ADUR Online #16: O que esperar das eleições municipais de 2020?
- ADUR

- 13 de nov. de 2020
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Por Theófilo Rodrigues As eleições municipais de 2020 podem representar um freio ao avanço do projeto político de Jair Bolsonaro. É o que indicam as pesquisas de opinião divulgadas nesses últimos dias que antecedem o primeiro turno das principais capitais do país. Em Porto Alegre, nenhum dos principais candidatos reivindicam Bolsonaro em suas campanhas. Todas as pesquisas apontam a comunista Manuela D´Ávila (PCdoB) na liderança da disputa com cerca de 30% dos votos, seguida pelo atual prefeito Marchezan (PSDB) com algo em torno de 15%. Contudo, na capital gaúcha uma recente reviravolta tirou o ex-prefeito José Fortunati (PTB) da eleição, o que pode gerar uma transferência de votos capaz de levar Sebastião Melo (MDB) ao segundo turno no lugar do tucano. Florianópolis é uma capital em que o jogo certamente terminará já no primeiro turno. Pesquisa IBOPE mostra que Gean Loureiro do DEM tem 58% das intenções de voto, seguido pelo professor Elson (PSOL) com 13%. O bolsonarista Alexander Brasil do PRTB não passa de 1%. Assim como Florianópolis, sua cidade irmã no sul do país, Curitiba, também tem um candidato do DEM na liderança: o atual prefeito Rafael Greca com 46%. Em segundo lugar está o bolsonarista Fernando Francischini do PSL com 8%. Na capital paulista as últimas pesquisas apontaram para um derretimento das intenções de voto no candidato de Bolsonaro, Russomano (PRB). O atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), lidera a disputa, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) assume a segunda posição. Em Belo Horizonte não há fortes emoções. O atual prefeito Alexandre Kalil (PSD) será reeleito já no primeiro turno. Ao menos é o que diz o IBOPE ao lhe posicionar com 63% das intenções de voto. Apesar de ser um candidato conservador, Kalil não é um bolsonarista. Com um cenário bem diferente, a capital do Espírito Santo é uma das poucas em que um candidato petista aparece bem posicionado. De acordo com o IBOPE, o ex-prefeito petista João Coser aparece em primeiro lugar com 26% seguido por Fabrício Gandini do Cidadania com 24%. Trata-se, portanto, de um empate técnico. Os dois candidatos bolsonaristas na disputa, Delegado Pazolini (PRB) e Capitão Assumção (PATRIOTA), aparecem em terceiro e quarto lugar respectivamente. No Rio de Janeiro, é o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) quem lidera todas as pesquisas com cerca de 30%. Já a segunda posição passa por uma disputa acirrada entre o bolsonarista prefeito da cidade Marcelo Crivella (PRB) e as progressistas Marta Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT). No entanto, mesmo que Crivella vá ao segundo turno, isso não significará uma vitória do presidente. Com uma alta rejeição, todos os institutos sugerem que Paes venceria de Crivella. Caso o prefeito não consiga chegar no segundo turno, Bolsonaro já avisou que apoiará Paes. Mas isso não torna o candidato do DEM um bolsonarista. Salvador é outra cidade em que o DEM lidera a corrida eleitoral. Na capital baiana, o candidato à sucessão de ACM Neto é Bruno Reis que deve vencer o primeiro turno com quase 60% dos votos. Major Denice do PT e Olívia Santana do PCdoB aparecem em segundo e em terceiro lugar respectivamente. O candidato de Bolsonaro, Cezar leite (PRTB), está com apenas 2% das intenções de voto. Já em Recife a hegemonia progressista é expressiva. João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos, lidera a disputa. Em segundo lugar aparece Marília Arraes do PT. Isso significa um segundo turno entre duas candidaturas progressistas na capital pernambucana. Belém também é uma capital vermelha. O candidato do PSOL, Edmilson Rodrigues, conseguiu costurar uma ampla chapa de esquerda com PT, PCdoB, REDE e PDT. Essa unidade rara na esquerda faz com que Edmilson lidere a eleição com cerca de 40% das intenções de voto, seguido por Priante (MDB) em segundo lugar. O candidato bolsonarista do PRB, Vavá Martins, aparece longe com menos de 10%. Em Aracaju, o prefeito Edvaldo Nogueira do PDT lidera a disputa com 36% dos votos de acordo com o IBOPE. O segundo lugar é da delegada Danielle Garcia do Cidadania com 21%. A delegada é próxima do ex-ministro Sergio Moro, mas busca agregar os votos dos eleitores bolsonaristas da cidade. Claro, há exceções. Fortaleza é uma das poucas cidades em que Bolsonaro possui um nome competitivo. O candidato bolsonarista Capitão Wagner (PROS) aparece em primeiro lugar na última pesquisa Datafolha com 30%, seguido por Sarto do PDT com 27% e Luizianne Lins do PT com 15%. Outra cidade em situação semelhante é São Luis. Na capital do Maranhão, Bolsonaro tem um respiro com as candidaturas de Eduardo Braide (PODEMOS) com 36% e Duarte Jr (PRB) com 22%. Curiosamente, o candidato do governador Flávio Dino, Rubens Jr (PCdoB), aparece bem atrás na quarta posição da pesquisa IBOPE. Em síntese, as tendências atuais apontam para um cenário com poucos candidatos bolsonaristas no segundo turno das principais capitais do país. O DEM do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, deve ser o principal vitorioso nesse primeiro turno com as eleições em Florianópolis, Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro. Ao presidente da República caberá operar um giro em direção ao centro do espectro político em busca de novos candidatos. Mas a tarefa não será fácil. Afinal, o mundo da política já percebeu que a proximidade de Bolsonaro hoje representa um toque de Midas invertido. Um verdadeiro toque de Sadim. Theófilo Rodrigues é cientista político, pesquisador de pós-doutorado no PPCIS/UERJ. ADUR ONLINE é um espaço da base do Sindicato. As opiniões expressas no texto não necessariamente representam a opinião da Diretoria da ADUR-RJ.


