guerra. Mas a associação do PSDB com o desastroso governo Temer criou um ambiente inédito para a assunção de um aventureiro de extrema-direita, por fora dos partidos. Bivaques provocados por vivandeiras alvoroçadas e granadeiros sequiosos por boquinhas e mamatas seduziram então a Faria Lima e deu-se o que está dado.

Voltemos à pergunta: com que objetivo Bolsonaro dará um golpe? Em republiquetas oligárquicas, sem burguesia formada e com estruturas de classe muito menos complexas, golpes pelo alto são protagonizados, em geral, pelo senhor de terras que granjeia o maior número de jagunços, impulsionado por interesses no mais das vezes paroquiais, em aliança com sanhas predatórias externos.

EM PAÍSES DE PLENO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA e com estrutura de classes diferenciada, golpes como o pretendido pelo boçal e seus gorilas amestrados visam o que? Privatizar a Eletrobrás e os Correios? Retirar ainda mais o pouco que resta de direitos dos trabalhadores e promover uma matança indígena? Garantir a independência do Banco Central e entregar a base de Alcântara? Ampliar o dinheiroduto para fardados, pastores picaretas e especuladores? Detonar os serviços públicos?

Mas tudo isso não apenas está em curso, como foi aprovado com folgadas maiorias pelo Congresso Nacional e pelo STF, apesar de ruídos como a CPI e algumas deliberações tardias da Suprema Corte barrarem exageros.

O GOLPE DE BOLSONARO NÃO CARREGA UM NOVO PROJETO DE PAÍS, a não ser aprofundar o que é aplicado entre nós desde 2015. O hipotético golpe visa garantir impunidade a ele, a seus filhos, aos milicianos amigos do peito, às quadrilhas militares e do centrão operantes na estrutura do Estado e, obviamente, calar vozes discordantes. É mais ou menos o projeto de sobas latifundiários de republicas de bananas. Trata-se de plano de quem vê seu isolamento aumentar brutalmente e preveja derrota eleitoral no ano que vem.

Para dar esse golpe de fancaria, Bolsonaro não visa ganhar maioria ou mesmo hegemonia na sociedade. Sua manobra tática é a mazorca, a baderna e o caos. É transformar o 7 de setembro num enfrentamento sangrento, em que 50 ou 100 assassinos armados e abrigados em suas hostes se aproveitem de uma confusão artificialmente montada na avenida Paulista ou na Esplanada, em Brasília, para cometer barbaridades. Isso bastaria para o mito alegar que a corda arrebentou, que não tem jeito, que é preciso deflagrar nacionalmente uma operação de Garantia da Lei e da Ordem, que prenda os suspeitos de sempre e instaure o pânico no país. O passo seguinte é decretar que todas as eleições futuras serão fraudadas e que o melhor meio de se evitar o furdunço é cancelar o pleito, o que descomplica tudo.

 

Metas Medíocres

ESSAS METAS MEDÍOCRES são o programa mínimo e máximo que celerados civis e militares têm para hoje. Em 1964, as forças armadas – no tempo da Guerra Fria – tinham um projeto de país, autoritário e elitista, mas tinham. Hoje em dia, alguém com mais de cinco anos de idade avalia que uma ruptura institucional comandada por Bolsonaro, Mourão, Heleno, Braga Netto Ramos e Paulo Sérgio, entre outros, enseje algo mais do que engordar contracheques no fim do mês?

Não é golpe. É terror de chanchada (mas é terror). Tem chances de dar certo? Por um prazo curto, sim. Numa visão de largo espectro, leva à desorganização ainda maior da máquina pública, ao isolamento internacional, à retração de investimentos e à “perca” de grana grossa por parte da turma da Faria Lima. Ou seja, o mesmo arranjo que permite lucros indecentes ao grande capital pode se tornar disfuncional e levar essa malta a se afastar do governo.

A patranha golpista provavelmente teria vida curtíssima, inversamente proporcional ao elevadíssimo custo humano e social nela embutida. Por décadas, no entanto, o Brasil não voltaria a algo que remotamente se possa chamar de “normal”.

O 7 de setembro vai ser o dia da tempestade perfeita? Não se sabe. Bolas de cristal estão em falta no mercado, mas os indicadores para Bolsonaro também não são animadores. Uma cavalgada apoteótica com o führer miliciano programada para o sábado (28), em Bauru, contou com um cano de seu patrono, chuva e alguns gatos pingados de duas e quatro patas. Mas quem tem caneta e grana sempre pode lotar ônibus e contar com arruaceiros para tocar fogo no parquinho.

Evitar provocações é o mínimo que se pode fazer no dia em que D. Pedro I teria estacado às margens do Rubicão, digo do Ipiranga.

 

*Gilberto Maringoni é professor de Relações Internacionais e membro do corpo docente do Programa de pós-graduação em Ciências Humanas e Sociais (PCHS) da Universidade Federal do ABC (UFABC).

*ADUR ONLINE é um espaço aberto aos docentes e pesquisadores da UFRRJ e de outras Universidades também. As opiniões expressas no texto não necessariamente representam a opinião da Diretoria da ADUR-RJ.


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