ADUR Online #70: Docência Negra da UFRRJ: rotas e insurgências
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- 28 de mar. de 2022
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ADUR Online #7028 de março de 2022Por Fernanda Felisberto¹
Antes de iniciar o período pandêmico várias vezes provocava meus estudantes, nas aulas de Literatura Brasileira no IM, ou nas reuniões do grupo PET Conexões em relação ao filme “Estrelas Além do tempo”², que contava a história de três cientista afro-americanas fundamentais para NASA, mas que precisavam andar quase que um quilometro para ir ao banheiro ou beber água, devido ao processo de segregação racial na primeira década do Século XX nos Estados Unidos. O sentimento comigo se aproximava muito das protagonistas nas dependências do IM, não pela segregação racial mas pela precarização da estrutura, ter que andar por dois andares em busca de um banheiro, um bebedor funcionando, a impossibilidade de usar o restaurante universitário, coloca em evidência como bravamente estamos produzindo ciência, e sempre com muita qualidade, mesmo diante dos obstáculos que uma universidade centenária, que sempre ocupou um lugar de respeito na minha nas minhas lembranças, e hoje é minha casa e motivo do meu orgulho. A primeira vez que eu ouvi falar da Rural data da minha pré-adolecência , lá pelos meados da década de 80 e são puxadas por uma mulher negra, Maria Amélia da Rocha, minha vizinha da vila que eu morava, no bairro do Pechincha, em Jacarepaguá, zona oeste da cidade do Rio, eu uma menina entrando na adolescência, já com as minhas inspirações na vizinhança, achava mágico ver minha vizinha chegar toda sexta-feira da faculdade, e voltar domingo a tarde, ela fazia algo tão distante e grandioso Engenharia Florestal, e ainda dormia longe de casa a semana toda, para completara tinham semanas que vinha com outra amiga negra Vania Cardoso que ainda fazia Economia, eu ficava hipnotizada escutando as histórias das aulas, que emendavam nas festas, no alojamento, tudo muito mágico e distante, num lugar chamado Seropédica, eu não me cansava de escutar sempre as mesmas histórias, e entendo que ali era um lugar para mulheres negras estudar, era incrível. Mais tarde no início da década de 90, já na universidade e integrando o movimento estudantil, chamado SENUN – Seminário Nacional de Universitários Negros, a mãe de uma amiga, outra professara negra, igualmente acionou de novo minha memória, era professora da Rural, Caetana Damaceno, e pude ver a rede de afeto que se formava ao seu entorno, e ela era não só professora, mas agência de fomento de parte de seus estudantes, fortalecendo o acadêmico, e o espírito também. Fazendo um salto temporal vamos para o ano de 2014, e marca minha entrada como efetiva para esta instituição que não era desconhecida para mim, e assim como eu tinha na memórias mulheres negras antes de entrar na Rural, fui refazendo este caminho dentro do IM, e descobrindo outras tantas espalhadas em todos os outros campi, e pensando nisso me reuni com uma parte desta rede, um grupo de professoras negras durante a pandemia entre elas Geni Guimarães, professora de geografia do CTUR-UFRRJ, Viviane Antunes, professora de Espanhol do departamento de Letras do IM, além do Jonas Alves professor do departamento de Educação do IM, Luiz Fernandes do Departamento da Educação do Campo de Seropédica e criamos o ciclo de palestras “Docência Negra da UFRRJ: rotas e insurgências”³, que tinha como objetivo evidenciar as docentes e docentes negros e negras da instituição, todos os vídeos estão disponíveis no Canal da Proaes, na plataformas Yotube. Ficamos de agosto a novembro de 2021, criando no imaginário de algumas alunas e alunos, que por força da pandemia nunca haviam pisado na universidade, para que pudessem conhecer as singularidades da trajetórias, docentes, não deu para entrar todo mundo, mas este ano terá mais. E deste lugar quero pode acessar a memória dos meus estudantes, que apesar de todas as adversidades de disputas de narrativas existe um quilombo acadêmico e afetivo dentro da Rural, e vem de longe!!! ¹ Doutora em Literatura Comparada pela UERJ, Professora Adjunta do Departamento de Letras da UFRRJ-IM, Campus Nova Iguaçu e Tutora do PET Conexões Baixada. ² https://www.youtube.com/watch?v=wx3PVtrU-Os ³ https://cursos.ufrrj.br/grad/letrasni/docencia-negra-da-ufrrj-rotas-e-insurgencias/ *ADUR ONLINE é um espaço aberto aos docentes e pesquisadores da UFRRJ e de outras Universidades também. As opiniões expressas no texto não necessariamente representam a opinião da Diretoria da ADUR-RJ.



